Prólogo

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"It's time to let it go, go out and start again
But it's not that easy"
-High Hopes, Kodaline.

"It's time to let it go, go out and start againBut it's not that easy"-High Hopes, Kodaline

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— Já falei que não precisa se preocupar filha, estou bem há algum tempo... Sabe como é, sem crises. — meu pai resmungou ao mexer no seu café.

— Acontece que o senhor não pode parar de tomar os remédios, um descuido e tudo pode voltar. Se for para acordar e te ver feliz preparando meu café como hoje, continuarei comprando.

Hoje foi um dos raros dias que meu pai acordou disposto. Desde quando minha mãe fugiu para o Brasil com o amante, ele não encontra mais razões para viver. O amor deles para mim, era a base, era a coisa que eu mais admirava em toda a minha vida, pena que as piores coisas sempre começam na inocência. Quando meu pai descobriu da traição, não foi fácil, doeu nele e doeu muito em mim, precisei segurar a barra para não vê-lo afundando mais e mais. Ele acabou lidando com muitas crises emocionais, e o remédio para ajudá-lo não é barato.
Por isso, quando fui contratada pela escola primária como assistente de professor, a notícia foi bem-vinda trazendo consigo energias positivas, acredito eu. Pelo menos foi o que eu senti ao pisar na sala de aula e ver o brilho nos olhos das crianças com a nova professora.

— Só não brigo com você senhorita Flora, — meu pai aponta semicerrando os olhos — Porque seu amor por esse trabalho é verdadeiro e muito intenso. Sei que ele trará uma nova cor para a sua vida.

Sorrio contra a xícara ao ouvir suas palavras. Ele sempre sabe o que fala... Minha paixão por crianças é de outras vidas, sempre fui muito carinhosa e sempre gostei de lidar com elas. Acho que foi por isso que escolhi pedagogia logo de cara. Terminei o ensino médio já sabendo o que queria e hoje estou aqui, estudando na Universidade da Carolina do Sul e trabalhando na área. Isso realmente me orgulha.

Termino de comer e me despeço. Agilizando o passo até a faculdade, se eu chegar atrasada é capaz da Brooke me matar. O clima está bem frio — mas não tão torturante quanto aos outros invernos — essa cidade muda de cara sem o verão, acho que é por isso que todos esperam por ele.

Avisto minha melhor amiga encostada no muro do prédio lendo seu livro.
— Outro já? — a pergunto com um humor na voz. Ela levanta seus olhos de oceano marejados e sorri.

— Lógico, não consigo parar de ler esta série, é uma montanha-russa de emoções. — Brooke e eu sempre fomos muito próximas, certamente eu sei mais sobre ela do que ao contrário... Ela cativa qualquer um com o seu espírito meigo e falador.

— Certo... difícil é não ver você se emocionando com esses romances. — a empurro pelo ombro e olho para a porta — Vamos entrar logo, o sinal do outro campus já fremiu e está tudo mundo dentro. — ela assente e caminha comigo. Gosto de tê-la por perto, sempre cultivei uma necessidade de protegê-la por ser um ano mais nova, baixinha e termos uma relação feito irmãs. Já que nenhuma das duas tem esse parentesco na família.

Combinei de encontrá-la na entrada após a aula. Não a vejo muito durante o dia porque ela cursa psicologia e acaba sendo longe da minha sala. Então, nossos encontros são frequentes fora dali.

— Flora! Vai haver um show no DearDark Bar da galera de música, parece que eles têm uma banda... hm, não sei ao certo. Mas precisamos ir!!! — ela vem correndo histérica. — Tipo, geral vai estar lá, entendeu? Gente bonita gente feia, quem se importa. — termina falando com as mãos.

— Qual é Brooke? hoje é terça, está frio e eu trabalho esqueceu? Esse povo não tem mais nada para se preocupar a não ser ficar indo em pubs? — pergunto franzindo a sobrancelha .

— Flora Mendes para de ser velha e preguiçosa, é isso que pessoas da nossa idade fazem: saem, conhecem gente e celebram a vida!

— Isso é só uma desculpa que pessoas como a senhorita, a qual conheço bem — digo perfurando-a com o olhar — Usam para tentar encontrar o "amor da sua vida"! A maior baboseira, diga-se de passagem.

— Ah por favor amiga, vai comigo... Irão pessoas bacanas e bem gatas, te garanto. Vai ser importante para você também. — implora fazendo cara de bebê.

(...)

O problema de trabalhar com crianças é que te cobra muita energia, ainda é começo de semana e eu me encontro exausta. Eu só queria tomar meu banho e assistir Reign na minha caminha, mas prometi à Brooke em ir naquele fucking bar onde verei universitários perdendo o juízo em pleno dia útil — Ok, talvez eu seja uma senhora de oitenta anos num corpinho de vinte e um — Acontece que está frio e... bem, deixa eu me arrumar logo, vou ter que ir de um jeito ou de outro mesmo.

Prendo meu cabelo e entro no chuveiro a fim de tomar um banho rápido para não me atrasar, se eu não chegar a tempo para ver a tal banda da qual Brooke falou é capaz da mesma me matar assim que eu colocar os pés naquele bar. Quando termino de secar meu corpo, me enrolo na toalha e vou direto ao meu guarda-roupa procurar algo para vestir.

Só depois de algumas tentativas eu acho uma combinação de roupa que me deixa feliz com o que eu vejo no espelho. A combinação da calça jeans preta de cintura alta com um suéter grande me deixou confortável e bonita, então isso basta para mim. Coloco meu old skool preto e azul e vou ao banheiro para escovar meus dentes e me perfumar. Passo um pouco de maquiagem, apenas uma base e um rímel para não ir com a cara pálida e passo o pente pelos meus cabelos.

No mesmo momento meu celular apita com uma notificação de Brooke falando que já estava a caminho e que era melhor eu também estar. Sorrio para o celular e pego uma bolsa pequena para colocar minhas coisas antes de sair.

— Pai! — desço as escadas e encontro meu pai deitado no sofá, dormindo. Vou até ele silenciosamente e puxo o cobertor que está na ponta do sofá, para cobri-lo. Pego um post-it na mesa de centro e escrevo um bilhete para avisar onde fui.

Peço um Uber pelo celular e quando o carro para em frente a minha casa, eu dou um beijo na testa do papai e saio. No caminho para o bar penso se será para sempre assim, apenas eu e o meu pai, ele com seus remédios antidepressivos e eu sozinha com minhas séries. As vezes me vejo desejando mais do que isso, não apenas para mim, mas também para o papai. Ele costumava ser a alegria da casa antes da mamãe ir embora, sempre rindo e fazendo os outros rirem. Agora não mais, o amor destruiu ele. E eu não quero que o amor me destrua, então por agora está bom assim, apenas eu e ele. Meus pensamentos são interrompidos pelo motorista que para em frente ao DearDark Bar com suas letras brilhantes néon. É, de vez em quando é bom tentar esquecer tudo isso.

Broken heartsOnde histórias criam vida. Descubra agora