Segundas Intenções. (Série Família Portinari)

Capítulo 56

Gaell

Sou um homem totalmente quebrado. O destino quis assim ao me separar da minha verdadeira família. Qualquer pessoa que me olhar saberá que não sou feliz. Minhas roupas representam exatamente meu estado de espírito: negro.

Não  consigo me relacionar com ninguém a longo prazo. Sejam amigos ou mulheres. Destruo  tudo em fração de segundos. Afasto  as pessoas de mim. Sou assim, intocável. 

Quando descobri que minha vida era uma mentira, meu mundo desabou. Já era um homem amargo, as coisas só pioraram. Me tornei uma pessoa muito pior.

Graças ao meu esforço sou um homem bem sucedido.  Comecei  a trabalhar desde de muito cedo. Aos 18 anos era Officeboy da empresa do irmão do que se dizia meu pai. Porque nem isso aquele crápula me deu oportunidade na empresa dele. Como meu tio não  tinha filhos, se dedicava a mim. Por isso, não  pensou duas vezes ao me deixar a frente dos seus negócios. Hoje, sou CEO  de uma empresa automobilística.  Somos uma das melhores do mercado.

Sou um homem bem sucedido financeiramente, porém  frustrado em muitas coisas que deixei de viver.

Ao longo dos anos, nunca tive um relacionamento que me fizesse querer casar e construir uma família. Isso não .  Tenho medo de ser para um filho o que o desgraçado do Antonio foi para mim. Tive alguns namoros que não chegaram a completar um ano. Outros relâmpagos de 15 dias. Pois sempre mostrava minha verdadeira face. Não  conseguia ocultar  minha personalidade por mais tempo.

Saio todos os dias para esfriar a cabeça.  Achando que assim as coisas ficarão mais amenas e esquecerei rápido.  A cada noite, saio com uma mulher  diferente. O chato que elas querem casamento depois de uma noite.

Logo que saí da casa dos Sampaio há alguns meses, desde que descobri a verdade, não  voltei mais la. Sequer visitei Antônio Sampaio no hospital. Embora minha mãe  insista, não o farei.

Assim que descobri meu gêmeo, liguei  para um amigo que é dono de uma empresa de segurança e pedi para ele disponibilizar um detetive para me ajudar com esse caso. Ele me mandou o melhor. Dois dias depois tive em minhas mãos tudo o que precisava saber. Tenho dois irmãos e uma irmã.  Duas sobrinhas gêmeas. Tenho pais. Como seria se tivesse crescido em seu meio?

Pensar em como eu teria vivido ou como seria se tivesse sido criado com os Portinari me atormenta muito. Leonardo é meu irmão mais velho, estive rondando a casa dele algumas vezes. Théo é o meu gêmeo. Quando o vi a primeira  vez pessoalmente, surtei.  Cheguei  em casa e quebrei  tudo. Só não  foi pior porque João Lucas meu amigo chegou a pedido de Vera, minha governanta e antiga babá, e me segurou até eu me acalmar.

- Você está louco cara. A cada pessoa que você encontrar da sua verdadeira família vai chegar querendo quebrar a casa? - Joao Lucas fala ríspido.

- Ele é igual a mim. Você não entende como me sinto João. Um lixo. - grito. 

Ele conversa mais calmo comigo e tenta me fazer ver que não é agindo assim que vou resolver esse problema.

Decido que se ficar em casa vou enlouquecer. Saio para mais uma noite de farra. Vou a boate de um amigo recém  inaugurada e onde tenho passe livre. Subo direto para a área vip.

- O que vai querer hoje delegado? - fala uma garçonete me trocando com o Théo.

- A melhor vodca que você tiver. Pura. - digo seco sem olhá-la.

A garçonete refaz o mesmo caminho várias vezes. Vou para a pista de dança  caçar.  Encontro com João Lucas.

- Me seguindo de novo? Que saco João Lucas.  - falo zangado.