twenty eight

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Durante a infância e adolescência, eu assisti Noah adoecer diversas vezes

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Durante a infância e adolescência, eu assisti Noah adoecer diversas vezes.

Fosse por uma gripe, febre alta, ou um machucado de alguma queda. Eu o vi doente muitas vezes, mas nada comparado ao momento em que o vi em uma cama de hospital, resistindo.

Ele estava lutando pela sua própria vida, e eu posso afirmar que eu nunca vi algo assim. Eu nunca imaginei Noah como alguém doente, sempre o visualizei em cenários alegres, nada de hospitais ou coisas do tipo.

Quando um número desconhecido me ligou às 03h45 da madrugada, eu imaginei que não seria algo bom.
Eu raramente deixava meu celular ligado a noite, ou sequer vibrando, mas naquele dia eu o ouvi tocar alto.

Alto demais, perfurando meus tímpanos e congelando meu coração.

Era Matthew, ele estava chorando, quando eu conheci Matthew não imaginei que ele fosse do tipo de chorar, mas ele o estava fazendo. E isso não era nada bom.

Ligou e me disse, com muita dificuldade, que Noah estava no hospital outra vez. Mas dessa vez era bem pior, ele pronunciou as palavras em um tom assustador, o tipo de tom que se usava quando você sabe que aquela pessoa não tem chances.

Aguardando mais uma vez naquela sala de espera, num hospital lotado de pessoas doentes e parentes chorando, eu pensei em Noah. Pensei no quanto o amo, no quão importante ele é para mim e pensei nos seis anos que eu perdi.

Eu poderia tê-lo perdoado, mas não o fiz tão rápido.

Arthur estava comigo, Katrina também estava, mas eu me sentia sozinha. A única pessoa que poderia me ajudar naquele momento estava numa cama de hospital, lutando.

Naqueles momentos, eu tentava imaginar minha vida sem ele, e pensei que não existe Emma sem Noah.

Mas existe, tem que existir.

Foram dois dias no hospital, ele suportou muita coisa por dois dias.

Apenas dois dias.

Noah Blake morreu às 02h da manhã de um sábado, não um sábado qualquer, era 12 de Julho.

E uma parte de mim fui junto, é possível? Talvez.

A parte que o pertencia, foi junto com ele para onde quer que ele esteja.

Espero que você esteja no paraíso, Noah.

Passei aquelas horas seguintes odiando a ciência por não ter criado uma cura 100% eficácia para a Leucemia, odiando Noah por saber que estava doente e não contar, odiando Matthew por saber e esconder de mim, e me odiando por não perceber que havia algo errado.

Eu chorei por muito tempo, tempo suficiente para esgotar minhas lágrimas, eu chorei até perder as forças, porque uma parte importante de mim havia ido embora e eu não sabia o que fazer.

Eu chorei, porque no fundo eu sempre soube que essa história não teria um final tão feliz assim.

Senti meu coração afundar ainda mais, porque mamãe ligou para mim chorando também. E naquele momento, ela foi minha mãe outra vez.

Eu perdi e recuperei pessoas importantes em algumas horas.

Me desesperei muito nas últimas horas, me afastei de todos porque era terrível ter pessoas me assistindo enquanto eu sofria e desejava morrer a cada segundo.

Fui para o meu quarto, e revirei algumas coisas em busca de algo que me lembrasse ele, encontrei fotos, um livro que ele me deu de presente no meu aniversário e eu nunca li, e dentro deste livro a sua carta.

A carta que ele me deu no meu aniversário meses atrás, e que eu nunca li.

Afastei a carta, guardando em um outro lugar, eu não teria coragem alguma de ler agora e peguei o livro.
Eu me obriguei a ficar calma, e abrir o livro para ler, tentei focar meus olhos nas linhas borradas pelas lágrimas mas era difícil.

Me esforcei mais, porque era isso que ele queria quando meu deu este presente. Ele queria que eu lesse, e eu o faria.

Eu farei as coisas que ele desejou que eu fizesse, mas de quê adianta?
Ele não está mais aqui, não está me vendo, e mesmo que eu ache algum trecho deste livro muito bom, não vou poder dizer para ele o quanto eu adorei.

Porque Noah está morto.

E ver suas fotos, ler seus livros, assistir seus filmes ou fazer qualquer outra coisa que ele gostava não vai trazê-lo de volta.

Peguei meu telefone, ignorei as mensagens que chegavam sem parar e abri nossas mensagens. A última vez que nos falamos foram dias atrás, ele disse que estava com saudades e eu disse o mesmo.

Eu te amo, não esqueça.

Estava escrito, uma mensagem que não foi respondida, aparentemente.
Naquela noite eu liguei para ele, falei sobre um filme horrível que havia assistido e ri por mais de 15 minutos.

Antes de desligar, eu disse que o amava também.

Eu disse que nunca o esqueceria.

Mas quem sou eu, afinal?

Até eu vou morrer, como posso prometer que nunca vou esquecê-lo, se até eu serei esquecida?

Fiquei olhando para a sua foto por minutos sem fim, até começar a pensar em ligar para ele, só pra saber o que aconteceria.

Eu esperava que ele atendesse, me chamaria de honey bun e iria me fazer rir de alguma bobagem.

Coloquei o celular no ouvido e aguardei.

Chamou diversas vezes, até cair na caixa postal.

Deixe seu recado.

Pra quem?

Imaginei sua voz preenchendo o vazio silencioso que se seguiu, mas nada veio.

Sua voz não preencheu o vazio da ligação.

Nem o meu.

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