Capítulo 2

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"Do you ever hear me calling? Cause every night i’m talking to the moon."
Talking to the moon, Bruno Mars.

  Acordo assustada com o alarme do celular, olho a tela e os acontecimentos da última noite me vem à mente

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  Acordo assustada com o alarme do celular, olho a tela e os acontecimentos da última noite me vem à mente... parece que a claridade ajuda na ressaca. Não que eu tenha bebido muito, mas sair durante semana é uma coisa que não estou muito acostumada. Sinto o peso das pernas de Brooke nas minhas e a cutuco.

    — Amiga, são sete horas, acorda ou vamos nos atrasar! — entretanto, a dorminhoca sequer treme a pálpebra. Ô baixinha folgada, rouba todo o espaço do colchão! — Brooke, eu vou ligar o alarme bem na sua orelha se você não...

    — Nem pense em fazer isso. — resmunga com a voz rouca e uma expressão engraçada. — Eu odeio a merda de qualquer barulho de manhã... Ótima tentativa sua pilantra!

    Saio da cama rindo ao lembrar das vezes em que Brooke chegara atrasada na escola por nunca programar o celular e depender de sua mãe — tão dorminhoca quanto — para conseguir acordar.

    Abro as cortinas e deixo os tímidos raios de sol matinal invadir meu quarto, ele fica muito relaxante assim e eu me sinto mais confortável aqui do que qualquer outro lugar. Respiro fundo e acendo meu incenso de lavanda.
    Chamo Brooke mais uma vez antes de pegar minha toalha junto com o meu kit banho para o corpo e ir ao banheiro.

    A água cai forte em meus ombros, mas seu efeito é totalmente contrário contra minha pele. Ouço duas batidas na porta, antes mesmo de responder ela se abre revelando a loira preguiçosa com seu cabelo bagunçado e sua escova de dente na mão. Começo a enxaguar o cabelo sentindo o suave aroma de maçãs.

    — Miga, você já pensou em voltar a sair com alguém? — Brooke pergunta depois de alguns minutos de silêncio. Fico sem saber o que responder por um momento, ela sabe que não estou pronta... ela é a única que sabe o que aconteceu comigo!

    — Você sabe que não Broo, estou dedicando esse tempo a mim. — respondo sem entender o fundamento da conversa.

    — Bom, eu entendo. Mas você não tem medo de ser só isso para o resto da vida? Se não fizer diferença tudo bem, eu continuarei com você até o fim... já consigo imaginar a gente se visitando ou até mesmo contando sobre nossa história para meus filhos. — ela comenta com pasta na boca. — É difícil acreditar que fomos tão sortudas ao ponto de ter uma amizade assim, tipo irmãs. Mas eu também sei que no fundo isso não é suficiente... não é a solidão que você escolhe.

    É claro que não, quem gosta da solidão? Não vejo minha decisão como uma abertura para isso. Só é uma maneira que achei de evitar a destruição do coração, talvez mais uma vez machucado não haja solução.
Mas permaneço quieta.

    — Enfim... já consigo sentir o cheirinho de café do seu pai, vou descer lá ok? Te amo teimosa. — Brooke se retira com um tom de pena, consigo ouvir e ela também, sei que ensaiou muito para tomar coragem mas também sei que ela precisava dizer.

(...)

    Visto minha calça cinza justa que combina perfeitamente com minha blusinha social listrada de mangas compridas. Me olho no espelho com um ar nostálgico, a menininha do high school que sofreu a maior humilhação no seu último ano já se foi, agora eu vejo uma adulta independente e bem resolvida que aprendeu a viver por si.
    Calço minhas botas favoritas, me olho uma última vez analisando a maneira apertada em que a calça veste meu quadril e parto para as escadas ouvindo papai contar sobre sua época de barzinhos para a loira. Os dois se adoram, Brooke sempre gostava de ouvir meus pais contarem as histórias da faculdade...
“Sr. e Sra. Mendes, minha meta é ser vocês”, ela os admirava tanto quanto eu... ainda lembro do dia em que te contei aos prantos sobre a minha mãe. Ela ficou decepcionada e confusa, mas diferente de mim, não deixou isso tirar sua esperança no amor.

