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[Duas semanas depois]

Entretanto, já se haviam passado duas semanas desde que Sofia e Rui iniciaram namoro. Como nenhum dos dois tinha planeado nada de especial para esse dia decidiram apenas passar a tarde em casa de Sofia a ver filmes. Se bem que, ao fim de meia hora, a atenção dos dois estava mais voltada um para o outro do que para o filme.

Rui pegou no rosto de Sofia com carinho e virou-o de frente para si, dando-lhe um beijo leve nos lábios. Ela sorriu e esfregou o nariz no dele com a mesma suavidade com que tinha sido beijada. Ele correspondeu e entrou na brincadeira, acabando por se beijarem mais uma vez.

–És linda! – Sussurrou-lhe ao ouvido concluindo com leves beijos no pescoço da rapariga. Rui foi diminuindo aos poucos a distância entre os dois corpos e foi quando já os dois estavam estendidos sobre o sofá que foram interrompidos pela campainha. Sofia levantou-se, para desalento de Rui, compôs-se e foi atender a porta.

–Mãe!? – Exclamou Sofia perplexa.

–Posso entrar, querida? – Pediu licença e entrou ao ver a filha, ainda boquiaberta, desviar-se um pouco da porta. – Não sabia que estava acompanhada. Se quiser posso voltar noutra altura! – Propôs ao reparar na presença de Rui.

–Não, não há problema. Pode ficar. – Contrariou Sofia. – Como é que descobriu onde é que eu moro?

–Espero que não se chateie comigo mas na semana passada cruzei-me consigo na rua e resolvi segui-la até casa sem que a menina se apercebesse. E só hoje é que ganhei coragem para lhe vir bater à porta. – Confessou Madalena escondendo o olhar embaraçado.

–Mas se me viu, porque é que não veio logo falar comigo? – Perguntou Sofia.

–Porque tive receio que a menina não quisesse falar. – Justificou a progenitora. – Da última vez que conversámos a menina acabou por sair de casa e desde aí que mal sei de si. Aquela casa sem si ficou tão vazia, tão… tão fria e tão triste! – Desabafou aproximando e pegando nas mãos da filha.

–Oh, podia perfeitamente ter vindo falar! Eu cortei relações foi com o pai, não foi consigo. Eu sentia-me a dar em doida naquela casa. Estava a sufocar, percebe? Tinha que fazer qualquer coisa por mim. Tive mesmo que me libertar, entende? – Explicou Sofia.

–Entendo. E então é aqui que está a morar? – Perguntou Madalena olhando em volta. A casa era pequena e, para quem sempre viveu em mansões, tal até lhe fazia uma certa confusão, mas parecia ser aconchegante.

–Sim. Moro com a Bianca. A mãe conhece-a, andou comigo no secundário, lembra-se? Foi ela quem me estendeu a mão quando o pai me escorraçou de casa. – Respondeu Sofia atirando a indireta. – Ah, e com isto ainda nem vos apresentei. Mãe este é o Rui, o meu namorado. – Apresentou pegando na mão dele, fazendo com que este se levantasse do sofá. – Rui, é a minha mãe.

–Gosto em conhecê-lo! – Cumprimentou Madalena estendendo a mão ao rapaz.

–Igualmente! – Respondeu Rui, retribuindo o cumprimento da sogra.

–Não fazia ideia que a menina tinha namorado! – Exclamou surpreendida.

–É normal, nós ainda só estamos no início. – Respondeu Sofia, não conseguindo esconder a felicidade por estar ao lado de Rui. – E só uma pergunta: o pai sabe que está aqui?

–Não. E nem pode saber. O seu pai neste momento está numa reunião importante com uns investidores angolanos e eu quero estar em casa antes de ele chegar. – Respondeu com uma ligeira inquietação.

–E não pode saber porquê? – Insistiu Sofia estranhando a resposta e o nervosismo da progenitora. Aproximou-se dela e saltou-lhe à vista uma pequena nódoa negra no braço. – O que é que lhe aconteceu ao braço?

–Ah isto! Não ligue, foi só um encontrão que eu dei numa cómoda do quarto. – Disfarçou Madalena escondendo de imediato a marca sob a manga do casaco.

–Tem a certeza? – Insistiu Sofia mais uma vez. Sabia que a relação entre os seus pais não era propriamente um mar de rosas, mas a possibilidade de a sua mãe ser vítima de violência
doméstica, era, para Sofia, algo totalmente impensável e, sobretudo, inadmissível para si enquanto mulher.

–Sim, não se preocupe. Nada que uma boa pomada não resolva. Oh, já é tardíssimo! Tenho que me ir embora. – O receio de que o marido pudesse chegar a casa antes de si levou
Madalena a despedir-se apressadamente de Sofia e Rui.

–Mas há algum problema? – Inquiriu Sofia estranhando a pressa da mãe.

–Não, que disparate! Está tudo ótimo! Eu é que ainda tenho imensa coisa para fazer e passei só para ver se estava bem. – Justificou não conseguindo esconder algum nervosismo. Sofia sentia que a mãe estava a esconder algo e temia que a nódoa negra que observara no braço
pudesse estar relacionada com isso. – Adeus, minha querida! – Despediu-se e saiu, tendo sido acompanhada pela filha até à porta.

Tudo Tem Um Fim Where stories live. Discover now