40° Capítulo

698 44 85
                                    

— ALINE. — Não conseguiram segurar Micael, ele entrou em disparada no quarto, teve as duas mãos fortes flexionando o peito da esposa. Não adiantaria, ela já estava morta. — VAMOS. — Continuou, colocando toda sua força, a maca balançou e ela não teve nenhuma reação. Sophia chorava, quieta, no canto, o médico jovem chamou sua equipe que chegou, cinco minutos depois. — VOCÊ NÃO PODIA ME DEIXAR. — Estava chorando. Micael estava chorando, teve Aline nos braços trazendo para si, o corpo da esposa ficou totalmente mole. Era cruel!

— Senhor Borges, eu sinto muito. — O médico voltou a dizer. — Nós vamos levá-la para o andar de baixo, você nos autoriza à fazermos a autópsia? — Ele ficou em silêncio, ainda tinha Aline nos braços. — Senhor Borges?

— Podem fazer. — A voz doce de Sophia ecoou, embargada, mas ecoou. — Eu cuido dele daqui.

— Ótimo. — O médico pediu licença para Micael que não soltou Aline, Sophia interviu dizendo algo em seu ouvido, ele soltou, dando o corpo sem vida da esposa para os médicos levarem. Abraçou Sophia deixando as lágrimas rolarem, ela pensou que nunca viria isso na vida, Micael Borges soluçando de chorar, pela perda de sua esposa.

— Eu vou te ajudar, não se preocupe. — Sussurrou. Estava doendo nela ver ele assim.

— Ela se foi, ela só queria a porra do feto. — Apertou os olhos, lembrando-se. — Ela só queria isso. E eu não pude dar, mais uma vez.

— Não se menospreze. — Pediu Sophia. — Aline descansou, ela estava mal e descansou.

— Ela não poderia ter me deixado. — Negou com a cabeça. — Ela não poderia.

Sim, ela não poderia ter o deixado, mas deixou. Sophia teve trabalho ao tirar Micael do hospital, autorizou a autópsia de Aline e esperaram pelo resultado. O médico jovem não os disse que o bebê nasceria com uma síndrome, e que o sangue de Aline havia escorrido por dentro, lhe dando uma hemorragia, que afetou seu coração, tirando sua vida. Micael sempre odiou essa parte da medicina, ainda mais agora que sua esposa estava morta.

— Você quer um café? — Era tardezinha quando Sophia perguntou á Micael se ele gostaria de comer, estava pálido, as olheiras fundas, não queria fazer nada, não queria pensar em nada.

— Eu quero morrer junto com Aline. — Encarou os olhos tristes de Sophia.

— Não. Você precisa estar vivo, você precisa encarar isso junto comigo.

— Minha mulher morreu e eu não pude fazer nada.

— Ela escondeu de você uma doença, não tinha nada a fazer.

— E por que ela escondeu? — Apertou de leve os olhos, estava tendo uma dor de cabeça constante, por conta do choro. — Eu entreguei tudo a Aline, estava disposto a ajudar, e ela negou, ela nunca negaria mas dessa vez ela negou.

— Talvez ela estivesse com medo de te incomodar. — Soltou, nem pensando nas características da face de Micael.

— Ela nunca me incomodaria. — Cruzou as mãos. — Eu estava me lembrando quando fomos à uma viagem para Rockstell, ela tinha dezenove anos. — Riu, lembrando-se. — Estava com os cabelos curtos, sua mãe havia brigado com ela no dia. — Fungou o nariz. — Ela me disse que tinha sonhado com nosso futuro, e disse que eu seria um homem muito poderoso, teria meu próprio negócio, e que ela, me ajudaria em tudo que eu precisasse.

— E isso aconteceu. — Sophia encolheu os ombros.

— Eu não serei o mesmo sem Aline. — Abaixou a cabeça. — Quero que me faça um favor, e se não quiser, simplesmente vá embora. — Engoliu seco. — Eu darei meu celular á você, comunique a família de Aline, eles precisam saber.

— Eles sabiam do bebê?

— Acredito que não. — Respirou fundo. — Eu vou achar um jeito de arrumar outras coisas, preciso ficar... Bem. — Levantou-se e saiu andando, deixando Sophia pensativa.

E assim ela fez, buscou o IPhone de Micael comunicando a mãe de Aline, que chorou na segunda palavra que a loira silabou, de resto seus irmãos e por últimos os primos e amigos. Saiu em busca da data de velório, enterro e outras coisas a mais, Micael estava sem cabeça para nada, não conseguiria fazer tudo aquilo sozinho. Ele estava perdido, dentro da sua Land Rover, encarava o volante não sabendo o que fazer, mexeu em seu porta-luvas achando a caixa de cigarro, acendeu um e tragou, tinha os dedos trêmulos, a ficha iria cair de que Aline se foi, o deixou. Demoraria, mas iria cair.

— Sei que precisa ficar sozinho. — Sophia bateu à porta do carro, encarou Micael, triste, com seu cigarro. — Só queria confirmar que arrumei tudo. Aline saiu da micropsia agora pouco. — Pausou. — Que tal irmos para a casa? Você precisa descansar, já é noite.

— Eu irei ficar, até amanhã de manhã. — Disse. — Não tenho nada para fazer em casa.

— Não seja tão radical. — Mexeu em seus cabelos. — Precisa estar forte quando receber a mãe dela.

— Eu não quero estar forte. — Silabou, teve a cabeça apoiada no volante, chorando novamente. — Ela se foi! — Socou o câmbio dando um desperto em Sophia, não sabia como acomodar uma pessoa que acabou de perder outra pessoa. Apenas fez carinho em suas costas enquanto Micael chorava. — Por favor, vá para casa, eu quero ficar sozinho com Aline.

— Micael, ela está no...

— Eu sei que ela ainda está aqui. — Teve os olhos castanhos entregues para Sophia. — E eu preciso me desculpar por tudo que eu fiz.

— Se é assim. — Deu meio sorriso. — Eu irei para casa, trarei roupas limpas para amanhã, creio que o velório será cedo.

— Tanto faz, eu só quero ficar sozinho.

— Ok. — Sophia saiu da Land Rover, o deixando lá. Voltou para o hospital, cruzou os braços e encolheu os ombros pelo vento frio que batia em seu corpo, os cabelos em movimento. Não tinha nada o que fazer, Aline havia morrido, a mulher de Micael, e nem ao menos soube os podres que o marido tinha feito consigo, Sophia iria contar, mas não deu tempo. Pegou seu IPhone e discou o número de algum táxi, as bochechas estavam coradas diante do vento. Esperou por alguns minutos até o veículo amarelo estacionar, na frente do hospital. Sophia embarcou. Deixando Micael despedir-se de Aline.

Perfume de Mulher - MiniFic Where stories live. Discover now