one

16.5K 1K 246
                                    

"Acredito que as coisas quebradas tem uma certa beleza triste

Oops! This image does not follow our content guidelines. To continue publishing, please remove it or upload a different image.

"Acredito que as coisas quebradas tem uma certa beleza triste." Anne With An e

Seis anos atrás

New York

Era inverno, eu não precisava estar devidamente acordada para saber que lá fora nevava, a janela estava meio aberta e o vento frio que passava por ela conseguia me atingir mesmo que eu estivesse completamente protegida por cobertores.

Franzi o cenho ao abrir os olhos e perceber que a luz do quarto estava acesa, era dia, não tinha necessidade de uma luz acesa às 07:40 da manhã.
Levantei devagar, me sentando na cama e olhando para baixo, mais especificamente para minhas meias azuis com estampa de bolinhas brancas, finalmente criando coragem, fui até a janela e a fechei sentindo o ar gelado da manhã me atingir ao fazê-lo.

Me virei e contive o grito, pondo a mão na boca ao enxergá-lo sentado na cadeira perto da penteadeira, do outro lado do quarto. Suspirei audivelmente, chamando sua atenção que estava presa ao celular, virou-se em minha direção e sorriu abertamente, como se tivesse visto a própria Jennifer Lawrence no tapete vermelho, e não uma Emma totalmente descabelada e meio mal humorada acordando.

- Você não pode entrar no meu quarto assim, Blake. Nem são 09 horas da manhã ainda e você já está aqui. - disse indo em sua direção e pegando a escova que estava sobre a penteadeira atrás dele.

– Desculpe se eu só estou tentando ser um bom amigo e vim aqui te convidar pra dar uma volta e aproveitar o dia.  – disse sorrindo de lado, apoiando a mão no queixo e me observando arrumar a cama.

– Uhun, me espera na sala, tá? – disse me sentando na cama recém arrumada, o olhando com impaciência evidente.

– Apareça em dez minutos, por favor. – ele levantou e veio até mim, me dando um beijo no topo da cabeça como sempre fazia, e sorrindo antes de sair pela porta e me deixar sozinha.

Me dirigi lentamente até o banheiro, e gastei os meus dez minutos impostos apenas lá dentro, me arrastando preguiçosamente para fora do quarto quando terminei de me vestir completamente, desci as escadas na velocidade de uma tartaruga apostando corrida e avistei Noah, mamãe e Lily sentandos à mesa.

Lily era filha do meu padrasto que veio morar conosco quase dois anos depois que meus pais se divorciaram, sendo assim, minha meia irmã mais velha.

Ela era inacreditávelmente linda, tinha os olhos castanhos esverdeados e cabelos claros, era uma garota simpática e nunca foi difícil para nós nos relacionarmos.

Papai foi para Londres depois da separação, mora sozinho e vem me visitar raramente por conta do trabalho.

Pra compensar, sempre passo minhas férias com ele. Lily nunca aceitou meus convites para viajar comigo até a casa dele, alegando não se sentir confortável, apesar de papai mostrar simpatia em relação a ela sempre que vem aqui.

Sentei ao lado de Noah, que estava de frente para Lily que conversava animadamente com mamãe sobre sua festa de 18 anos. Lily ama festas, de qualquer tipo, aniversários, casamentos, Natal, Ano Novo ou uma festa dada sem qualquer motivo. Ela estava em quase todas as festas que aconteciam por aqui.

Vinha planejando sua própria festa de aniversário desde o fim do ano passado, e agora que a data se aproximava não se falava em outra coisa nesta casa a não ser sua incrível festa, faria questão de estar aqui no início da festa, mas diferente dela, eu não gostava muito de festas. Então, provavelmente iria inventar uma boa desculpa para ficar em qualquer lugar longe de todo aquele barulho pelo resto da noite.

– Vocês vão sair de novo? – Lily se dirigiu a nós, especificamente a Noah, que a olhou e afirmou.

