2º Capítulo

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Micael tomou o seu café, releu contratos, brigou com funcionários, mandou e-mails, vasculhou sua caixa de mensagens no celular e por último, confirmou três horas de programa com Sophia Abrahão, como indicava no papel. Viu o dia passar diante a janela, levantou-se da poltrona de couro, desligou o IMac, tinha a chave da Land Rover preta nas mãos, despediu-se da secretária e desceu pelo elevador, arrumou a gravata no espelho.

O IPhone vibrou, impaciente.

— Inferno! — Tocou o botão verde. — Eu já estou chegando.

Pode fazer um favor para mim? Eu preciso de creme para as pernas. Não fui ao mercado hoje. — A voz de sua esposa ecoou, doce, como sempre foi. Aline era uma mulher muito boa, mas não conhecia o marido que tinha.

— Não sou o seu empregado, se quisesse, compraria mais cedo. — Passou pela porta automática, apertou o botão do alarme. A Land Rover soou um barulho.

É só um favor! Apenas um creme.

— Compre amanhã, Aline. Não me encha o saco! — Tirou o iPhone do ouvido, desligou a ligação deixando a esposa falar sozinha. Colocou a chave do carro no contato e deu partida ao seu apartamento.

Quarenta minutos e já estava na garagem subterrânea do condomínio. Saiu da Land Rover apertando o alarme novamente, os vidros levantaram, automaticamente. Tinha sua pasta nas mãos, entrou no elevador.

— Boa noite, Micael! — A mulher de cabelo cacheado o cumprimentou.

— Boa noite! — Deu meio sorriso, era tão frio que não conseguia ter um pouco de moleza, até na hora de cumprimentos.

— Como vai a sua esposa? — Tentou ser agradável, iria falhar miseravelmente.

— Bem. — Cruzou as mãos em frente ao corpo.

— Hum... Ok, então! — A mulher sorriu, a porta do elevador se abriu. — Mande um abraço para ela.

— Mandarei assim que tiver um tempo. — Agradeceu por a porta ser fechada novamente, poderia subir o seu andar sem medo de ser abordado por alguém.

O barulho sofisticado do elevador ecoou nos ouvidos de Micael, o mesmo saiu, enfiou uma mão no bolso da calça social, tirou a chave do apartamento, que era na cobertura, arrumou no portal e abriu, o cheiro de luxo invadiu as narinas. Nenhum vestígio de Aline.

Tinha quarenta e cinco minutos para se aprontar, voltar á garagem e ir até o flat alugado, esperar por Sophia que chegaria meia noite em ponto, no local marcado. Escutou passos fortes descendo as escadas, sua esposa apareceu, descalça, usava um roupão de seda na cor preta.

— Conseguiu chegar? — Cruzou os braços.

— Se eu estou aqui é porque cheguei. — Passou pela esposa, subiu as escadas. Ela o seguiu.

— Sua mãe me ligou, nos convidou para um almoço no sábado.

— Vá sozinha. — Entrou no closet, abriu sua gaveta de cuecas.

— Por que é assim? Tão... Rígido.

— Você me enche demais, até no trabalho. — Foi até a suite do quarto, se despiu.

— Bom saber disso. — Emburrou. Viu o marido entrar dentro do box e tomar um banho quente. — Onde vai?

— Sair, eu tenho uma reunião. — Mentiu.

— Agora? Não podia desmarcar?

— Não, Aline. Eu não podia! — Estava se enchendo, passou o sabonete pelo corpo.

— Mais uma noite sozinha.

— Você supera! Agora me deixe tomar banho. — Pediu, friamente. Virou-se de frente ao azulejo dando continuação ao seu banho.

Aline o deixou, desceu as escadas e se pôs a chorar quieta, no pequeno cinema que havia no apartamento. Micael ainda continuou seu banho, saiu da suíte com uma toalha na cintura, secou-se, vestiu a cueca boxer, andou até o closet, escolheu por uma regata branca, calça jeans e um sapatênis West Coast preto azulado, de couro, optou por uma jaqueta da mesma textura. Arrumou os cabelos, passou o maldito perfume que causava tesão nas mulheres, o cheiro másculo impregnou o ambiente, se encarou diante do espelho, perfeito! Escovou os dentes, buscou a chave da Land Rover e desceu as escadas, não iria falar com Aline, não estava adequado para uma reunião de negócios.

Por fim, estava dentro do carro, dirigiu até o flat que foi comprado por ele alguns meses atrás, luxuoso, assim como seus gostos. Estacionou no subsolo, entrou no elevador, esperou alguns segundos até chegar em seu andar, entrou no local vendo a cidade toda, o vidro era enorme, as luzes invadiram a sua visão, um dinheiro bem investido.

Andou pelo local, tirou o sapatênis junto com a meia, retirou a jaqueta de couro largando em cima de uma poltrona de camurça, foi até o pequeno bar, preparou uma dose de uísque, dois cubos de gelo, perfeito. Sentiu o álcool nos lábios, cerrou os olhos antes de encarar o relógio do iPhone, que indicava meia noite e sete.

Sophia Abrahão estava atrasada.

Escutou duas batidas na porta, largou o copo no pequeno bar, foi de encontro á porta revelando Sophia, que mulher!

Micael estava... Hipnotizado. Nunca tinha visto a beleza de alguém, assim, tão... Entregue.

— Boa noite, senhor Borges. — Sophia sorriu, maldito sorriso! O que estava acontecendo com ele não era normal, ele não poderia se apegar assim, tão fácil, em uma troca de olhares. Azul e castanho. — Posso entrar?

— Claro. — Deu passagem á Sophia que entrou, levava sua bolsa consigo, o escarpin preto atolou no carpete fofo, ela resolveu tirar.

Enquanto tirava, Sophia fez um movimento peculiar, abaixou-se dando a visão perfeita de suas curvas, dentro do minúsculo vestido vermelho, Micael engoliu seco, ele não podia se entregar assim, era apenas uma mulher.

— O que vamos fazer esta noite, senhor Borges? — Estava descalça quando encarou Micael novamente, tinha um sorriso brincalhão.

— O que toda prostituta faz. — Andou até o pequeno bar, preparou uma dose de uísque para Sophia. — Aqui está.

— Obrigada. — Pegou o copo de vidro, deu uma golada no álcool que desceu rasgando. — Peter me contou um pouco sobre você.

— Que bom! Ele não sabe da metade sobre mim. — Encarava a janela, não deu atenção em Sophia.

— Pelo que parece... Você é um pouco frio. — Tentou chegar perto, não conseguiu, as mãos de Micael a pararam.

O toque... O toque dele estremeceu Sophia, por inteiro. Aquele homem era surreal!

— Me deixe te agradar, senhor Borges. — Pediu.

— Você acha que eu não conheço mulheres como você? — Encarou Sophia que tinha os olhos grudados nos de Micael. — O dinheiro te trouxe aqui.

— Faço meu trabalho com muita ambição.

— Vamos ver se você vale tudo isso, Sophia Abrahão. — Cheirou o pescoço da loira que fechou os olhos. — Seu perfume é excepcional, deixa o meu pau acordado! — Silabou no ouvido da mulher, estava morrendo com as palavras dele. — Comece o seu teatro para receber o dinheiro, eu estou disposto a assistir e ter boas críticas. — Voltou a encara-la.

Os olhares ardentes não paravam, Sophia decidiu avançar o sinal e provar um pouco do homem mais frio que já tinha conhecido.

Perfume de Mulher - MiniFic Where stories live. Discover now