14.

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Eu estava parada, olhando aquela cena e vendo todo o desespero da garota com o corpo da colega sem vida em seus braços. Senti que me puxaram ainda sem tirar os olhos daquilo e vi que a enfermeira chegou com dois homens que não me preocupei em ver quem eram. A enfermeira afastou a garota que se desesperava para que os homens colocassem o corpo da garota sem vida em uma maca de tecido branca.

Quando o corpo foi colocado ali ainda saia sangue dos braços dela, mesmo estando morta. Acompanhei os homens levando-a desaparecendo pelas escadas. Senti mãos frias em meus ombros e olhei para o lado. Joanna me oferecia um sorriso confortante, mas não correspondi.

Tudo em minha volta tinha silenciado e o ar parecia mais frio e pesado. Eu queria desaparecer daquele lugar, queria voltar para a minha vida de roupas caras, sexo e dinheiro roubado. Eu não queria estar presa naquele inferno.

Eu sei que a maioria veria aquilo como suicídio, mas estavam enganados. Aqueles cortes não foram feitos por ela, foram feitos pelo seu assassino. Provavelmente nem fariam uma autópsia para saberem o real motivo da morte.

- Vamos para o nosso quarto, Lizzie. - Joanna falou baixo e tranquila.

Olhei-a desconfiada.

- Você está muito calma.

- Não podemos fazer nada sobre isso. - Analisei o seu rosto tranquilo.

- O que aconteceu enquanto você esteve desaparecida? Sabe que não comprei essa história de não se lembrar.

E com isso, ela não estava tranquila mais.

- Eu só estou tentando te ajudar, Lizzie. Se não quer ajuda era só dizer, não precisava me atacar. - Tirou as mãos dos meus ombros. - Vou ver como Luane está.

A vi desaparecendo no corredor. Eu não queria ficar presa em um quarto agora. Desci as escadas da torre. Eu não sabia exatamente para onde ia, só queria andar.

Estava começando a escurecer e daqui a pouco daria a hora do jantar. Senti o vento frio do pátio e me abracei. Vi o grande castelo onde tinham as aulas. Tinham tantos andares e eu talvez só tivesse ido até a metade deles. Decidi ir nos outros andares.

Cruzei com algumas pessoas no caminho, mas o quanto mais eu subia os andares, menos pessoas tinham ali. Cheguei no penúltimo andar e estava completamente deserto e com todas as portas trancadas. Eu deveria ter trazido os meus grampos. Em um canto escuro daquele andar tinha uma escada de pedras um pouco irregular e estreita.

Subi ali e era tão frio quanto era do lado de fora do castelo. O curto corredor estreito era completamente escuro. Tateei a parede tentando achar o interruptor, mas não tinha nada, apenas pedras tão geladas quanto gelo. Acabei tocando uma porta de ferro e tentei abri-la, mas também estava trancada. Passei o dedo pela fechadura, parecia uma das antigas, apenas uma vez arrombei uma porta como aquela. Consegui parar as lembranças antes que elas me acertassem com toda a sua força.

Eu não quero lembrar daquela época. Eu não vou lembrar daquela época.

Virei as costas saindo de lá e comecei a descer as escadas. Quando eu já tinha descido dois andares escutei passos atrás de mim. Olhei para trás e não vi nada. Desci segurando firmemente no corrimão. Não quero cair da escada e ficar dias desacordada de novo.

Eu já tinha chegado no térreo e ia para o refeitório quando escutei chamarem o meu nome. Olhei para trás e vi Shawn correndo até mim. O seu olhar preocupado se manteve até chegar próximo.

- Está machucada? Aconteceu algo com você? - Perguntou rápido e dava para notar que ele estava fazendo esforço para não encostar em mim na frente de todo mundo.

IMPURE • Shawn Mendes [em revisão]Where stories live. Discover now