CANSADO DE SER ESTEPE

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Na segunda-feira na empresa, Nik fica meio estranha, parece nervosa e todos estão dizendo que ela está com a macaca hoje. Laís que foi em sua sala levar alguns papeis diz que o humor dela está péssimo. Queria ter a liberdade de entrar em sua sala, pois na hora do almoço tentei ligar, mas ela não atendeu. Na academia, ela não aparece e no meu celular tem uma mensagem dizendo que ela precisou resolver um assunto e não virá. Pergunto a Milla se está acontecendo alguma coisa e ela diz que não sabe. No dia seguinte, ela me pega em casa, mas vai o caminho inteiro conversando com o pai. Eles falam sobre o designer, parece que ela tinha um prazo para lhe entregar alguma coisa, mas esse prazo está terminando e ela ainda não entregou. Desço em frente ao edifício sem receber nem sequer um olhar. Laís recebe uma ligação e diz que terá que enfrentar a onça, ela levanta com alguns papeis nas mãos e eu peço para ir em seu lugar. Laís pergunta se tenho certeza e ao responder que sim, pego os papeis de suas mãos e sigo para a sala de Nik. Bato na porta e ouço sua voz dizendo para Laís entrar. Arrependo imediatamente de ter vindo quando entro e dou de cara com o Sr. White, ele está sentado em uma poltrona e sua cara e a da Nik não são nada boas.

– O que você está fazendo aqui, Benjamin? – Nik me encara surpresa.

– Vim lhe trazer estes papeis. – Coloco sobre sua mesa as folhas.

– Eu pedi para a Laís fazer isso e não você. Faça o favor de manda-la vir aqui agora.

Não reconheço a mulher que está na minha frente e fico lhe olhando a procura da minha rainha.

– Anda Benjamin, faça o que eu estou mandando.

– Você é surdo, rapaz? – O Sr. White fala. – Anda logo.

– Não fala assim com os meus funcionários. – Nik diz.

– Seus funcionários? Eu ainda estou bem vivo, Dominique. Você só irá ser dona disso aqui quando eu morrer.

Estou paralisado vendo-os se olharem como duas feras se preparando para se atacarem.

– Anda, Benjamin, some daqui. – Nik fala alto.

Engulo em seco e com uma mistura de decepção e preocupação saio da sala e vou direto para a mesa da Laís.

– Ela quer ver você. – Digo assim que chego na minha mesa.

– Que droga, então quer dizer que terei que enfrentar a fera de qualquer jeito?

– Pior que isso, são duas feras, o pai dela está lá te aguardando também.

– Ai, meu Deus, me ajude! – Laís se levanta. – Minha nossa senhora, todos os anjos. – Ela passa por mim. – Quem mais eu posso pedir ajuda?

– Desculpa, Laís, eu não deveria ter ido no seu lugar.

– Tudo bem, Benjamin, você só quis me ajudar e isso eu nunca vou me esquecer.

Ela caminha pelo corredor pedindo ajuda aos céus e um de nossos colegas parece achar graça e grita:

– Você está se esquecendo de Jesus.

– Ah, é mesmo, obrigada. – diz ela continuando com suas preces pelo corredor.

Sento em minha mesa, mas não consigo me concentrar em nada tentando entender porque a Nik me tratou daquele jeito na frente do seu pai. Quando Laís volta, todos param o que estão fazendo para saber o que aconteceu.

– Dominique está com um baita problemão e seu pai não está sendo nada compreensivo.

– Qual é esse problema? – pergunto.

– O designer da empresa pediu contas e a deixou na mão sem nenhum piloto.

– Piloto?

– Sim. Desenho, entende? Ela precisava ter desenhos de relógios para a próxima coleção, mas ele saiu sem lhe deixar nada e seu pai que já estava aqui no Brasil semana passada, voltou só para lhe pressionar.

Vou ao banheiro e fico à espreita esperando o Sr. White sair, mas o que eu vejo é o Fred saindo do elevador e seguindo para a sala de Nik. Ele entra sem bater e eu fico aqui escondido atrás de uma planta com o coração na mão.

