TE AMO

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Pela manhã tomo um banho e depois de escovar os dentes, me barbeio. Vestido e pronto para ir à escola, mais por marcar presença do que para qualquer outra coisa, pois esta semana é a última e não será distribuído mais nenhum ponto, pego minha mochila e do corredor escuto uma discussão entre meus pais. Val pede que eles parem, mas minha mãe pela primeira vez na vida enfrenta meu pai e grita que não quer que ele coloque a mão em mim nuca mais. Escuto um estrondo seguido do grito de Val. Corro até a cozinha e vejo minha mãe caída no chão e meu pai lhe puxando pelos cabelos e gritando que quem manda ali é ele. Lhe puxo pelo braço e o arremesso na parede. Ele bate as costas e eu o seguro pelos dois braços o pressionando com força ali.

– Você nunca mais vai bater na minha mãe ou eu te mato, seu desgraçado! – Seus olhos azuis tão parecidos com os meus se arregalam e vejo a surpresa e o medo dentro de suas pupilas dilatadas.

– Solta o seu pai, meu filho. – mamãe implora ainda no chão. Val está agachada ao seu lado lhe ajudando a se levantar.

Solto meu pai e me afasto, ele coloca as mãos no peito e geme de dor. Não me preocupo e o ignoro indo levantar minha mãe que está com a sobrancelha sangrando. Ela e Val pede que eu vá para a escola, mas eu não quero deixá-las sozinhas com este homem. Meu pai está indo para a sala em passos curtos e sua mão continua no peito. Mamãe insiste que eu posso ir e que não irá acontecer mais nada. Coloco um gelo em um pano de prato e entrego a Val que está limpando seu sangue, peço que elas me liguem se precisarem de qualquer coisa. Saio pela porta dos fundos para evitar de olhar na cara daquele desgraçado covarde.

Na escola acabo me distraindo com os professores dando dicas para o vestibular que acontecerá daqui duas semanas. Darla pergunta se já encontrei uma companhia para a festa e me lembro que não convidei a Nik, mas aí me lembro que ela sente vergonha das pessoas pensarem que temos alguma coisa, e é exatamente isso que acontecerá se ela aceitar ir. Respondo que ainda não e ela mais uma vez diz que ir sozinho será melhor, pois a maioria das garotas irão desacompanhada, inclusive ela. Alguns dias atrás uma informação dessa iria me alegrar, mas hoje não faz efeito algum. Compro um salgado na cantina da escola e vou direto para a casa da Nik, não trouxe marmita hoje e não estou a fim de conversar, então decido evitar ver o Theo.

As flores do jardim me relaxam e penso que quando eu tiver dinheiro para comprar uma casa irei querer um jardim para eu mesmo cuidar. Rego todo o jardim e depois limpo a piscina. Quando estou guardando a mangueira e o aspirador que usei na piscina, Horácio me chama. Saio do quartinho e me assusto com Val e Theo. Minha irmã está chorando e corre para os meus braços dizendo que nosso pai está morto. Meu corpo sofre um choque e sinto uma calor forte na nuca que passa para as orelhas. Na hora penso em minha mãe e a pergunto o seu paradeiro. Val não está conseguindo falar e quem me responde é o Theo, ele diz que mamãe está em casa com a irmã dela, ele também me explica que meu pai sofreu um infarto e morreu a caminho do hospital. Horácio nem espera eu dizer nada e me manda ir logo para casa. Sr. George está com seu carro estacionado em frente a mansão, ele me abraça e me aconselha a ser forte, pois minha mãe e minha irmã irão precisar muito de mim. Ele e Theo quer que eu vá com eles no carro, mas eu me recuso, peço que levem Val e eu vou de bicicleta. No caminho a culpa me pesa as costas, eu sei que fui culpado, eu matei meu próprio pai. As lágrimas atrapalham minha visão, as limpo com as mãos e deixo o remorso me remoer a alma. Ele pôde não ter sido um bom pai, não ter me dado carinho e por diversas vezes me batido mais que eu merecia, mas ele nunca me deixou faltar nada. Largo a bicicleta de qualquer jeito e entro às pressas a procura de minha mãe. Ela está na cozinha sentada chorando e sendo consolada pela minha tia. Ela se levanta assim que me vê e me agarra chorando alto e isso me mata ainda mais.

– Ele se foi, Ben, ele nunca mais vai nos bater novamente.

– Oh, mãezinha, não fica assim. Eu vou cuidar de você e da Val, eu prometo.

O APRENDIZWhere stories live. Discover now