38.{PENÚLTIMO}

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–Era. Portanto sempre tinhas razão em desconfiar do Márcio. – Admitiu Bianca. – De facto, agora tudo faz sentido: é ele quem anda a passar informações sobre ti. Quem mais além de nós poderia saber aqueles detalhes todos?

–E pensar que ele esteve aqui connosco que sabia de tudo e que não foi capaz de dizer NADA! – Exclamou Sofia revoltada. – Eu juro-te, esperava isto de qualquer pessoa menos dele! Ainda me custa a acreditar que tenha sido o Márcio. Ele desiludiu-me muito. Bastante mesmo!

–E o que é que vais fazer agora?

–Vou confrontá-lo como é óbvio! – Respondeu Sofia num misto de revolta e firmeza. – E vai ser amanhã mesmo! Ele que não pense que escapa!

–Calma Sofia. Pensa bem no que vais fazer! – Tentou acalmar Bianca mas sem sucesso. Nunca tinha visto a amiga naquele estado e não queria que ela fizesse algo movida pela revolta que sentia e do qual pudesse vir a arrepender-se mais tarde.

–Não te preocupes. Eu sei muito bem o que é que vou fazer.

*******

No dia seguinte combinaram os três num café no Parque das Nações. Bianca e Sofia já lá se encontravam e Márcio estava quase a sair da loja onde trabalhava, no Vasco da Gama.

–Olha, ele já aí vem! – Reparou Bianca ao vê-lo ao longe. Caminhando de modo confiante aproximou-se da mesa, retirou os óculos e sentou-se.

–Olá meninas. Desculpem o atraso, só me consegui despachar agora. E mesmo assim ainda queriam que eu fizesse outro turno! Mas eu disse logo Ai desculpem mas eu há mais de um mês que ando a fazer turnos seguidos e estou aqui que nem posso! Eu basicamente ando a trabalhar e a dormir em pé ao mesmo tempo! Uma pessoa também precisa de descansar porque senão, como é que querem que uma pessoa aguente jornadas de 10 e 12 horas de trabalho? e é assim que andam a sobrecarregar o pessoal que lá está só para não contratarem mais gente! – Desabafou Márcio.

–Está complicado então! – Exclamou Sofia estrategicamente enquanto brincava com um guardanapo de papel enrolado em forma de bola. – Eu, se estivesse no teu lugar acho que já tinha saído há muito tempo!

–Olha que já estive mais longe disso!
-E tens ao menos um pé-de-meia guardado para o caso de vires a precisar? – Perguntou Sofia cada vez mais incisiva enquanto Bianca se limitava, simplesmente, a observar o
desenrolar da conversa. Ela que também se sentia numa posição desconfortável: era amiga de ambos mas também não queria tomar partidos e, com isso, deixar de falar com o outro.

–Ah isso tenho, está descansada! – Tranquilizou Márcio. – Tenho feito uns biscates por fora e acho que dá para me safar durante uns tempos.

–Imagino que biscates sejam esses. Vender informações às revistas, por exemplo? – Atirou Sofia.

–Desculpa? Onde é que tu queres chegar com essa insinuação? – Questionou Márcio fazendo-se de virgem ofendida.

–Não te armes em sonso! Sabes muito bem do que é que eu estou a falar! – Exclamou Sofia perdendo a compostura e dando uma pancada na mesa suficiente para fazer tremer as duas chávenas de café vazias. – Sê homenzinho e admite que és tu que andas a passar informações sobre mim às revistas! – Levantou-se da cadeira e aproximou-se de Márcio para o intimidar.

–Mais cedo ou mais tarde ia-se saber tudo na mesma, não achas? – Proferiu Márcio tentando esconder o medo do que Sofia pudesse responder.

–E achas que isso é justificação? Se fosse outra pessoa qualquer eu nem me chateava com o assunto, agora TU! Uma pessoa que eu considerava minha amiga e em quem eu confiava como em poucas! Desculpa mas não consigo! – Abanou a cabeça em jeito negativo. – O que é que te passou pela cabeça para me fazeres isto? Fui eu que fui incorreta contigo e esta foi uma forma de te vingares, foi? Explica-me que é para eu perceber!

–Não, não teve nada a ver com vinganças. Tens sido uma pessoa impecável. – Respondeu Márcio sem coragem de levantar os olhos e encarar Sofia. – Eu só fiz o que fiz porque estou mesmo com medo de perder o emprego! Vocês sabem como é que têm andado as coisas! E sabem também que os meus pais não me vão ajudar com nada e que não me aceitam de volta lá em casa. Tinha que arranjar uma solução, não acham?

–E para isso tinhas que me espetar com esta faca nas costas? Não podias procurar um emprego normal como as outras pessoas? Eu e a Bianca também temos despesas: temos a renda para pagar, temos água, luz, net, temos alimentação…! Se o problema era só o dinheiro então vinhas falar connosco e arranjávamos uma solução. Nem que tivesses que vir para a nossa casa! Os amigos são para isso! – Argumentou Sofia.

–Desculpa! – Exclamou Márcio arrependido.

–Não consigo. O que fizeste foi muito grave para mim. Só mostrou a falsidade e o cinismo que há em ti. E eu não consigo confiar em pessoas assim. Lamento! – Sofia levantou-se e foi-se embora visivelmente abatida, sendo seguida por Bianca, que se levantara a seguir, deixando Márcio sozinho.

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