    Olho para o papai.

    — Bom dia minha filha linda! — beijo sua testa sorrindo. — Já estou sabendo do banho de cerveja viu? Mas não se preocupa, seu cabelo parece muito mais brilhante hoje. — complementa tirando sarro do meu trauma de ontem.

    — Que ótimo saber que além de preguiçosa, a minha amiga é fofoqueira. — Olho para a Broo entortando a boca numa expressão ameaçadora que acaba se desfazendo ao ouvir sua gargalhada.

    Tomamos o café harmônico alegremente, despedimos do meu pai e partimos para o campus com o carro. Eu tinha planos em comprar um, mas devido o estado do Senhor Mendes, o HB20 bronze é praticamente meu... mas o uso com moderação, claro!
    Observo as árvores da cidade passando e balanço a cabeça de acordo com a melodia.

    — Está em condições de dar aula? — Brooke pergunta atrapalhando a voz de Harry Styles em meus ouvidos. — Porque eu só penso em matar aula e ir para casa dormir.

    Sorrio.
    — Ah jura? Conte uma novidade.
Sei lá, acho que estou... preciso trabalhar de qualquer forma, só estou arcando com as consequências.

    Chegamos na universidade e corremos para as salas. Tudo passou bem devagar, mas acredito que a culpada seja minha indisposição.
    Praticamente saio fugindo quando a aula termina, tenho poucos minutos até dar o horário do trabalho, a sorte é que a escola não fica tão longe do prédio. Quando chego, já avisto as crianças brincando e sorrindo para o Sr. Montgomery... É, acho que tudo já valeu a pena até aqui.

    Precisei assumir a turma esta tarde porque os professores tiveram reunião.            Então, pedi para os alunos desenharem suas famílias... a animação foi grande e todos quiseram me mostrar a própria arte, arrancando-me um sorriso de ponta a ponta. Um de cada vez foi até a mesa, eu me senti muito especial. Uma garotinha diferente — a novata presumo — caminhou timidamente com o seu papel. Alguns dias atrás, a diretora havia nos comunicado que uma aluna trocaria de sala por pedido da mãe, acho que ela precisava estar num local mais aberto e ventilado, mas não sei muito detalhes.
    Consigo olhá-la melhor agora e me encanto com sua fofura, observo suas bochechas rosadas e sua franjinha atrapalhando sua vista, logo sendo ajeitada por sua mão pequena. Estranho como me parece familiar, seus olhos... esse olhar possui um mistério e uma certa intensidade, nunca tinha visto um assim desde onte... Bem, seus olhos são muito bonitos! No seu desenho ela está segurando um cachorrinho e fica entre um casal, todos felizes. Acho que ser filho único está cada vez mais moderno, mas espero que ela não sinta falta de alguém para contar.

    — Tem uma bela família Alyssa! Também sei como é não ter irmãos, mas espero que seu amiguinho aqui, — aponto para o animal — seja um ótimo parceiro.

    No entanto, a pequena só levanta o olhar para me encarar como se tivesse processando informações e recolhe sua folha.

    A tarde passa rápido, porém o cansaço ganha força quando saio do trabalho. Passo num restaurante mexicano e encomendo alguns tacos para jantar com o papai.
    As luzes do meu farol iluminam a janela da sala já escura, meu pai devia estar muito cansado para não me esperar... fico um pouco triste em comer sozinha, mas me distraio atualizando as redes sociais.

    Subo para meu quarto iluminado apenas pelo brilho da lua, deixo minhas coisas na escrivaninha e corro para o banho. Passo meu Body Splash de pêssego e visto meu pijama de seda rose gold... ainda dá tempo de escutar alguma musiquinha, então caminho até meu pequeno sofá de janela e escolho minha melhor playlist para admirar a escuridão.
    Como se fosse peça do destino, minha noite e meus pensamentos bailam com “Talking to the moon”.

Broken heartsWhere stories live. Discover now