Ela não vai expulsa-lo?

A porta se abre e eu me alegro, mas quem sai é o Sr. White e não o Fred. Ele continua trancado lá com a mulher por quem sou apaixonado. Fico ansioso e isso me faz suar frio, ele está demorando, estou a ponto de entrar lá e fazer um escândalo. Por mais de vinte minutos ele fica lá, até que a porta se abre e ele sai sorrindo e ajeitando os cabelos. Não o deixo me ver e quando ele entra no elevador, entro na sala de Nik sem bater na porta e ela me olha assustada.

– O que você pensa que está fazendo, Benjamin? Como você entra na minha sala desse jeito?

– Por que o seu ex pode e eu não?

– Aqui não é lugar para isso, Ben.

– Aqui é lugar para o que então? Para se encontrar com o seu ex? Mas parece que ele não conseguiu lhe amansar, nem mesmo com a ajuda do seu pai que saiu e os deixou sozinhos. O que foi? Ele gozou e te deixou na mão?

– Cala a boca, Benjamin e some daqui.

Ela se levanta e me lança um olhar que eu ainda não conhecia, um olhar de ódio.

– Eu vou sumir daqui sim, mas vou sumir da sua vida também, porque eu me cansei. Cansei de ser tratado como estepe, de ser o seu segredinho, de não ter espaço em seu mundo.

– Faça isso. Eu também estou cansada de suas cobranças, eu lhe disse quando tudo começou que não existiria nada entre nós além de ... – ela para de falar e soca a mesa.

– De sexo. – Ela me olha. – Eu só sirvo para sexo, não é Dominique? Mas agora que se acertou com o Fred, não precisa mais de mim, não é isso?

Nik não diz nada, apenas me olha com as mandíbulas cerradas.

– Você é uma ... – Quero ofende-la, quero humilha-la, quero lhe fazer se sentir mal, mas não consigo.

– Uma o quê? Diz, Ben. Diz o que você realmente pensa de mim. Diz que sou uma puta, que não te mereço e não sirvo mais para você.

– Você não é puta, mas é uma mulher fraca que usa uma casca para ocultar suas fraquezas, seus medos e sua solidão. Você não sabe amar e muito menos ser amada. Me sinto muito pouco para você, mas talvez seja realmente o que sou. Eu sou muito pouco para você, pois eu não saberia te trair, te trocar por outra, porque para mim você era o meu mundo e eu para você não passo de um nada no seu mundo. Cansei de tudo isso, Nik e não quero mais ser o seu aprendiz e muito menos seu brinquedinho, a chupeta que uma criança sente vergonha de chupar na frente dos outros, mas quando está sozinha, não consegue largar. Não quero mais me aproximar de você, vou arranca-la do meu peito custe o que custar.

– Faça isso, Ben. Chegou a tão sonhada hora de você foder a Darla e todas as outras garotas que se atreverem passar pelo seu caminho.

– Pode deixar, vou fode-las com muito prazer e farei tudo o que você me ensinou, principalmente que não devemos confundir sexo com amor.

Saio da sala com raiva, mas não bato a porta. Aproveito que está na hora do almoço e vou para a rua, preciso respirar um pouco. Volto duas horas depois sem almoçar, passo pela sala de Dominique bem na hora que ela está saindo. Nos olhamos, mas não dizemos nada e cada um segue o seu caminho. Na academia, encontro com a Milla e a conto que entre eu e Nik não existe mais nada. Ela tenta bancar a conselheira do amor e pede que eu dê um tempo para sua amiga que carrega aquela empresa nas costas. Eu explico que nossos mundos são bem diferentes e quanto mais eu insistir na ideia de ficar ao lado dela, maior será o meu sofrimento quando eu ver que nunca caberei em seu mundo. Peço que que não fale mais da Nik para mim e me deixe esquece-la. 

O APRENDIZWhere stories live. Discover now