O APRENDIZ

IGUAL AOS OUTROS

Nik buzina e eu ainda estou tomando café, dou um beijo em Val e em mamãe e corro para ver logo aquele rosto lindo sorrindo para mim. Ela não só sorri, quanto me beija e diz ter sonhado comigo. Na empresa cumprimento Laís e todos os colegas que estão perto de minha mesa. Na hora do almoço, todos vão juntos para a lanchonete e eu fico tentando salvar um arquivo que devo mexer depois. Laís me ajuda e seguimos a turma, Nik está saindo do elevador com a mesma mulher que estava ontem quando me ignorou. Meus olhos não querem desviar, mas como sei que para ela será difícil, abaixo os olhos quando ela passa por nós.

– Oi, Benjamin.

Fico feliz por ela ter me cumprimentado, deixado que as pessoas verem que ela nota a minha presença, mas mesmo assim, fico muito surpreso.

– Oi, Dominique. – Dizer seu nome não o seu apelido é meio estranho.

Ela sorri e se vai com a mulher.

– Ela te cumprimentou? – Laís está com cara de que testemunhou um milagre.

– O que é que tem isso?

– A Dominique nunca cumprimenta ninguém. Conversa penas com as pessoas do seu meio.

Droga. A Nik não estava me ignorando, ela estava me tratando como trata todos os outros funcionários.

Sentamos com o pessoal e Laís faz questão de contar a todos que Nik me cumprimentou. A cara que eles fazem me deixa sem graça. Dizem que o que Nik tem de bonita tem de nojenta. Não olha na cara de ninguém e é a filhinha do papai. Cada um fala alguma maldade sobre ela e isso me deixa muito incomodado e acabo defendendo-a, contando que sou jardineiro da sua casa e ela me arrumou este emprego porque meu pai morreu e eu terei que sustentar a minha família. Eles prestam atenção no que eu digo e parece que estou contando algo de outro mundo. Laís brinca dizendo que o coração de Nik não é tão gelado quanto eles pensavam. No final do expediente, vou direto para a autoescola, depois vou para a academia. Já escureceu e várias pessoas entram e saem, cada gata de parar o trânsito, Nik e Milla são umas delas, elas estão sorrindo e conversando, olham para trás e continuam sorrindo. Nik não me vê e entra de volta a academia sorrindo não sei para quem. Milla me vê e sorrindo surpresa vem ao meu encontro com os braços abertos.

– Meu Deus, olha quem está aqui!

Recebo o seu abraço sorrindo, é impossível não gostar dessa mulher.

– Você frequenta esta academia?

– Hoje é o meu primeiro dia.

– Legal. A Nik me disse que você irá fazer uma cirurgia para não precisar mais desse óculos e agora malhando vai ficar gato demais. A minha amiga é um tipo de pessoa que enxerga o futuro, sabe fazer investimentos. Ela sabe que você irá se tornar um homem irresistível que todas irão querer provar, mas com certeza, você irá querer apenas ela.

A Nik anda falando de mim para a sua melhor amiga, isso é um bom sinal.

Nik está vindo sorrindo e quando me vê não consegue disfarçar a surpresa.

– Ben, o que você está fazendo aqui?

– Vou malhar.

– Você não me falou que iria frequentar essa academia.

– Eu também não falei que estou fazendo autoescola.

– Que bom! E por que você não me disse?

– Quando nos vemos, não custamos falar muito, não é? – Sorrio.

– E por que será? – Ela também sorri.

Uma cara pega em sua cintura e beija seu rosto quase na boca e fala:

– Não demora, daqui meia hora vou estar no portão da sua casa. – Ele caminha até uma moto estacionada a poucos passos.

– Já estou indo. – Nik responde.

Outro cara também lhe dá um beijo e depois beija Milla.

– Milla, veste aquele vestidinho preto que cola em seu corpo. Quero você bem gostosa hoje.

O primeiro cara sobe na moto e entrega um capacete para o segundo e enquanto este sobe na garupa, ele fala:

– Você bem que poderia emprestar um dos seus vestidos de piriguete para Nik, hein, Milla. Eu também quero esta mulher bem gostosa hoje.

Meu coração parece que vai explodir dentro do peito. Aperto a mandíbula e engulo seco. Um calor passeia em meu corpo e estou a ponto de dar uma crise de ciúmes mais ridícula do mundo.

– Vou entrar, meu horário já começou.

– Espera um pouco, deixa eu te explicar... – Nik toca em meu braço.

– Eu não preciso de explicações, preciso é entrar logo nesta academia e começar a malhar, pois paguei muito caro e eu não tenho dinheiro sobrando.

Entro na academia e vou para o banheiro me trocar e me acalmar. Não estou acostumado a sentir ciúmes, eu não queria sentir, eu não posso sentir ciúmes de uma mulher que vive em um mundo oposto ao meu. Quem sou eu para competir com caras como aqueles que devem ser tão ricos quanto ela. Quando saio do banheiro, não vejo nem a Nik e nem a Milla e fico um pouco aliviado e muito decepcionado. Como é o meu primeiro dia, um personal trainer me ajuda e me explica quais serão os exercícios que terei que fazer. Me aconselha a passar em um nutricionista, pois se quero ganhar massa, preciso comer muito carboidratos e enjeri muitas vitaminas. Vou para casa e depois de jantar e tomar um banho, pego meus livros e começo a estudar. Meu celular toca e quando vejo que é a Nik fico em dúvida se quero atender. Atendo no final do terceiro toque.

– Oi, Ben.

– Oi.

– Eu queria muito falar com você.

Escuto ao fundo uma voz masculina:

– Vem gostosa, já está pronto.

– Já estou indo. – Nik responde e isso me irrita mais do que estava irritado.

– O que você quer Nik? Você está me atrapalhando, se não sabe estou estudando, pois preciso passar na porcaria daquele vestibular.

– Nossa, desculpa, eu não queria atrapalhar, eu só queria lhe dar uma explicação. Dizer que aqueles caras que você viu na academia são apenas meus amigos e ...

– Eu não preciso de explicações, Nik. Eu sei muito bem o meu lugar; sou apenas o seu aprendiz e nada mais. Não é porque eu disse que te amo que vou ficar pegando no seu pé. Você não me deve fidelidade e muito menos explicações, pode transar com quem quiser, pode ser com os seus amigos e até mesmo com o seu ex que eu não ligo. Mas agora por favor me deixe estudar em paz, pois diferente de você, eu preciso muito melhorar de vida.

Nik desliga o telefone na minha cara e eu não consigo mais estudar.