nineteen

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leiam os avisos finais, por favor.

Eu me lembro da última vez que Noah me tocou com afeto, provavelmente ainda consigo sentir o formigamento quando seus dedos tocavam minha pele

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Eu me lembro da última vez que Noah me tocou com afeto, provavelmente ainda consigo sentir o formigamento quando seus dedos tocavam minha pele.

Consigo sentir como se fosse hoje.

Eu adorava a forma como ele me fazia sorrir do nada, tirava meus pés do chão. Suas palavras causaram um dano irreversível ao meu coração, todas elas.

Cada eu te amo sincero ainda se faz ouvir nos momentos de tristeza, nas horas em que eu sinto saudade da doce ilusão de que o futuro me reservava um bom lugar ao seu lado.

Deus, nosso amor foi perigoso.

E errado, absurdamente errado.

Foi mais um dos casos de amigos que não souberam administrar uma amizade profunda e acabaram confundindo as coisas, tornando tudo pior. Esse foi o nosso caso, era só amizade e a gente se deixou levar. O que nos trouxe um destino perigoso para ambos, principalmente para mim. Se bem que, carregar o peso de trair sua melhor amiga também não deve ter sido fácil.

–– Emma, já concluiu a sua matéria? –– Becky estava ao meu lado, com as mãos apoiadas no rosto completamente focada em terminar seu artigo.

–– Quase lá, mas só vou conseguir finalizar amanhã. Está quase na hora de ir embora, não é? –– ela assentiu, se dando conta de que já passava das 15h da tarde e isso significava que estaríamos livres daqui a uma hora mais ou menos.

–– Fiquei tão entretida aqui que esqueci da hora. Posso te fazer uma pergunta? –– demorei um pouco até concordar, mas o fiz.

–– Aquele ali na porta não é o... Noah? –– virei meu rosto rapidamente, quase me desequilibrando na cadeira. Vi seu rosto por cima das inúmeras cabeças sentadas ali, buscando algo com o olhar, ou alguém.

E, assim que me viu, ele acenou confirmando que era mesmo comigo que queria falar.

Com quem mais seria?

Me levantei devagar, entorpecida.
Surpresa demais para reagir da forma que eu me sentia assim que parei a sua frente, o encarando e tentando fazê-lo responder minha pergunta silenciosa.

O que está fazendo aqui?

–– Desculpe não ter avisado que viria, achei que fosse uma boa ideia fazer uma... surpresa. Você já vai sair? –– questionou, ainda se desculpando silenciosamente. A julgar pela sua expressão, minha cara não era das melhores.

–– Não gosto de surpresas, Noah. –– tentei não soar irritada, não queria parecer ranzinza. –– Mas sim, eu já estou saindo. Onde quer ir?

–– No bar aqui perto, pode ser? –– tentei sorrir, para amenizar o clima.

–– Pode, vá na frente. Te encontro lá assim que eu sair. –– ele assentiu e ia falar outra vez, não fosse por Becky.

–– Em, desculpe; pode vir aqui me ajudar? É urgente. –– era Chris, eu assenti e me dirigi a Noah.

–– Claro, até daqui a pouco Noah. –– ele acenou e saiu.

* * *

O avistei sentado embaixo de um ventilador velho, que parecia realmente que estava prestes a cair.
Me olhou segundos depois de eu o ter visto e sorriu, acenei e fui em sua direção.

Caminhando a passos rápidos e ignorando as pessoas ao redor, ele indicou uma mesa longe do ventilador assassino e eu agradeci mentalmente pelo livramento.

–– A julgar pela sua cara quando me viu, achei que não fosse vir. –– ele disse, enquanto olhava distraidamente o menu a procura de uma bebida para não ter que me olhar.

Chamou um garçom e fez nosso pedido.

–– Eu fiquei surpresa, de verdade.

–– Você é jornalista, achei que poucas coisas te deixassem surpresa.

–– Ah, eu também pensava assim. –– ele me olhou rapidamente, com algo significativo brilhando em sua íris castanha e depois desviou.

–– Enfim, eu não vim aqui atoa. É só que... Bom, você sabe. –– franzi o cenho, confusa.

–– Sei o quê?

–– Seu aniversário. É daqui a dois dias, certo? –– assenti, me dando conta de que a data estava mesmo próxima.

–– Sim, é verdade. –– o garçom chegou com as bebidas, atraindo nossa atenção por segundos e depois saiu.

–– Eu vou precisar viajar a trabalho. Não vou estar aqui, infelizmente; mas trouxe seu presente. Se você quiser, claro.

–– Bom, já que você comprou... –– sorri, esperta e ele buscou algo dentro da pasta que carregava consigo.

Tirou de lá um embrulho azul bebê e me entregou, os olhos faiscando em expectativa. Mas eu apenas agradeci e repousei-o sobre a mesa.

–– Ok, algum problema? –– questionou preocupado e a forma como sua perna balançava fazia a mesa tremer levemente.

–– Nenhum, só não vou abrir agora.

–– Por que? Não gostou?

–– Eu nem abri, Noah.

–– Então abra!

–– Não.

–– Por que não?

–– Porque eu quero abrir em casa! –– revirei os olhos impacientemente, e pus a mão em sua perna por baixo da mesa, fazendo-a parar de balançar.

––Eu vou viajar daqui a pouco. Como vou saber se você gostou? Preciso ir embora, Emma. –– tentei não demonstrar meu divertimento diante do seu nervosismo e apenas dei de ombros.

–– Te mando uma mensagem.

–– Não é o suficiente pra mim.

–– Vai ter que ser. –– ele deixou todo o seu descontentamento evidente e eu sorri, bebendo um pouco da minha água antes de levantar.

Peguei minha bolsa e guardei o presente ali, enquanto ele se levantava a contra gosto.

–– Boa viajem, Noah. Mande notícias, depois te digo se odiei ou não o presente. –– me aproximei dele num ato automático e depositei um beijo em seu rosto.

Assim que me afastei, evitei seu olhar e sorri dando tchau; saindo sem esperar sua resposta.

Quando entrei no carro, tentei não pensar muito sobre isso. Abri o presente e encontrei uma caixinha de madeira, quando abri continha fotos nossas em polaroide.

Fotos em preto e branco, de diferentes momentos com legendas escritas a mão.

No fundo da caixa, uma carta.

Para a pessoa que eu mais decepcionei - e ironicamente a que mais amo - no mundo.

* * *

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