cartas para Elizabeth.

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Antes do jantar na casa de Anne - ou Spout como você sempre se refere apenas pelo sobrenome -, ela tinha me dito que tivera um sonho que tinha um tem de premonição. Nesse sonho mostrava a consequência das minhas escolhas, mas ela já sabia que eu seguiria apenas um dos caminhos mostrados.

Nesse sonho, ela me contou que na parte onde eu escolhia apenas me afastar, eu teria uma alma morta mesmo estando vivo porque me sentiria sentimentalmente incompleto e que teria falhado na melhor coisa que poderia fazer na minha vida. Na outra opção eu te ajudaria, mas não estaria realmente /com você/. Na última opção, eu sempre estaria ali, não importando as dificuldades de sacrifícios, e mesmo com o sofrimento, era o que eu queria e precisava fazer, era uma escolha "autêntica" como diz nos livros que você sempre lê.

Anne comentou que a única opção que realmente parecia real era a última, que todas as outras duas "opções" não se pareciam comigo. Então eu lhe disse que aquelas opções nunca tinham sido realmente uma coisa para se escolher, não era eu. Eram só duas possibilidades impossíveis. Na última, eu não considerei de fato que teríamos sofrimentos, afinal, eu sofreria muito mais se simplesmente não estivesse presente.

A vida é algo estranho, querendo ou não. A única certeza é a morte, e mesmo assim as pessoas a tratam como se fosse um castigo. Não consigo ver a morte como um castigo em vários momentos. Você sabe a teoria em que acredito. A morte é apenas o final de uma realidade que estamos acostumados, mas a sociedade cria pessoas tão inseguras que elas têm medo de viver para tentar evitar a única certeza que podem ter e acabam não vivendo de forma alguma. Eu decidi não fazer escolhas de acordo com o que me manteria vivo por mais tempo, porque negar as oportunidades que a vida te apresenta apenas para respirar por mais dias não é viver.

Anne disse já saber o que eu decidiria, então me ofereceu ajuda de forma espiritual, e foi o que aceitei. Você soube na reunião que ela é medium e pode ir para os outros universos em alguns momentos para ajudar. Pedi para que se eu estivesse nesse outro universo, ela me ajudasse dependendo da situação. Então foi assim que fizemos o nosso pacto. Fico feliz de ter encontrado uma amiga como ela em Paris, sinto como se fosse de absoluta ajuda para eu entender melhor o equilíbrio entre alma e essência.

O que quero dizer, Elizabeth, é que não escolhi uma série de coisas apenas por você, que me sacrifiquei e que você deve fazer o mesmo por mim. As escolhas que fiz foram pensando em mim mesmo e no que eu queria fazer. Se está lendo isso então é porque algo deu errado como no sonho de Anne, então apenas lhe peço, não se culpe.





Sinto que poderia escrever milhares de crônicas, peças e músicas sobre você. Principalmente sobre a forma em que não parece tentar me impressionar nem um pouco. Tudo o que você faz parece me mostrar que você aproveita a própria companhia antes mesmo de aproveitar a minha presença. Talvez seja por isso que eu seja tão encantado por você, Elizabeth.

Não sei como começar a explicar como me sinto quando vejo a minha imagem sendo desenhada por você em uma tela. É como se eu fosse algum tipo de arte e eu sinto um sentimento bom de aperto no peito. Talvez isso seja amor. Nunca senti isso antes. Eu amo muito a minha família, mas ainda são amores diferentes. Às vezes me pego sorrindo para o nada porque lembro o quanto de amor já conheci. Conheci o amor dos meus pais, da minha irmã, o amor próprio, o dos meus amigos e o seu.

IMPURE • Shawn Mendes [em revisão]Where stories live. Discover now