seventeen

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"Eles dizem que o amor é doloroso, bem querida, vamos nos machucar essa noite."

Eu não precisava olhá-lo nos olhos naquele instante muito menos fazer-lhe pergunta alguma sobre como ele estava, eu conseguia ouvir o som que seus sapatos produziam cada vez que seu pé tocava o chão com certa urgência

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Eu não precisava olhá-lo nos olhos naquele instante muito menos fazer-lhe pergunta alguma sobre como ele estava, eu conseguia ouvir o som que seus sapatos produziam cada vez que seu pé tocava o chão com certa urgência.

Sua perna estava balançando sem parar por debaixo da mesa, enquanto nós aguardávamos nossos pedidos.

Ele estava tão nervoso.

Eu conseguia sentir daqui toda a sua tensão, e conseguia perceber pelo canto do olho cada vez que ele abria a boca para tentar iniciar um diálogo, mas desistia em seguida.

Eu estava realmente tentando ser agradável, não tocar em assuntos delicados ou falar coisas erradas, mas era complicado não pensar nos assuntos delicados com toda essa tensão presente no ar.

O garçom voltou, e tentou manter a expressão neutra. Eram apenas duas pessoas sentadas numa mesa de restaurante que não conseguiam iniciar um diálogo.

Nada incomum.

–– Achei que você fosse vegetariana. –– comentou rindo, eu decidi aos 16 anos que seria vegetariana depois de escrever uma redação na escola sobre como os animais eram tratados nos matadouros; atualmente eu ainda me importo e me comovo com isso de todo o coração, mas voltei a comer carne.

–– Eu sou! 25% vegetariana, ainda deixo de comprar algumas coisas e comida que vem dos animais. –– me defendi.

–– Mas continua comendo eles sem culpa. –– apontou, parecendo despreocupado.

–– Pelo menos eu tentei, já você passou a vida inteira patrocinando essa prática. –– ele riu, e levantou as mãos como se estivesse assumindo a culpa.

–– Você tem razão. –– ele disse.

–– Eu sempre tenho. –– cortei-o e ele me olhou feio.

–– Mas, em minha defesa eu também tentei ser vegetariano. Uma pena não ter dado certo, pelo menos eu não maltrato os animais. –– tentou se defender.

–– Tem razão, você só come eles.

–– Aqui temos um real exemplo da expressão o sujo falando do mal lavado. –– sorri abertamente e concordei.

–– Vermelho é oficialmente a sua cor, você está linda. – eu estava usando um vestido simples e justo que ia quase até o joelho, na cor vermelha.

–– Ah, obrigada. Você também não parece muito mal, essa é aquela camisa que o seu pai usou no primeiro encontro com a sua mãe? –– ele gargalhou, e eu não pude evitar rir junto.

Noah era absurdamente lindo, o tipo de beleza de tirar o fôlego. Que tira sua concentração e te faz pensar que nunca está a altura, mesmo que ele esteja de pijama.

Diferente de Arthur, completamente o oposto. A beleza de Arthur é natural, te faz lembrar de uma música com letra leve e uma melodia contagiante.

Num livro de romance adolescente, Noah seria algo como um bad boy carinhoso que conquista o coração de todas e Arthur o mocinho romântico que faz todas suspirarem mas sempre acaba na friendzone.

–– Como você sabe? Ah, você estava lá. –– debochou e eu fingi uma expressão ofendida.

–– Sim, inclusive eu escrevi uma matéria impecável sobre encontros que acabaram em tragédias depois do casamento. –– comentei, enquanto terminava de comer.

–– Tragédias tipo, morte ou separação? –– questionou, inocente.

–– Não, filhos.

–– Está insinuando que meu nascimento foi um erro? –– indagou sério, e eu tentei não rir

–– Palavras suas, eu não disse nada. –– era relaxante perceber que o clima havia suavizado, eu sentia que poderia facilmente falar algo errado a qualquer momento.

Nós acabamos o jantar cerca de 45 minutos depois, a conversa fluiu por caminhos floridos. Nada de passado conturbado ou mágoas quase superadas, graças a Deus.

–– Quer que eu te leve em casa? –– perguntou quando nós já estávamos fora do restaurante, indo para o estacionamento.

–– Não se preocupe, eu vim com meu carro. –– girei as chaves no dedo e ele sorriu.

–– Você cresceu mesmo. –– ele parecia um irmão mais velho, todo orgulhoso.

–– Tirei habilitação e tudo. –– sorri.

–– Posso pedir uma coisa? –– seus olhos denunciavam nervosismo outra vez, e era a segunda vez em meio minuto que ele passava a mão pelo cabelo, bagunçando-o.

–– Pode. –– respondi me sentindo contagiada pelo seu estado nervoso,
ele hesitou muito antes de finalmente falar.

–– Dirija com cuidado, está tarde. Boa noite, honey bun. –– algo me dizia que não era isso que ele tinha a me falar. Me despedi e notei ele me observando até que eu desse partida e saísse do estacionamento.

***

–– Parece que alguém está aproveitando bem o fim de semana. –– comentei, quando vi Arthur parado em frente a porta do seu apartamento terminando de colocar algumas latas vazias de tinta para fora. Suas roupas estavam manchadas, indicando que ele havia pintado o cômodo.

–– Não mais que você. –– ele sorriu, e eu pensei que aquele sorriso poderia parar uma guerra e fazer um assassino desistir de matar.

–– Eu estava pensando naquele acampamento que você disse que iria me levar, desistiu? –– me aproximei dele, e me encostei na parede analisando melhor seus traços expressivos e delicados.

–– Foi cancelado, as chuvas destruíram muita coisa por lá e não vai dar pra abrir esse ano.

–– Poxa, eu estava tão animada. É uma pena. –– ele riu e me analisou calmamente, Deus, como ele podia me olhar assim?

–– Você é realmente adorável, Hall. –– sorri, e me aproximei tranquilamente até não sobrar mais espaço entre nós. O olhei profundamente nos olhos por um longo tempo, admirando; enquanto ele fazia o mesmo.

Quando eu olhava em seus olhos, conseguia imaginar as diversas maneiras que ele tinha de ferrar com a minha vida, e eu nunca gostei tanto do que vi.

Beijei seu rosto e desejei boa noite.

–– Você ainda vai acabar comigo.

* * *

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