19.

18 2 0
                                    

Os dias seguintes à saída do artigo foram, para Sofia, tudo menos tranquilos. De duas em duas horas, lá surgia um telefonema de uma revista diferente a sugerir uma entrevista
exclusiva ou uma simples confirmação dos factos. Isto, quando não insistiam uma segunda e até uma terceira vez.

–Sofia, é verdade que mantém um relacionamento com o jogador do Sporting Rui Patrício? O que é que pode adiantar sobre esse assunto?

–Desculpe?! – Interrogou Sofia perplexa. Mas quem é que aquele estranho, cujo nome nem sabia, pensava que era para lhe fazer perguntas sobre a sua vida privada e, pior, como é que tinha chegado até ao seu número de telefone.

–É para a revista… - Respondeu o homem que, entretanto, fora prontamente interrompido por Sofia:

–Desculpe mas eu não vou falar consigo sobre a minha vida privada! – Aquele era um assunto que pertencia à sua esfera pessoal que não falava com qualquer pessoa e, muito menos, com um qualquer jornalista da imprensa sensacionalista. O repórter voltou a insistir, sendo novamente interrompido por Sofia:

–Mas pode só confirmar…

–Já lhe disse que não falo sobre a minha vida privada. Por favor, não insista! – E desligou a chamada na cara.

Mas se houve telefonema, o qual Sofia não esperava de todo, foi aquele que recebeu ao terceiro dia. E não, não era de nenhuma revista:

–Explique-me a indecência que vem a ser a publicação que acabo de ver nas bancas? – Era o seu pai, quem falava. Ia a caminho da empresa quando fez a habitual paragem no quiosque do costume para comprar os jornais de economia, dos quais era leitor assíduo há já várias décadas.

–Para quem renegou a sua própria filha e ainda a pôs fora de casa, até se está a mostrar demasiado incomodado com a notícia! E, além disso, não o conhecia leitor desse género de imprensa!

–Deixe-se de insolências! Você só tem dado motivos de vergonha para toda a família. – Nunca nenhum membro da família Vieira da Maia tinha sido alvo de exposição pública desta maneira. E, para Henrique, era inadmissível ver o bom nome da família manchado à custa da vida boémia do membro mais novo do clã. – O que é que pretende com estas atitudes? Se é chamar a atenção para as poucas-vergonhas que faz à noite nesse local de reputação duvidosa onde trabalha, então está no bom caminho!

–Mas por quem me toma?! Aquilo que você chama de poucas-vergonhas eu chamo de trabalho e é o que me paga as contas ao fim do mês desde que me pôs fora de casa. Agora, se prefere dar mais importância àquilo que lê na imprensa do que à minha própria palavra, então é consigo.

–Muito bem, já que me garante que tem meios de subsistência então escusa de voltar a aparecer cá em casa. A partir de agora, considere-se personna non grata para esta família! Bom dia. – E desligou a chamada, deixando Sofia atónita a olhar para o ecrã do telemóvel.

–Eu não acredito…! – Já tinha sido renegada duas vezes mas a assertividade com que Henrique falara levou-a a crer que o corte de relações entre as duas partes, desta vez, era mesmo definitivo e irrevogável.

A partir de agora, a sua família resumia-se a Bianca e Márcio. Mas as surpresas não se ficavam só por aqui…

*******

No dia a seguir, Sofia foi ao banco fazer uns pagamentos e aproveitou, também, para averiguar as últimas movimentações da sua conta bancária. Qual não foi o seu espanto quando o seu gestor de conta lhe comunicou que lhe tinha sido vedado o acesso a essa conta, bem como aos cartões de crédito a ela associados, que tinham sido cancelados.

–Mas tem mesmo a certeza? Ainda há dois dias fiz um pagamento com essa conta e estava tudo bem! - Estranhou Sofia.

–Tenho. A conta foi bloqueada ontem. Apesar de ser a Sofia quem movimentava a conta com mais frequência, o seu pai mantinha o acesso e, como titular principal da conta, pode perfeitamente bloquear-lhe o acesso a qualquer momento, que foi efetivamente o que aconteceu.
– Explicou o gestor de conta.

Por sorte, Sofia possuía uma segunda conta bancária, onde depositava tudo o que ganhava como bailarina e modelo e que era gerida apenas e só por si. Portanto, não se podia considerar, propriamente, na falência.

–Já calculava que isto fosse acontecer mais cedo ou mais tarde. – Admitiu Sofia sem surpresa. - Sendo assim, entrego também os cartões. Se já não tenho acesso à conta então também já não me serve de nada tê-los na carteira! - Retirou os cartões e entregou-os ao gestor de conta, que tratou de os cancelar também.

–Mais algum assunto que queira tratar? – Perguntou o gestor de conta.

–Não, é só isto. Obrigada por tudo.

–Ora essa, sempre às ordens! Boa tarde! – Levantaram-se e despediram-se com um cordial aperto de mão.

No caminho para casa foi a pensar. Era mais do que óbvio que Henrique lhe tinha vedado o acesso à conta após a discussão que tiveram no dia anterior. Aliás, as suas últimas palavras ao telemóvel eram bem explícitas e ainda ecoavam na sua cabeça: A partir de agora, considere-se personna non grata para esta família!. Provavelmente, também iria ser excluída do testamento, mas Sofia também já não estava preocupada com isso. Aliás, até se sentia mais leve e tudo! E isso dava-lhe alento e força para se dedicar ainda mais à sua profissão. Era como se, a partir de agora, se sentisse livre e que nada a podia parar. Já não tinha mais nada nem ninguém a quem dar satisfações e a impedi-la de arriscar em voos mais altos na vida.

++++++++++++++++++++++++++++++++
Esperavam esta atitude de Henrique? O que acham que vai acontecer nos próximos capítulos?

Tudo Tem Um Fim Tahanan ng mga kuwento. Tumuklas ngayon