– Sim, quer vir conosco? – perguntou.

– Não, não. Eu estou um pouco ocupada ainda, tenho algumas coisas pra organizar sobre a festa. – disse

– Achei que já estava tudo pronto. – mamãe se pronunciou e ela a olhou por longos segundos.

– Será uma grande festa, mamãe, preciso organizar todos os pequenos detalhes para que tudo seja perfeito. – na maioria das vezes em que se referia a minha mãe desta forma, ela parecia incrivelmente cínica.

– Tudo bem então, eu preciso ir trabalhar, até mais crianças, cuidado. – ela veio até mim e me deu um beijo no rosto, fazendo o mesmo com Noah e Lily.

– Vamos, Emma? – perguntou Noah quando eu terminei de tomar café, assenti e corri para a pia, indo lavar as mãos.

– Dois minutos, já volto! – subi as escadas e fui para o meu quarto, escovei os dentes e peguei minha bolsa e uma jaqueta. Me olhei no espelho e desci apressada.

Dias atuais

Londres

- Emma, pode vir aqui? - Becky chamou minha atenção e eu tirei os olhos do notebook para olhá-la, que apenas sinalizou para que eu fosse até sua mesa, me levantei e puxei uma cadeira vazia para sentar ao seu lado.

- O que aconteceu? - Indaguei chegando mais pra perto para poder ver o que ela estava lendo numa revista.

– Viu essa confusão entre esses atores? Daquela série... aquela que eu acho que você assiste, ou assistia, sei lá. – peguei a revista de suas mãos e li a notícia.

Era sobre os atores de uma série chamda Secrets, uma série com enredo péssimo, diga-se de passagem.

– Eu nunca assisti essa série. Mas, o que tem isso? – perguntei esticando as pernas para baixo da mesa preguiçosamente.

– Nada, só queria saber se tá tudo bem. Você tá tão pensativa... – sorri e balancei a cabeça.

– Só estava lendo uma matéria, tá tudo bem. Era só isso? – eu não tinha muita paciência para me explicar, evitava falar muito sobre certas coisas para não me irritar e acabar sendo mal educada com quem não merece.

- Sim, só isso. Já terminou aquele artigo que o chefe pediu? - perguntou  alto, enquanto eu voltava para o meu lugar.

– Quase. – respondi simplesmente, depois disso, ela ficou em silêncio novamente.

Era por volta das 17:45 da tarde quando eu saí do trabalho, estava exausta mas precisava ir no curso buscar o resultado de uma prova que havia feito na semana passada. Cheguei minutos depois, entrei na sala dela, e informei o que queria, ela não era um mulher ruim, apenas rígida demais. Exigente com tudo que fazíamos, gostava da ideia de nós fazer fotógrafos de verdade, mesmo que soubesse que eu não estava ali para me tornar uma fotógrafa profissional.

Eu sou feliz no meu trabalho, estou aqui apenas para aprender algo novo, para ocupar meu tempo. Se eu não tivesse tempo para pensar na vida, ela passaria mais rápido.

Quando ela me entregou o resultado, tinha um sorriso no rosto, e aquilo me preocupou bastante. Saí antes que ela pudesse me bombardear com informações nada agradáveis para minha sanidade mental.

Estava passando pelas ruas movimentadas quando vi uma senhora vendendo flores, eram rosas brancas e vermelhas, tulipas e alguns girassóis.

Em outra época, eu teria comprado uma daquelas flores para mim, apenas por gostar demais do seu perfume e aparência, mas hoje não mais.

Aprendi que não vale a pena gastar tempo, ou dinheiro, com algo que não tem futuro.

A flor iria morrer em pouco tempo, e a alegria que ela me proporcionaria seria momentânea, eu aprendi a apreciar as coisas que duram. Mesmo não tendo muita experiência com isso.

***

• twitter: @htulipsz
• Instagram: @htulipsz

BROKEN Where stories live. Discover now