FLAGRANTE

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Pela manhã dou uma olhada pelo espelho do meu guarda roupa e vejo os hematomas e tenho vontade de matar meu próprio pai. O ódio está querendo me consumir, mas mais uma vez é só pensar em minha mãe e em minha irmã que passa. Na cozinha, elas me esperam com caras de preocupação. Meu pai já saiu e podemos falar mal dele e é o que fazemos. Estamos cansados desse seu temperamento e até minha mãe que sempre nos pediu para termos paciência com ele, está dizendo que não aguenta mais. Ela sempre nos disse que meu pai cresceu sozinho na vida, morando de favores e como não teve pais, não sabe ser um. Antes, eu até sentia pena, mas com o tempo esta história já não me interessa mais. Eu não tenho culpa da sua desgraça.

Vou para a escola e concentro nas aulas. Quando estou almoçando, Theo quer saber como foi o meu encontro com a Caren. Ele não me viu entrando no carro da Nik e eu agradeço a Deus por isso. Antes que eu diga qualquer coisa, Caren entra na lanchonete e nos encontra com o olhar. Se aproxima sorrindo e quando se senta ao meu lado, me dá um beijo rápido nos lábios. Theo sorri e nos deixa a sós.

– Está tudo bem na sua casa?

– Agora está sim.

– Então podemos marcar o nosso reencontro para sábado às 18:00? Quero tomar um sorvete dessa vez.

Seu rostinho lindo está com um sorriso tão encantador que fica impossível negar.

– Adoro sorvete.

Ela sorri e me dá mais um beijo. Termino de almoçar e ela de tomar seu suco, pois já almoçou mais cedo. Segundo esta morena linda, só quer me fazer companhia. Caminhamos conversando até próximo a loja onde trabalha meio horário. Caren me abraça e fala:

– Adorei o nosso encontro, mesmo que tenha terminado às pressas.

– Eu também gostei.

Ela retira meu óculos, olha em meus olhos, depois me beija. Correspondo mesmo não querendo muito. Não sei por que, mas estou com vontade de terminar com ela antes mesmo de começar alguma coisa. Deve ser por conta da surra que levei ontem, até sábado isso passa.

No jardim começo por regá-lo, depois podando alguns matinhos que teimam em crescer juntos com as flores. Horácio abre o portão e por ele entra uma criança e um homem.

– Cadê a tia Nik? – o menino pergunta e por sua voz enrolada e seus traços de portador de síndrome de Down, tenho certeza que é o sobrinho da Nik e esse homem que o acompanha é o irmão. Só não me lembro seus nomes.

O garotinho me vê e se aproxima curioso.

– O que você está fazendo?

– Cuidando das flores. Gostou do jardim?

Ele olha para os lados.

– Está bonito.

O homem se aproxima e me cumprimenta, pega a criança pela mão e a leva para dentro da casa. Menos de dez minutos depois o garoto volta.

– Quero cuidar das flores também.

– Legal, estou mesmo precisando de um ajudante. O que você quer fazer, tirar matinhos que estão do lado das flores ou molhar a grama?

– Quero tirar os matinhos.

Ele se abaixa ao meu lado e eu o mostro quais são os matinhos que ele deve retirar. O garoto é esperto e logo define o que deve continuar plantado e o que deve ser retirado.

– Qual é o seu nome? – pergunto.

– Jack. E o seu?

– Benjamin. Quantos anos você tem, Jack?

O APRENDIZWhere stories live. Discover now