Tudo Tem Um Fim

21.

Sábado. O estabelecimento tinha enchido para ver a nova apresentação de Sofia, que aguardava ansiosamente no camarim pela sua hora de entrada em palco.

–Então… nervosa? – Perguntou Isabel, entrando no camarim.

–Um pouco. Dediquei tanto tempo a aperfeiçoar esta nova apresentação que, se alguma coisa não sair como eu quero, nem sei! – Exclamou Sofia caminhando incessantemente pelo espaço exíguo do camarim.

–Acalma-te, vais ver que vai correr tudo bem! – Acalmou Bianca, que não pôde deixar de vir apoiar a amiga em mais uma estreia.

–Sim e mesmo que te escape um pormenor, também não é por aí. – Tranquilizou Isabel. Tinha mais anos de experiência que Sofia e sabia bem do que estava a falar.

–Claro. Às vezes acontece esquecermo-nos de algum passo em plena atuação e, quando isso acontecer, improvisas um pouco e continuas! – Acrescentou Bianca.

–Exato. O Burlesco também é isso: improviso e saber fazê-lo nas alturas certas. – Concluiu Isabel.

–Sofia, já entraste ou será que ainda venho a tempo de desejar boa sorte à minha diva burlesca preferida? – Interveio Márcio, ligeiramente apressado.

–Ainda não. Para ti tenho sempre tempo! – Exclamou Sofia contente por ver Márcio, dando-lhe um aconchegante abraço. – Ah, e é merda que se diz, não boa sorte! – Corrigiu.

–Pronto, peço desculpa então! Só vim dar-te uma palavrinha de apoio e volto já para a sala para não perder o lugar.

–És sempre tão amável! – Agradeceu Sofia.

–Oh, até parece! Vá, até já! – Márcio voltou para o seu lugar na sala, antes que fosse ocupado por outra pessoa.

Isabel aproveitou a deixa e foi apresentar Sofia, ao mesmo tempo que esta dava os últimos retoques no seu novo outfit. Bianca, como de costume, deixou-se ficar pela zona de backstage, caso fosse preciso dar apoio a alguma eventualidade.

Isabel subiu ao palco, fez uma breve introdução e saiu de seguida para, assim, dar lugar à atuação de Sofia, ou melhor, de Miss Vegas. As luzes baixaram e Sofia entrou em palco, ao mesmo tempo que dois espetadores ainda procuravam por algum lugar vago. E nos minutos seguintes a atuação da jovem prendeu todos os olhares daquela sala, rendidos aos seus movimentos exóticos e cadenciados.

No fim toda a plateia se levantou para a aplaudir. A sua nova apresentação tinha sido um sucesso. Regressou ao camarim, onde foi congratulada pelos colegas, e, após uma breve troca de impressões acerca do espetáculo, Márcio exclamou em jeito de provocação:

–O teu admirador nº1 parece que resolveu assentar arraiais na Velha Senhora! Já é a 3ª ou a 4ª vez que o vejo por cá!

–É verdade, também já reparei nisso! – Constatou Bianca. – Ainda não voltaram a falar depois do jantar?

–Tirando aquela vez em que saiu a notícia na revista, ainda não. E sinceramente não tenho vontade nenhuma de ver a minha vida de novo estampada nas revistas!

–Nós já falámos sobre isso: não podes viver a tua vida condicionada por aquilo que pode sair ou não nas revistas!

–A Bianca tem razão, Sofia. – Apoiou Márcio. – Mas vocês também nunca mais saem da cepa torta…! Vê lá se andas com isso para a frente!

–Calma Márcio. Nem toda a gente é como tu! Eu prefiro ir avançando aos poucos do que atirar-me logo de cabeça. – Respondeu Sofia. – Bem, por hoje é tudo, vou andando. Bianca também vens? – Perguntou Sofia, já depois de ter trocado de roupa e pronta para se ir embora.

–Não, ainda vou ficar mais um bocado por aqui. Vai andando, se quiseres! – Respondeu Bianca.

–Tudo bem então. Até logo! – Despediu-se de todos e saiu.