twenty

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Passei os olhos pela matéria pela milésima vez, buscando algum erro gramatical ou alguma informação posta no lugar errado

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Passei os olhos pela matéria pela milésima vez, buscando algum erro gramatical ou alguma informação posta no lugar errado.

Eram quase meia-noite quando eu finalmente enviei o artigo para o e-mail do meu chefe e desliguei o notebook.

Eu estava exausta.

Mas havia ganhado folga por conta do meu aniversário, com a única condição de enviar o meu artigo pronto para o e-mail do meu chefe antes da 06h da manhã; o que me fez virar a noite escrevendo e corrigindo dados.

Estiquei minhas pernas, me levantando e guardando todo material espalhado na minha mesa.
Katrina estava dormindo há horas, e eu apenas a invejava de longe.

Quando eu já estava pronta para me deitar, o celular vibrou com uma nova mensagem.

Noah: O primeiro a dar feliz aniversário? Espero que sim.

N: Ok, agora oficialmente: Feliz aniversário! Eu te amo, mas você ainda não me disse o que achou do presente.

E: Ah, sempre o primeiro.

E: Eu adorei, de verdade. Você ainda sabe do que eu gosto.

N: Graças a Deus! Acertar as vezes é interessante; agora, vá dormir por favor.

E: Claro, capitão.

* * *

–– Emma! Tem alguma coisa estranha no ar, não acha? –– Katrina disse, assim que eu pus os pés na cozinha pela manhã. Dei de ombros, achando o dia normal.

–– Não pra mim.

–– Ah, Emmy, apenas sinta. –– ela disse, já próxima ao meu ouvido de olhos fechados e respirando devagar. –– Vamos lá, concentre-se!

Fechei os olhos sorrindo e respirei profundamente, tentando sentir a estranheza no ar.

Bom, não aconteceu nada.

–– Adivinhe só quem está fazendo 23 anos hoje! –– soltou um gritinho animado assim que eu abri os olhos e sorri ao vê-la com um bolo na mão. –– Feliz aniversário, metade de mim.

Ela deixou o bolo em cima da mesa e correu para me abraçar, sussurrando milhares de desejos bonitos no meu ouvido e frisando o quão importante eu sou para ela.

Depois de todo o sentimentalismo, sentamos na mesa e comemos o bolo enquanto ela me contava sobre seu encontro com Oliver.

–– Ele vai vir aqui, pode ser hoje ou qualquer outro dia. Você precisa conhecer ele, Em.

–– Preciso mesmo. Ele ainda não recebeu o SAMA –– Selo de Aprovação da Melhor Amiga. –– ouvi sua risada estridente se espalhar pela casa enquanto eu buscava meu celular que começara a tocar.

Meu sorriso murchando a medida que eu percebi quem me ligava, o coração que estava tão leve de repente pesava uma tonelada.

–– Oi mãe.

–– Olá Emma, feliz aniversário. –– sua voz indicava exaustão de longos dias trabalhados sem descanso.

–– Obrigada. –– murmurei, brincando com as páginas do livro em cima da poltrona.

–– Como você está?

–– Bem, e você?

–– Bem, Emma, eu preciso desligar estou ocupada. Liguei só pra desejar feliz aniversário, até mais. –– e sem esperar uma resposta, ela apenas desligou.

Depois que eu descobri a traição de Noah, foi fácil perceber o que sempre esteve debaixo do meu nariz: Lily e seu pai sempre estiveram conosco por interesse.

Queriam apenas um momento até estarem estabilizados, então iriam embora sem mais nem menos.

Na época, eu expus tudo. Contei tudo que eu havia descoberto depois de um tempo investigando, desmascarei o idiota e a sua filha mau caráter; mas tudo que ela fez foi me chamar de louca e praticamente me expulsar de casa.

Era a palavra deles contra a minha, e ela preferiu acreditar em alguém que havia conhecido a pouco tempo do que na sua própria filha.

Foi a gota d'água, acabou comigo.

Por isso, eu liguei para o meu naquela noite e contei tudo, pedindo abrigo.
Perto de completar 17 anos, eu vim morar neste mesmo apartamento com ele.

Quando eu fiz 20 anos, ele morreu.
E eu fiquei sozinha, porque qualquer coisa era melhor do que ter ir morar com minha mãe e a sua família perfeita.

Como previsto, eles se separaram pouco tempo depois. Mas eu nunca mais ousei voltar lá, nem ela me visitava.

Acabou me culpando pelo fim do relacionamento, e hoje se dedica integralmente ao seu trabalho.

Suas raras ligações são apenas em dias de festa, apenas por obrigação.
As vezes, me sinto grata por isso. Sua proximidade me afeta.

–– Não deixe isso estragar seu dia, ok? Não pode ficar triste por isso, Em. –– Katrina pôs a mão sobre o meu ombro, me confortando e eu sorri.

–– Eu vou sair, tá? Volto já, não faça bagunça na minha ausência. –– beijei seu rosto, busquei minha bolsa e saí.

* * *

Quando pisei os pés no cemitério da cidade, sentei debaixo de uma árvore e tirei o celular da bolsa discando o número da única pessoa que poderia jogar todos os meus sentimentos ruins no fundo do oceano. 

Noah não atendeu, e eu tentei não demonstrar toda a minha frustração enquanto levantava e decidia que era melhor caminhar do que deixar meus pensamentos me atormentarem.

Passei por entre diversos túmulos, até encontrar o de papai.

Prendi o choro na garganta, não permitindo que as emoções me controlassem; eu o queria tanto aqui.

Precisava tanto dele para me abraçar e dizer que tudo ficaria bem, que minha mãe iria me perdoar e chegaria o dia que nós não iríamos mais nos lembrar dessa época triste, queria meu pai para amenizar a dor da rejeição dela.

Só ele tinha esse poder, mas isso não era mais possível. 

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