33º Capítulo

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— Eu tinha seis anos quando minha mãe me deixou. — Micael suspirou, estava deitado na maca confortável. — Meu pai batia nela, torturava, e eu sempre acabava vendo. — Pausou. — Era terrível! Eu cresci com essa coisa na cabeça, não conseguia manusear bem.

— Você chegou á bater na sua mulher?

— Sim, os três primeiros anos. — Cerrou os olhos. — Aline me irritava, e eu, descontava nela. De todos os jeitos.

— Ela está grávida agora, não está?

— Sim. — Pausou. — Mas eu não encosto nenhum dedo nela, eu prometi que iria parar com isso. E estou... Em termos, conseguindo.

— Não faz sexo á quantos meses?

— Seis meses. Eu ainda traio Aline. — Respirou fundo. — É um modo de me distrair, ela às vezes me prende demais.

— Você disse para mim que faz todas essas coisas com ela, mas disse também que a ama. Então por a trai?

— Eu não consigo responder essa pergunta, nem mesmo para mim.

– E por que não consegue? Algo te prende?

— Eu também não sei. — Suspirou. — Ela me irrita muito, mas eu a amo. Aline foi praticamente a mulher que viveu comigo, durante as aulas de verão, e na faculdade também.

— E você decidiu que iria viver ao lado dela?

— Exatamente. — Remexeu os pés. — Por isso acabo abusando demais de Aline.

— Como está sendo o seu comportamento com o bebê? Pelo que me disse, você não queria ser pai.

— Eu não quero ser pai. O feto... Ele está bem, Aline diz que fica chutando, e doendo sua barriga. Ela enjoa demais, o feto não gosta do cheiro de brioche.

— Brioches são gostosos!

— Também acho. — Cruzou as mãos.

— Mas por que não queria ser pai?

— Porque não quero que meu filho veja o que eu reproduzia com a mãe dele. — Encarou o psicólogo que largou a caneta, deixou o papel em cima de sua mesa.

— Certo. Nós acabamos por hoje! — Sorriu, em termo acolhedor. Micael saiu da maca, vestiu seu terno novamente. — Teremos outra consulta na semana que vem.

— Não conseguirei vir, tenho questões a resolver.

— Então eu remarco com a sua secretária.

— Ótimo. — Deixou a sala do psicólogo, saiu do consultório, entrou em sua Land Rover, até chegar na empresa, que estava caótica como sempre.

Foi rápido ao pegar o elevador, esperando por seu andar.

— Senhor Borges, que bom que voltou. — Sua secretária o parou, tinha a prancheta nas mãos.

— O que houve agora? Phill não está comandando nada? — Entraram em sua sala.

— Está sim, uma reunião com os canadenses. — Verificou a prancheta. — Eu marquei ao senhor uma reunião com os australianos, estão querendo comprar uma boa parte das ações.

— De novo? — Franziu o cenho. — Que dia será a reunião?

— Amanhã, então não se atrase! Sabe como são.

— Claro. — Mexeu em seu IMac. — Está dispensada, mas antes, chame Phill até aqui.

— Ok! — A secretária saiu. Micael continuou a mexer em seu IMac, minutos depois o amigo apareceu, tinha um sorriso no rosto.

Sentou-se na poltrona, na frente de Micael.

— Sua secretária é gostosa.

— Mas não é para o seu bico. — Encarou o amigo.

— Me chamou por que?

— Você está acabando com a minha reputação.

— Sua reputação de ficar rico? — Riu. — Você é um fodido sortudo. Tem uma linda mulher, e agora, terá um filho.

— O feto não me diz em nada.

— Ah, Micael! Você sempre foi estranho. Não sei como Aline te aguenta.

— Aline sabe dos meus gostos. E afinal, você nem tem uma mulher, é solteiro! Come prostitutas.

— E você não come? — Debochou.

— Isso não vem ao caso.

— Borges, você acha que eu nasci ontem. — Pausou. — Com todo o respeito, eu comeria a sua secretária, enquanto você estivesse de férias.

— Você me dá náuseas às vezes.

— Rose me diz isso, só que de um jeito engraçado.

— Fiquei feliz por ela ter aceitado o meu convite, o acampamento de férias parece uma boa opção.

— O acampamento de férias é mais uma bela desculpa de tirar dinheiro dos pais.

— Você não terá prejuízos, eu paguei o acampamento inteiro.

— Você entendeu o que eu quis dizer. — Gesticulou. — Rose está animada.

— Acredito que sim. — Mexeu em alguns papéis. — Eu tenho que ir.

— Mas já? E venha cá, onde você estava? — Perguntou Phill quando Micael levantou-se, tinha a chave da Land Rover nas mãos.

— Eu fui ao médico. — Queria fugir do assunto. — Mais alguma pergunta?

— Você some do nada, sei que a empresa é sua mas... Precisa...

— Não venha me dizer o que eu preciso. — Embraveceu. — Minha mulher está grávida e eu preciso ir embora, não adianta espernear. Você é meu funcionário, nada mais.

— Lembre-se disso quando pedir minha ajuda.

— Vá para o inferno. — Saiu de sua sala, já estava quase na hora de ir para casa, em horário restante de trabalho. Micael entrou em sua Land Rover, dirigiu até seu apartamento, pode parecer loucura mas estava com saudade de estar em casa, pela primeira vez.

Entrou com tudo buscando Aline com o olhar, tirou o terno, arregaçou as mangas da camisa de botões.

— Estava te procurando. — Viu a mulher saindo do corredor, já vestida com seu robe.

— Fui tomar um banho. — Sorriram. — Como foi o trabalho?

— Phill e...

— Ah, você e esse Phill. — Foram até o balcão da cozinha. As caixas de pizza abriram um buraco no estômago de Micael. — Por que brigam tanto?

— Ele é um burro. — Pegou uma fatia, sentiu o queijo na boca. Uma delícia! — Estava falando do acampamento de Rose.

— Fiquei feliz de ter dado esse presente. Parece um ótimo lugar para ela.

— Você queria que o feto fosse com ela? — Terminou de comer sua pizza.

— O feto não tem idade para essas coisas.

— Mas se tivesse, você gostaria que ele fosse?

— Seria um programa legal. — Sorriu. — Mas por que essa pergunta?

— Só estava querendo ser... Eu não sei o que estava querendo ser. — Aline sorriu.

— Estou gostando de te ver assim. Eu o perdoo. — Ficaram em silêncio, a morena tinha os braços cruzados enquanto o via comer. — Continue desse jeito. — Deixou o marido jantar sozinho, no meio de seus pensamentos.

— Aline. — A chamou, ela virou-se encarando o mesmo. — Obrigado.

Obrigado. Fazia tempo que Micael não dizia obrigado, para ninguém. Aline assentiu e saiu sorrindo, estava tendo progressos, Micael estava voltando a ser um homem bom.

Perfume de Mulher - MiniFic Where stories live. Discover now