(84) nervous

9.3K 988 180
                                    

[P O V   P A R K  J I M I N]

''Está nervoso?'' Ele perguntou e eu acabei dando um pequeno salto na minha cadeira. 

E a mão que sustentava o peso da minha cabeça desceu para encontrar a dele, aceitando o gesto de carinho e conforto, e não é que Jungkook me tenha assustado com o tom melodioso da sua voz, não era isso, era só que nos últimos minutos eu estava consumido pela minha própria atmosfera, olhando através do vidro da montra do café, para o outro lado da rua, por entre a chuva miúda que caía naquele início de inverno. 

''Vai correr bem...'' Ele disse, mesmo que não fosse a primeira vez no dia, ou na hora, e eu sorri, mole, antes de me ajeitar e segurar ambas as mãos dele, olhando-o nos olhos. 

''Jungkook, a idade não está a meu favor.'' Eu comecei, sem saber que eu começaria a tagarelar ali, sem noção dos nervos que eu sentia. ''E a prática e o treino. Não tenho praticado, não treino à anos, Jungkook, isso foi um erro. Um grande erro. Eu vou passar vergonha, eu com certeza vou passar vergonha. As pessoas vão me chamar de avô. Eu não acredito como eu deixei você me persuadir.''

''Sou um bom persuasor, não sou?'' Ele brincou, divertido, segurando as minhas mãos ao invés de me deixar segurar as dele, percebendo como estavam quentes. 

''Jungkook!'' Eu exclamei de forma baixa, fechando as mãos para mim, mas mesmo assim entre as dele. ''Eu vou passar tanta vergonha, eu acho que não vou.'' 

''Precisa tentar.'' 

''Já não é tempo de tentar.'' Eu declarei, seguro disso, voltando a olhar para o outro lado da rua através do vidro. ''O meu tempo já se foi.'' 

''Isso é mentira.'' Ele assegurou, tão certo daquilo, como se fosse um facto e eu acabei revirando os olhos entre um sorriso discreto, no entanto severamente interrompido por um guincho em meus ouvidos. 

''Jeon!'' 

E apesar de o meu olhar se ter arregalado com o susto e com o contraste de volume, o de Jungkook pareceu arregalar-se por outros motivos que eu desconhecia até girar na minha cadeira e reconhecer o rosto do corpo esguio e alto que caminhava nos saltos agulha por entre as mesas. 

Havia uma coisa que eu nunca ia esquecer e essa coisa era a forma como eu podia agora, ali, mesmo ali, reconhecer aquela face sem imperfeições e bem cuidada. 

Quando eu e Jungkook nos conhecemos, de volta no nosso lugar preferido do mundo, ele era jovem, e eu era jovem, os dois éramos, tão inconsequentes, e quando nos envolvemos pela primeira vez deixamos toda a culpa fora do quarto de hotel. No entanto, quando saímos daquele quarto e descemos à terra, dando de caras com a esposa de Jungkook no hall, o olhar na cara dele foi o que eu nunca consegui esquecer. 

Não podia reconhecer Sori Na ali pela face impecável dela. Podia reconhecê-la porque me lembrava do olhar arrependido na face de Jungkook quando a vira depois de se envolver com outra pessoa. E era um olhar limpo, transparente, porque quem olhasse para ele veria tudo, todo o crime e confusão. 

''Sori.'' Ele disse rápido, levantando-se, pousando o guardanapo de pano que tinha nas pernas em cima da mesa e eu assisti enquanto ela se aproximava e lhe beijava a cara, a mão dele mal tocando a sua cintura enquanto ela lhe pousava a mão no peito. ''Invulgar ver você por aqui.'' 

''Não tem o peixe que eu quero onde eu vivo.'' 

E eu acabei sobrepondo as sobrancelhas e Jungkook olhou-me, mas ela não seguiu o olhar, ela mal me notou ali enquanto se afastava subtilmente, quase nada, e Jungkook gargalhou, por educação. Aquele seria um comentário plausível se ela não estivesse se referindo a Jungkook, ao meu Jungkook. 

It Ain't My Fault [jikook/kookmin]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora