20.

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Eu olhei em volta tentando pensar no que usar para afastar as cobras do corpo de Joanna. Antes que pudesse fazer alguma coisa escutei um estalo muito alto, quase como uma explosão e pessoas gritando. A lanterna explodiu, mas não queimou a minha mão, já que joguei nas cobras assim que o fogo começou. 

  As cobras começaram a pegar fogo, mas elas não queimavam. 

  Sinceramente, desisti de tentar entender como algumas coisas funcionam e simplesmente lidar com elas. Como cobras que não queimavam.

  Abaixei-me e comecei a puxar o corpo de Joanna pelos tornozelos, mesmo estando bem pesada pela quantidade de cobras enroladas em seu corpo. Quando finalmente a tirei da pilha de corpos, o fogo se espalhou queimando a pilha e iluminando tudo. As chamas no corpo de Joanna estavam mais fracas. Continuei puxando, tropecei algumas vezes já que andava de costas. Eu não via ninguém, apenas focava em levar o corpo dela de volta - pelo menos parcialmente - para que os seus pais fizessem a cerimonia que julgassem apropriada. 

  Tinha um zumbido forte em volta de todo o lugar. Escutei barulho como coisas grossas se partindo. Continuei puxando Joanna. Eu não sentia a minha pele ou qualquer coisa. Deduzi que estava em estado de choque. 

  - Srta. Way. - Escutei uma voz masculina me chamando, só então olhei em volta.

  Todos os estudantes estavam no pátio, fora de suas torres. Quase todos de pijama, enrolados em cobertas e seguravam velas. Eles olhavam para mim assustados.

  - Srta. Way. - O Monsenhor me chamou novamente. - Me acompanhe por favor. 

  Minha cabeça estava girando mais rápido do que liquidificador. 

  Sjunde estava ao lado do Monsenhor com um robe de cetim marrom e um sorriso satisfeito. 

  - Hm... o corpo de Joanna... os pais dela merecem saber o que aconteceu com ela. - Falei como se estivesse em transe.

  O Monsenhor ainda me olhava sem expressão. Ele não parecia nem um pouco abalado. 

  - Me acompanhe. - Repetiu.

  - Você está entendendo que esse é o corpo de uma pessoa morta? - Perguntei já começando a me irritar. Ele continuou sem expressão.

  - Entendo, srta. Way. Angelo cuidará disso. Agora, me acompanhe. 

  Quando olhei novamente para o corpo, as cobras já não estavam mais lá e o estado do corpo dela estava pior: tinham pedaços da carne faltando onde as cobras tinham mordido e a pele que tinha sobrado começava a ficar roxa. Os buracos nos olhos, ao invés de vermelho pelo sangue, agora estavam pretos. 

  Me forçando muito para seguir o Monsenhor e Sjunde que estava caminhando junto a ele. Entrei no castelo atrás deles. O Monsenhor segurava um lampião com uma vela acesa, o que era a única fonte de luz no momento.

  Andamos todo o caminho em silêncio. Os sons dos passos pareciam mais altos do que deveriam. Chegamos na porta da sua sala e ele a destrancou me dando passagem e Sjunde entrou logo atrás de mim. Entrei em silêncio e sentei na cadeira. O Monsenhor sentou na minha frente, do outro lado da mesa e me observou atentamente antes de falar alguma coisa. Sjunde estava passeando pela sala observando os móveis como se fossem as coisas mais interessantes e como se não estivesse tão escuro.

  - A senhorita quebrou as regras do Instituto novamente. - Continuei em silêncio olhando para o seu rosto tem expressão.

  - Como você pode parecer mais preocupado com o meu mau comportamento do que com o corpo de uma adolescente mutilado? - Ele sorriu. Eu não acredito que ele sorriu.

IMPURE • Shawn Mendes [em revisão]Where stories live. Discover now