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–– Então, – limpou a garganta, tentando parecer relaxado –– como seus pais estão? 

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–– Então, – limpou a garganta, tentando parecer relaxado –– como seus pais estão? 

–– Mamãe está bem, na medida do possível. Papai, bom... Ele morreu. – fui até a janela outra vez, checando se a chuva já havia passado, percebendo que não, voltei para perto do sofá.

Noah ainda me encarava, estático. Eu o entendia, ele conhecia papai desde sempre, e eles eram até amigos. Quando papai se mudou para Londres, ele veio duas ou três vezes visitá-lo comigo, mas nem sempre podia. Deve ter sido um choque ter descoberto dessa forma que papai já não está mais entre nós, desejei mentalmente ter sido mais cuidadosa com as palavras.

Mas, também não era um bom assunto para mim, por isso fui direta. 

–– Eu sinto muito. Por que não me contou? – indagou, e logo depois pareceu se arrepender, limpou a garganta e mudou a pergunta. –– Quanto tempo faz? 

–– Quatro anos.

–– Eu nunca iria imaginar... O julgava tão imortal quanto meus próprios pais. 

–– Eu sei, nunca passou pela minha cabeça também. Mas, é natural, não é? – ele me olhou, se aproximando com cautela. 

–– Onde ele está agora? – questionou

–– Aqui, em Londres. Ele queria ser sepultado aqui, então assim fizemos. – expliquei e ele assentiu, ainda com a expressão vaga.

–– Queria que tivesse sido diferente. – ele disse, e eu ri. 

–– Se quisesse mesmo, teria feito diferente. – a chuva estava diminuindo, peguei minha bolsa esquecida em um dos sofás e andei até a porta. Antes de finalmente ir embora, acabando de vez com toda aquela cena, ele segurou meu braço, me impedindo de prosseguir. 

–– Eu procurei você. Um tempo depois, mas você já tinha ido embora quando eu cheguei, e sua mãe não quis me dizer onde estava. – seu corpo se posicionou a minha frente, fechando os olhos antes de continuar –– Deus sabe que eu teria ido atrás de você se soubesse onde estava, Emma. Por favor, pare de me tratar como se não me conhecesse. 

–– Eu não sei quem é você agora, nós não podemos ignorar todo esse tempo longe. O que quer eu faça? – indaguei me livrando do seu toque, indo para longe, evitando a explosão. 

–– Eu preciso que me dê uma chance, é impossível provar pra você que eu estou arrependido se você está sempre armada contra mim. 

–– Não dá pra confiar em você. Não ainda. – respondi, abrindo a porta  e rezando para que ele não me tocasse no percurso, eu era pólvora e seu toque poderia acabar comigo a qualquer momento. 

O vento gelado me atingiu com força quando eu deixei o calor aconchegante do prédio, sem olhar para trás. Entrei no carro e dei partida, tomando uma distância considerável do prédio e parando na esquina mais próxima, apenas para respirar e repassar momento por momento em minha cabeça, como um filme.

O que eu estava fazendo? 

***


–– Oi Em, tudo bem? – Katrina perguntou, entrando no meu quarto e cobrindo minha visão da tinta descascada da parede que antes eu encarava.  

–– Tudo. – respondi enquanto ela vinha até mim, sentando ao meu lado na cama.

–– Como foi lá? – questionou, se referindo a entrevista. 

–– Normal. – não havia sido normal, mas ela não precisava saber. 

–– Eu te conheço. 

–– Eu sei.

–– Não quer falar, não é? – perguntou, desistindo de me interrogar. 

–– Não. 

–– Tá melhor? – assenti, mas ainda assim ela cobriu minha testa com a sua mão, checando a temperatura. – Qualquer coisa me chama, tá? 

Então ela saiu, se dando conta de que não daria muito certo tentar conversar comigo agora.

Meu chefe havia me mandado uma mensagem, querendo saber como havia sido a entrevista, mas eu não tive muito ânimo para responder então achei melhor deixar para quando eu o visse pessoalmente. 

Era isso que eu detestava, o aperto sufocante no peito e a vontade incontrolável de chorar toda vez que eu pensava em Noah.

Eu consigo me lembrar de tudo, todos os momentos, os sorrisos, as promessas de eternidade mesmo sabendo que o futuro é uma página em branco, as discussões bobas e as que me faziam odiá-lo por duas horas seguidas, e o dia em que tudo acabou.

Pensar em nós era como me afogar em um rio de águas profundas e sujas, a ausência de ar me assustava e a poluição destruía todos os órgãos que eu precisava para me manter viva.

Sufocava, mas eu sabia bem porquê.
É que, mesmo depois de seis anos tentando convencer a mim mesma que tudo aquilo era passado, Noah ainda estava marcado em mim.

E bastou apenas que sua realidade se chocasse com a minha para que eu me desse conta de que, eu ainda o amava.

A diferença é que agora eu também o odiava.

Pelo menos era isso que eu achava.

***

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