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–Mãe?! – A progenitora era a última pessoa que Sofia esperava que lhe viesse bater à porta àquela hora.

–Desculpe ter aparecido sem avisar, mas não tinha mais nenhum sítio para onde ir. Posso entrar?

–Claro, entre! – Autorizou Sofia vendo a mãe entrar acompanhada de duas volumosas malas. - O que é que aconteceu? – Madalena sentou-se no sofá, suspirou fundo e, a chorar,
revelou o que acontecera:

–Eu já não aguento mais, eu cheguei ao meu limite. Já não tenho mais forças para aguentar este calvário!

–Mas do que é que a mãe está a falar? – E foi então que Madalena despiu o casaco e levantou ligeiramente a camisola, deixando antever uma nódoa negra bem visível no lado direito da cintura. – Diga-me que isso não é aquilo que eu estou a pensar!

–Infelizmente é, minha querida. Esta nódoa foi o seu pai que fez! Assim como a do braço que a menina reparou noutro dia. – Admitiu sem conseguir segurar as lágrimas. Sofia não aguentou e chorou também. Afinal as suas suspeitas sempre se confirmavam.

–Porque é que a mãe não disse nada? Podia ter evitado tudo isto!

–Eu não a queria preocupar e o seu pai disse-me que me fazia a vida num inferno se eu dissesse alguma coisa a alguém. Ele trancou-me vários dias no quarto sem contacto com o exterior! – Sofia chorava copiosamente à medida que ouvia o relato da progenitora. Não conseguia acreditar que uma situação destas se pudesse desenrolar na sua própria família. – Além disso ele batia-me sempre que não cumpria alguma ordem dele ou quando me pedia alguma coisa. Fazia-me sentir uma inútil e uma coisa descartável! Mas o pior de tudo era quando…

–Que mais é que o pai lhe fez? – Perguntou Sofia ao ver a mãe a engolir o choro.

–Ele… ele à noite forçava-me quando estávamos no quarto! – Madalena desfez-se de novo em lágrimas ao relembrar a maior humilhação por que passara às mãos do marido.

–Não. Isso é mentira, não é, mãe? O pai não era capaz de fazer isso, pois não? – Madalena limitou-se a abanar a cabeça em jeito negativo enquanto continuava a chorar.

–O pai é um monstro! – Exclamou Sofia chocada e em lágrimas. – Como é que a mãe conseguiu fugir de casa? E o Zé Maria não sabia de nada? Ele nunca foi capaz de a defender?

–Não, porque o seu pai tapava-me a boca para que ninguém ouvisse! E durante o dia aproveitava os momentos em que a casa estava vazia para me bater e obrigar a fazer tudo o que ele quisesse. E quando o seu pai resolveu trancar-me no quarto durante vários dias, dizia sempre que estava doente e não deixava ninguém entrar. Só consegui fugir porque fui aproveitando as alturas em que o seu pai estava na empresa para arrumar algumas coisas às escondidas. E hoje que o seu pai está no Porto em reunião, aproveitei e consegui sair de casa sem ser apanhada.

–A mãe foi muito corajosa em ter saído daquela casa. E, no que depender de mim, nunca mais vai lá pôr os pés. Esta noite pode ficar cá mas amanhã vamos as duas à esquadra apresentar queixa.

–Não, tudo menos apresentar queixa, por favor!! Se o seu pai descobrir que fiz queixa, ele vem atrás de mim e torna a minha vida num inferno ainda maior do que já é!

–Por isso mesmo é que temos de apresentar queixa! Mas se não é isso que quer então tem que se afastar daqui! Caso contrário, é uma questão de tempo até descobrir que está aqui! – Alertou Sofia.

–E para onde é que a menina quer que eu vá? O seu pai tirou-me os cartões de créditos e o dinheiro que tenho não dá para ir para muito longe.

–Não faz mal, eu ajudo-a no que precisar. Aqui é que não pode ficar! Já pensou em alguém que a possa ajudar nos próximos tempos?

–Assim de repente, só se for uns primos afastados meus que vivem em Bragança. Há anos que não os vejo e o seu pai mal os conhece. – Sugeriu Madalena.

–Parece-me bem. Pelo menos é longe o suficiente para o pai não a descobrir nos próximos tempos. – E entretanto chega Bianca que não voltara a pregar olho devido à conversa entre Sofia e a mãe.

–Mas quem é que está aí contigo, Sofia? – Perguntara Bianca entrando pela sala meio a dormir.

–É a minha mãe. Ela saiu de casa para fugir ao meu pai. Não te importas que ela fique cá esta noite, pois não? – Pediu Sofia.

–Não, claro que não! – Autorizou de imediato ao constatar que afinal se tratava de um assunto sério. Sendo uma situação delicada como esta, jamais iria deixa a mãe da sua melhor amiga no meio da rua. – Alguma coisa em que eu possa ajudar?

–Obrigada. Já estás a ajudar muito ao deixá-la cá ficar esta noite! Mas nós temos família em Bragança e a minha mãe vai para lá ainda hoje. Ela tem que se afastar daqui o quanto antes.

Tudo Tem Um Fim Where stories live. Discover now