cinco

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ITÁLIA, SICÍLIA

VALENTINA MONTANARI 

NOVE ANOS ATRÁS.

Quando chego da faculdade, como sempre a casa está silenciosa, mas algo que me deixa intrigada é que o carro de meu pai está na porta, ou seja, ele está em casa. Estranho isso, deve estar em alguma reunião em seu escritório.

Quando estou subindo os degraus da escada para ir a meu quarto, escuto vozes um pouco distante e bem alteradas, a curiosidade de voltar e ouvir o que está acontecendo me faz parar no meio da escada mas resolvo deixar isso para lá, se meu pai estiver com problemas, vai resolver facilmente.

Ao chegar em meu quarto jogo meus livros na cama e resolvo ir tomar um banho, estou morta, se tem algo que acho que todo ser humano odeia na face da terra, é acordar cedo, eu sou a prova viva disso, se pudesse, só acordava depois de 12hrs mas nem tudo é como a gente quer, vida sofrida.

Depois de um bom banho com meus sais de morango e menta, saio do banheiro enrolada em uma toalha e enxugando os cabelos, pensando em que roupa confortável irei usar pra dormir, mas paro ao ver meu pai sentado na minha cama pensativo. 

— Babbo? O que o senhor está fazendo aqui? — pergunto, afinal, dificilmente ele vem atrás de mim, e se veio, com certeza é para conversar sobre algo sério.

— Quero conversar com você no escritório, esteja lá em 10 minutos. O assunto é sério. — ele fala, quando volta sua atenção para mim, de um jeito estranho.

Ele nunca falou comigo nesse tom. 

— Aconteceu alguma coisa? — pergunto, mesmo sabendo que ele não irá me responder, o conheço, se ele disse no escritório, é porque tem que que ser no escritório, e se é lá, significa que o assunto é sobre a máfia.

— Já disse que no escritório. 10 minutos. — diz, sem me deixar responder mais alguma coisa.

Corro para o closet e coloco uma roupa qualquer enquanto arrumo meu cabelo. Ele odeia atrasos. 

Desço as escadas correndo e vou logo para o escritório de meu pai, bato na porta e escuto um "entre" baixo.

Vejo ele sentado em sua cadeira, com toda sua pose de "chefe" e com um copo de whisky na mão. Meu pai geralmente não bebe de dia, alguma coisa realmente está errada.

— Estou aqui, o que o senhor queria tanto conversar? — pergunto, enquanto ele me encara através do copo, percebo que ele parece está procurando as palavras certas a serem ditas.

— Vai ser uma conversa longa e que eu venho prolongando a muito tempo, mas infelizmente não dá mais. Hoje tive uma reunião com meus capos que fazem parte do conselho, você sabe que isso só acontece por algum motivo. De início fiquei puto por está sendo pressionado a alguma coisa, ainda mais quando envolve você, minha principessa. Mas infelizmente, eles vinheram cobrar sobre meu herdeiro, você sabe que desde a morte de seu irmão, tudo complicou, eu sem um herdeiro me torno fraco, e posso perder o poder que nossa família lutou tanto pra ter. Você sabe que eles esperam que eu passe minha cadeira para alguém de confiança, já que meu único filho não está mais entre nós. Mas como você sempre soube, eu a admiro demais, mas você é mulher, e vai ser extremamente difícil de passar esse legado para você. Por isso, preciso que você pense e escolha alguém para se casar.

Enquanto meu pai fala, só foco na questão que ele já tinha mencionado mas nunca dito diretamente. Eu. Ser. A. Herdeira. Nunca quis essa herança, mas infelizmente as coisas parecem ir contra o que queremos. 

Se ele passar o poder para outra família, mesmo essa pessoa sendo de "confiança" dele, talvez nossa família nunca mais possa voltar a ter o poder que sempre teve, sempre fui acostumada a ouvir histórias da máfia, de preferência, da minha família, que vem mantendo nosso legado. 

Minha tataravó, foi a primeira mulher a se tornar chefe da cosa nostra, mas isso foi a mais de 8 décadas atrás, e sempre vi que mulher não tem muito poder por aqui, e se posso afirmar algo, é que se eu aceitar terei uma longa jornada pela frente. Mas como ele disse, por eu ser mulher, é mil vezes mais complicado. 

E vamos aos fatos, se for para escolher alguém pra casar, já até sei quem seria.

— Minha filha? Eu sei que é uma decisão difícil de ser tomada, vou te dar um tempo para se decidir, mas não pode demorar muito.

— Se eu recusar quem o senhor escolheria? — pergunto na lata, preciso ter uma ideia do peso da minha resposta.

— Não faço ideia, vale lembrar que você está prestes a fazer 18, então logo logo, estará de maior. Você sabe o que acontece com garotas maiores de idade. 

Nunca imaginei que meu pai fosse usar esse tipo de chantagem. Não comigo. Porque isso claramente é uma. Ele sabe que jamais aceitaria me casar com alguém forçada.

— O senhor está querendo me coagir na minha resposta? Sabe bem que jamais iria aceitar me casar com alguém que não ame ou conheça. — falo transmitindo toda mágoa e fúria que estou sentindo, me levanto da cadeira seguindo para porta.

— Nossa conversa não acabou ainda Valentina! — ele fala, o que me faz parar na porta e olhar para ele.

— Pra mim sim! Se eu ficar aqui mais um segundo nossa conversa não será nada amistosa. — o respondo, e saio batendo a porta. 

Eu sempre soube que em algum momento essa conversa ia acontecer mas nunca imaginei que seria desse jeito, não assim.

Saio indo direto para o jardim para pegar meu carro e dar uma volta, preciso de ar puro. 

Antes de conseguir atravessar a porta, acabo esbarrando, em algo, ou melhor, em alguém. Um alguém com um cheiro de menta, whisky e agora, loção de barbear. 

FRAGILE | ✓Where stories live. Discover now