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Quinta-feira. Noite de estreia de Sofia no Cais do Sodré. Eram ainda dez e meia e já o público circulava com alguma dificuldade por entre as mesas escuras em cujo centro figurava uma simples e pequena vela acesa posta num suporte quadrado em vidro transparente.

–A casa está a ficar composta! - Exclamou Isabel informando Sofia, ainda a preparar-se no camarim improvisado, o mesmo sítio onde Bianca também se preparava para as suas atuações três vezes por semana.

–Oh meu deus, estou tão nervosa! - Exclamou Sofia em polvorosa. Bianca, que tinha feito questão de vir assistir à estreia da amiga, tentou acalmá-la:

–Relaxa Sofia, vai correr tudo bem! Queres ajuda com a maquilhagem?

–É melhor, sim. No estado de nervos em que estou ainda faço para aqui uma trapalhada qualquer! - Sofia entregou o pincel da base a Bianca e deixou que fosse esta a concluir a maquilhagem.

–Pronto, já está! - Exclamou Bianca poisando o material de maquilhagem em cima da bancada.

–Se já estás pronta, vou anunciar-te então. - Declarou Isabel, que subiu ao palco e fez o anúncio:

–Boa noite a todos! Como já devem saber, esta noite temos uma estreia. É uma rapariga lindíssima, ainda em início de carreira e tenho a certeza absoluta de que vão gostar de a ver. Senhoras e senhores, Miss Vegas! - Abandonou o palco e Sofia, que em cima do palco respondia por este nome artístico, subiu e caminhou sobre o mesmo com uma postura de quem se mostrava indiferente à manifestação do público. Parou no centro do palco e elevou os braços que seguravam a estola de pelo falso castanho que trazia aconchegada junto ao pescoço.

Movimentou lentamente as ancas agachando-se ligeiramente ao mesmo tempo, deixando à vista o decote cruzado das costas do vestido comprido e justo, que realçava as suas formas. Seguindo o compasso da música, foi removendo as luvas, rodopiando-as antes de as atirar ao chão.

Continuando a dançar, abriu o fecho do vestido lentamente, atiçando o desejo da plateia maioritariamente masculina. Deixou o vestido escorregar pelas suas curvas abaixo, levando o público ao delírio e continuou a dançar. Ainda de costas para a plateia, desapertou o espartilho e retirou-o com a mesma lentidão com que havia retirado o vestido. Virou-se de frente e continuou a dançar seguindo o compasso da música. Voltou a pegar na estola e cobriu o peito com ele. Retirou o sutiã e exibiu-o perante o público ao rubro. Esperou pelos acordes finais da música para, finalmente, revelar o seu peito desnudo.

Terminou a sua atuação e Sofia foi ovacionada com uma salva de palmas e muitos assobios. Agradeceu com várias vénias e regressou ao camarim.

–Bem... grande estreia, hã! - Exclamou Bianca.

–É verdade. Não estava nada à espera de uma receção destas! - Respondeu Sofia admirada. Esperava uma boa receção mas não ao ponto de haver, inclusivamente, pessoas à porta do bar por já não haver lugares livres lá dentro.

–Quando há estreias é normal que hajam estas enchentes. Uma vez que o público anda sempre à procura de novidades, quando sabe que vai haver uma estreia vem logo tudo para ver. - Argumentou Isabel, que há muito que sabia como é que se "comportava" o público que frequentava o Bar da Velha Senhora, sítio de referência no Cais do Sodré e em toda a capital, frequentemente visitado pelo mesmo público das casas de fado ali tão próximas.

–Assim até me sinto mais pressionada. Se as próximas atuações não forem tão boas ou melhores que esta...! - Induziu Sofia. Por um lado estava satisfeita pela sua estreia ter corrido às mil maravilhas, mas por outro, isso colocava-a numa fasquia já bastante elevada para quem ainda agora começou e, para Sofia, o pior que lhe podia acontecer no futuro em termos de carreira era desiludir o público que hoje a tinha aplaudido.

–Acalma-te rapariga! Não coloques já tanta pressão em cima de ti! - Tentou acalmar Bianca que, afinal, tinha mais experiência e tentava aconselhar Sofia da melhor maneira.

–A Bianca tem razão. - Concordou Isabel. - Tu és fantástica e vais ver que as próximas atuações vão ser cada vez melhores. Tenho a certeza que te vais conseguir superar de atuação para atuação. - Acrescentou.

–Estás a ver? Não tens motivos nenhuns para teres já essa pressão toda. - Concluiu Bianca.

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Oi gente, é a autora que vos fala. Apesar de haver pouca gente a ler a história, gostaria imenso que votassem e comentassem os capítulos, nem que seja só a dizer como é que escreviam se fossem vocês. A sério, falem sem medo, pois só assim é que eu consigo melhorar a minha escrita. De resto, espero que estejam a gostar de ler a história e adicionem-na à vossa lista de leitura, para não perderem as atualizações.
Beijos e até ao próximo capítulo!

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