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Era 6ª feira de manhã e Sofia aproveitava o facto de ter acordado mais cedo que o usual para dar um jeito à casa. Lavou a loiça que ficara do dia anterior, limpou o pó e arejou os lençóis colocando-os ao sol. Como banda sonora de fundo tinha a televisão sintonizada no programa matinal da TVI e nas gargalhadas estridentes e bem-dispostas da mais conhecida dupla de apresentadores em Portugal.

De repente ouve o telemóvel a tocar. Sofia abandonou momentaneamente os seus afazeres e foi para a janela atender a chamada.

–Estou? – Atendeu Sofia debruçada à janela levando na cara com o calor primaveril daqueles raios de sol matinais.

–Estou a falar com Sofia Maia? – Questionou cordialmente a voz que vinha do outro lado da linha.

–É a própria. Quem fala? – Perguntou. Era claramente a voz de uma mulher mais velha mas não fazia ideia de quem poderia ser.

–Fala Isabel Costa, do Bar da Velha Senhora, no Cais do Sodré. Foi você quem me fez chegar um DVD com alguns trabalhos seus, não foi? – Um sorriso esperançoso formou-se
instantaneamente no rosto de Sofia. Há dias que esperava ansiosamente por esta chamada.

–Fui eu, sim. – Respondeu aguardado que Isabel introduzisse o motivo que a levara a efetuar a chamada telefónica e o qual Sofia já tinha ideia qual seria.

–Então, nesse sentido, teria disponibilidade para se dirigir cá esta tarde para uma entrevista?

–Claro que sim! A que horas? – Respondeu Sofia não escondendo o entusiasmo. Conseguir este lugar era tudo o que queria neste momento.

–Às cinco horas, parece-lhe bem? – Sugeriu Isabel.

–Parece-me ótimo! Mais alguma informação que queira saber? – Perguntou Sofia.

–Não. Mas se puder trazer uma apresentação sua preparada, seria bom.

–Muito bem, sem problema. Às cinco horas estarei aí, então! Até logo. – Terminaram a chamada e Sofia desligou o telemóvel, voltando a poisá-lo em cima da mesa.

Não cabia em si de contente. Este lugar que Bianca lhe tinha arranjado tinha definitivamente caído do céu. Queria mostrar por tudo que, mais do que ninguém, merecia aquele lugar. Por isso, ia dedicar-se de corpo e alma a esta entrevista, que iria complementar com uma pequena atuação sua. Assim, mais hipótese teria de ficar com o lugar ao qual aspirava.

Concluiu as tarefas domésticas que tinha em mãos e foi para o quarto preparar a entrevista e a atuação que iria ter à tarde. Escolheu a música ao som da qual iria atuar, preparou o
figurino que ia usar e também a câmara de filmar. Optou por fazer uma performance simples e sem movimentos demasiado acrobáticos mas, ao mesmo tempo, que evidenciasse a graciosidade e elegância dos seus movimentos corporais.

As cinco horas da tarde chegaram num instante e, à hora marcada, Sofia marcou presença naquele que, se tudo corresse bem, passaria a ser o seu local de trabalho. Em frente ao balcão alto que se prolongava quase até ao fundo havia uma pequena fileira de mesas cujos lugares do lado da parede, ao contrário dos do lado oposto, possuíam assentos forrados a veludo carmesim. Se aqueles que estiverem em frente ao balcão se dirigirem para o lado direito vão encontrar uma imagem da mítica Imaculada a albergar o palco, onde figuram um microfone de pé ao centro e um piano ao lado.

Sofia entrou, caminhou vagarosamente até ao balcão e esperou que aparecesse alguém. Não teve que esperar muito tempo até aparecer, proveniente do armazém, a pessoa com quem havia falado ao telemóvel durante a parte da manhã e que a reconhecera dos vídeos e fotografias que tinha enviado através de Bianca.

–É você a Sofia? – Perguntou Isabel estabelecendo contacto visual com Sofia.

–Sou. – Confirmou. – Tenho uma entrevista marcada para esta hora.

–Eu sei. Eu sou a Isabel Costa e foi comigo que falou hoje de manhã. – Apresentou-se estendendo a mão para cumprimentar Sofia. – É tão jovem! Posso tratá-la por tu?

–Claro que sim.

–Muito bem então. Senta-te!

–Obrigada. - Sentaram-se na mesa mais próxima e iniciaram a entrevista.

–E então há quanto tempo é que danças?

–Eu descobri a dança burlesca há cerca de 5 anos através de uma amiga e conforme ia descobrindo esta arte performativa, assim foi crescendo o meu interesse por ela até que comecei a fazer as minhas próprias performances de há 2 anos para cá. – Narrou Sofia sucintamente.

–Muito bem! Mas já alguma vez atuaste ao vivo? – Insistiu Isabel ouvindo Sofia, dedicando-lhe toda a sua atenção.

–Sim. O ano passado tive a oportunidade de marcar presença num festival de tatuagens aqui em Lisboa onde, além de ter atuado, ainda protagonizei uma sessão fotográfica.

–Muito bem. E trouxeste algo preparado como eu te sugeri?

–Sim, preparei uma coreografia. Posso mostrá-la?

–Claro. Tens aí o palco, é teu! – Assentiu esticando o braço na direção do mesmo.

–Então se me der licença… - Sofia levantou-se e preparou-se para a sua atuação. No fundo do palco, num sítio quase inacessível ao olhar do público, estava uma pequena aparelhagem
que, por sua vez, se encontrava ligada às 4 colunas de som do estabelecimento. Colocou o CD que trazia consigo no interior e carregou no pause. – Há algum problema se eu gravar esta atuação? É para acrescentar ao meu portfólio.

–Nós aqui não gostamos muito de câmaras mas como é para essa finalidade, então não há problema. – Autorizou Isabel. Sofia ligou então a câmara de filmar e colocou-a em cima de uma das mesas mais próximas do palco com a ajuda de um pequeno tripé para conseguir um melhor
enquadramento. Regressou ao palco, carregou no botão da aparelhagem que dizia Play e iniciou então a sua performance ao som de Mein Herr, pela voz de Liza Minelli. Encarou a plateia vazia enquanto tirava os suspensórios que seguravam as calças pretas com uma elegância exímia.
Continuou a dançar graciosamente e, pouco a pouco, foi retirando também as calças, utilizando uma cadeira como auxílio. Continuou a caminhar e a rodopiar palco fora e, lentamente, foi despindo a camisa branca ao mesmo tempo que bamboleava as ancas de um modo bastante provocador. Sofia estava agora em palco apenas em lingerie. Despiu as meias de ligas e deu, assim, por terminada a sua atuação. Podia ter continuado a atuar, de facto, mas, sendo esta apenas uma demonstração, achou que era suficiente ficar por ali.

Sofia fez uma vénia como forma de agradecimento e abandonou o palco.

–Então… o que é que achou? – Perguntou Sofia ansiando por uma crítica positiva.

Tudo Tem Um Fim Where stories live. Discover now