A MELODIA QUE PREENCHE O BURACO DA MINHA EXISTÊNCIA MEDÍOCRE

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[02.04.19]

Quando Jeongguk abriu os olhos naquela manhã, foi só porque o sol estava batendo direto da janela em seu rosto, esquentando-o e atrapalhando seus sonhos — ótimos, diga-se de passagem.

Queria continuar sonhando ou melhor: queria não ter voltado para casa. Queria que a noite passada não tivesse acabado. A cada segundo que Jeongguk passava naquela loja, ao lado de Taehyung — que parecia ser um limítrofe ambulante entre a babaquice e alguma espécie nova e estranha de doçura —, era um segundo a mais desejando que o tempo não andasse para a frente.

E com certa raiva de si mesmo, via-se constatando como nunca mais poderia voltar para aqueles momentos. Nem mesmo em suas lembranças aquele momento seria o mesmo, fato que deixou Jeongguk com o peito apertado. E mais que isso: odioso.

Estava tentando fazer Kim Taehyung se apaixonar, então por que é que se sentia assim?

O sol esquentando sua pele fez seus pensamentos fervilharem junto.

Ele tinha esquecido de fechar a janela e as cortinas, algumas poucas horas atrás, quando entrara de volta em casa com a ajuda de Taehyung — escalando as paredes como um ladrãozinho desajeitado e patético, mas sentindo-se o próprio homem-aranha.

Abrindo os olhos devagar, encarou a janela com um pequeno sorriso que não demorou a se transformar em uma careta. Taehyung tem que se apaixonar, Jeongguk. Taehyung! Você vai perder a aposta desse jeito!

No meio de seus pensamentos, Sooyoung apareceu de súbito. Seu rostinho delicado, seus longos cabelos pretos e a sua frase "a verdade é que estou gostando do Taehyung, e eu não quero que ele se apaixone por você..."

Jeongguk se sentia um fura olho. Um péssimo amigo, um ser humano torpe e falso. Sentia que devia dizer à garota que talvez também estivesse gostando de Taehyung, mas, então, qual seria a reação dela? Além do mais, aquilo era algo que ele não queria admitir nem a si próprio. Só admitiria sob tortura que estava ligeiramente interessado e encantado pelo idiota do Kim Taehyung.

Idiota era algo que caberia muito bem como um elogio a Taehyung até treze ou quatorze horas atrás, mas, naquela madrugada anterior, enquanto se beijavam devagar deitados no tapete persa da loja e ouviam a música baixinha, Jeongguk tinha percebido que havia um lado de Kim Taehyung que ele não conhecia e que, surpreendentemente, era doce e de história forte. A mãe falecida, o pai que só sabia lhe dizer coisas ruins sobre o que quer que ele quisesse fazer.

Sabia mais ou menos o que Taehyung sentia. Não pela parte da mãe, mas por sempre ouvir coisas ruins sobre suas notas do colégio e agora da universidade, sobre seu desempenho "mediano e até baixo" na música clássica, nas línguas, no terceiro teste de direção em que era reprovado. Jeongguk sempre se sentia um grande medíocre ou talvez um grande nada quando seu pai falava dele. Para sua sorte, tinha sua mãe, que lhe devotava enorme amor e cuidado.

E ele sentia, pela primeira vez, que se quisesse se abrir com alguém, Taehyung seria a pessoa que o entenderia. Porque Jimin e Sooyoung, apesar de serem seus melhores amigos, tinham relações ótimas com seus pais incríveis. Eles não o entendiam e, por mais que tentassem dizer coisas boas, não era como se Jeongguk se sentisse consolado e reconfortado. Ou o mais importante: compreendido.

Jeongguk se virou na cama, olhando a janela e sorrindo para si mesmo enquanto se lembrava da noite anterior.

Por que de repente pensar em Taehyung aquecia seu coração?

Ah, ele ia se foder tanto. E nem era no sentido pervertido e gostoso que ele esperava que fosse.

Ia perder a aposta, já começava a contar com sua própria derrota. E de maneira incompreensível, não parecia ligar. De repente, não parecia ser abominável admitir seu interesse por aquele roqueiro presunçoso... na realidade, para ser sincero com seus próprios sentimentos, subitamente, toda aquela aposta e sua vingança pareciam bobeira.

sobre todas as bandas de rock que eu não conhecia antes de conhecer vocêWhere stories live. Discover now