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–Tem tudo aí? – Perguntou Sofia. Madalena praticamente não teve tempo de dormir durante a noite. Nem ela, nem Sofia e Bianca que a vieram trazer ao terminal rodoviário de Sete Rios. Eram 6h05 da manhã e o autocarro partia dentro de 10 minutos rumo ao norte do país.

–Sim, não me esqueci de nada. – Respondeu Madalena.

–A viagem é longa, por isso, aproveite para descansar. E quando chegar telefone-me para eu saber. – Recomendou Sofia. – Ah, e o mais importante de tudo: não dê este número novo a NINGUÉM! Quanto menos pessoas souberem, melhor! – Alertou novamente.

–Sim, fique descansada. – Toda a sua vida fora dedicada mais aos outros do que a si e, agora, Madalena via-se obrigada a dar um rumo novo à sua vida. Não sabia se se sentia preparada para essa mudança de rumo mas, com a ajuda de Sofia e de Bianca, tinha esperança que as coisas pudessem ser um pouco mais fáceis.

A hora de partida aproximava-se a passos largos. Arrumou a bagagem junto da dos outros passageiros e, antes de dar entrada no autocarro, Madalena despediu-se de Sofia e de Bianca:

–Bem… está na hora. Obrigada por tudo! Nunca me vou esquecer do que estão a fazer por mim! – Agradeceu.

–Ora essa, fizemos o que pudemos e o que estava ao nosso alcance.

–A sua filha tem razão, D. Madalena. Jamais lhe iríamos negar ajuda numa altura destas! – Apoiou Bianca.

Madalena abraçou as duas raparigas durante largos segundos e entrou para o autocarro, que iniciara a sua viagem 3 minutos depois. Observaram o veículo a efetuar a manobra de saída do terminal e vieram-se embora assim que este saíra do edifício da estação rodoviária.

–Vá lá, tira essa cara! A tua mãe agora está em segurança! – Tentou animar Bianca notando ainda alguma preocupação no rosto de Sofia.

–Sim, quanto mais longe ela estiver do meu pai, melhor. Nunca pensei vir a dizer isto na minha vida mas… o meu pai é mesmo um monstro! – Admitiu. – Ele bate na minha mãe, tranca-a no quarto, tira-lhe as coisas… ele até chegou a violá-la!! E já nem falo de mim. Achas que uma pessoa assim merece que lhe chamem de pai?

–Não, de facto não merece. – Respondeu Bianca sem ter como responder. – E o pior é que, se a tua mãe não apresentar mesmo queixa, ele vai passar impune!

–Pois, e mesmo que apresente o meu pai arranja uma maneira de ser ilibado ou de ficar só com termo de identidade e residência. Sempre foi assim!

–Mas vá, esquece isso por agora! O que interessa é que a tua mãe vai ficar bem. – Voltaram para casa e Sofia aproveitou para descansar mais umas horas, uma vez que o dia tinha começado bastante cedo para si.

*******

Era por volta da uma da tarde quando voltou a acordar. Procurou pelo telemóvel para ver as horas e reparou que tinha 3 chamadas não atendidas de Rui. Ligou de volta e explicou-lhe o que acontecera:

–Desculpa não ter atendido as tuas chamadas, amor. É que eu hoje acordei super cedo e por isso estava a descansar um pouco.

–Ia convidar-te para almoçarmos os dois mas como não atendeste tive que almoçar sozinho e fiquei preocupado contigo. Pensei que te tivesse acontecido alguma coisa!

–E até aconteceu mas não foi comigo. – Revelou Sofia.

–Mau! Então?

–A minha mãe apareceu-me cá em casa eram duas da manhã. Ela saiu de casa para fugir ao meu pai que lhe batia e lhe fez outras coisas horríveis. É uma longa história mas, se quiseres aparecer por cá, falamos melhor, pode ser?

–Sim, claro. Vou já ter contigo. Até já! – Desligou a chamada. Enquanto Rui não chegava, Sofia levantou-se com alguma preguiça, foi à casa de banho lavar a cara e de lá saiu já mais desperta. Foi até à cozinha e preparou algo para comer. Entretanto Rui tocava à campainha e Sofia foi recebê-lo à porta.

–Ainda bem que vieste! – Exclamou Sofia abraçando-o demoradamente. – Estava mesmo a precisar de ti. Entra! – Rui entrou e sentou-se no sofá, onde ainda se notavam os contornos do corpo de Sofia.

–Então o que é que aconteceu? – Iniciou Rui.

–Lembras-te daquela vez em que estávamos os dois cá em casa e de repente apareceu a minha mãe e eu até reparei numa marca que ela tinha no braço? – Recordou Sofia.

–Sim, lembro-me. – Respondeu Rui. – E depois até telefonaste para o teu irmão e tudo, não foi?

–Sim e parece que as minhas suspeitas confirmam-se. A minha mãe é vítima de violência doméstica e por isso é que fugiu de casa.

–E onde é que ela está agora? Não ficou cá em casa convosco?

–Não. Foi para casa de uns familiares nossos no Norte. Tê-la aqui em casa era um risco demasiado grande, porque o meu pai descobria-a num instante.

–Pois, tens razão. Pelo menos agora está em segurança!

–Assim espero eu! – Exclamou Sofia. – A sério, palavra de honra, nunca pensei que uma situação destas pudesse acontecer na minha família. Pronto, ok, a minha mãe sempre foi submissa em relação ao meu pai, mas daí a ser vítima de violência doméstica acho que ainda vai uma certa distância!

–Não penses nisso agora. Pensa antes que a tua mãe agora está em segurança e que as coisas se vão resolver.

–Foi o que eu lhe disse! – Exclamou Bianca que entretanto aparecera e se juntara à conversa. – Tu vives demasiado os problemas dos outros, Sofia! O que podias fazer já tu fizeste, portanto, a partir de agora, as coisas já não estão nas tuas mãos.

–A Bianca tem razão. Relaxa! – Concordou Rui. – Porque é que não vens dar uma volta? Fazia-te bem!

–Olha, agora é que tiveste uma boa ideia! Isso mesmo, tira-a de casa e leva-a a apanhar ar, que bem precisa! – Apoiou Bianca arrancando Sofia do sofá pelo braço. Esta, aparentemente sem grande vontade, deixou-se convencer e saiu de casa juntamente com o namorado.

Tudo Tem Um Fim Where stories live. Discover now