trinta e cinco

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ITÁLIA, PALERMO

VALENTINA MONTANARI

ATUALMENTE.


Decidi chegar em casa mais cedo, preciso pensar. Me surpreendo ao ver Giovanni em casa. Geralmente ele passa mais tempo fora do que dentro desta casa. Não que me importe, sua presença tanto faz.

Passo por ele que está sentado na sala tomando alguma bebida.

— Boa noite esposa! Que coisa feia passar por seu marido e nem o cumprimentar. — ele fala agora olhando para mim. Como eu disse antes, ele não é normal.

Mesmo depois de nossa discussão, ele ainda insiste em querer se aproximar.

— Não estou com paciência para suas piadinhas Giovanni. Com licença. — digo indo direção a escada. Mas sou parada novamente por ele falando.

— Janta comigo hoje? É um pedido de desculpas pelo o que disse mais cedo. — ele pede tentando ser gentil.

Pela primeira vez, cogito a ideia.

As vezes sou muito fria com ele. Talvez pudéssemos ser pelo menos amigos.

Olho para ele e penso por que não né mesmo?

— Ok, um jantar. — digo subindo. — Vou tomar banho e já desço.

De banho já tomado desço para jantar. O cheiro estava muito bom, até me lembra da comida de Marie. Da nostalgia uma nostalgia lembrar da época que morava com meus pais. Infelizmente quando ele faleceu e eu tive que me casar, fui obrigada a me mudar para a capital da Itália.

— Que bom que você não desistiu. — ele diz olhando para mim, enquanto eu sento na cadeira do outro lado da mesa.

Sempre que estamos juntos, tento ao máximo manter uma distância considerável.

— Sou uma mulher de palavra. Pensei que você soubesse disso. — digo e começo a me servir.

Nossos empregados geralmente mal ficam por perto quando estamos juntos, mas já vi algumas vezes eles nos olhando estranho. Com certeza não acham normal um casal que está junto a um bom tempo dormir em quartos separados e mal se falarem durantes as refeições.

— Eu realmente exagerei um pouco hoje. Queria pedir desculpa pela forma como falei com você. — Olho para ele mas não consigo ver sinceridade em seus olhos.

— Tudo bem Giovanni, com tanto que isso não se repita mais. Estamos quites. — digo enquanto coloco um pedaço da lasanha em minha boca. Nossa! Isso está divino!

Ele fica me observando.

— Você não vai comer? — pergunto. Odeio quando ele faz isso. Já o peguei fazendo algumas vezes.

— Vou. Mas é muito interessante te ver assim. — ele fala quando saboreia um pouco do vinho.

— Assim como?

— Tão relaxada. Fica mais linda...

Ok, já ouvi alguns elogios dele. Mas dessa vez foi diferente.

Olho dentro de seus olhos me sentindo incomodada com o rumo dessa conversa.

— Hmm, hoje meu humor nem está tão bom assim. Acho que foi a comida que me deixou mais alegre. Faz algum tempo que eu não como direito. — ele continua me encarando. E não gosto disso.

Desvio o olhar do dele pegando minha taça de vinho.

— Não pode passar muito tempo sem comer Valentina, cuidado para não ficar doente. — ele diz agora com um ar preocupado.

O olho novamente. Por que ele está sendo tão mais simpático? Não gosto dessa versão.

— Deixa minha saúde pra lá. Coma logo antes que fique frio. Seria um desperdício não comer essa maravilha agora. — falo mudando de assunto. Ele concorda.

Nosso jantar foi assim, tivemos algumas conversas até agradáveis.

Sua presença não é tão insuportável.

Quando acabo decido subir para o quarto.

Me levanto e aviso a ele que estou indo dormir. Ele também se levanta vindo em minha direção.

— Eu gostei muito do nosso jantar hoje. Queria poder repetir mais vezes. — ele fala enquanto eu tento manter uma postura considerável entre nós.

— Quem sabe Giovanni, quem sabe... Se você continuar assim, posso pensar em te dá o prazer da minha companhia. Agora com licença.

Subo para meu quarto indo dormir. Mas dessa vez meus pensamentos são diferentes.

Fico pensando no que ele me disse no escritório e em nosso jantar hoje.

Ele é um cara legal, divertido, inteligente, compreensivo e muito bonito. Não sou nenhuma cega para não ver que ele tem seu charme. Mas aí ele me vem na cabeça.

Ninguém conseguirá o superar. Ele era tudo. O meu tudo. A ideia de ter relação com outro homem me deixa enjoada.

O fato de eu poder ser feliz, de recomeçar me faz me sentir suja. Me faz sentir que o estou o traindo. Estou traindo sua memória. E eu não posso fazer isso.

Pela primeira, alguém conseguiu me fazer duvidar de algo. E não sei se gosto disso.

Não sei se gosto quando esse alguém é Giovanni Vitali, meu marido.

FRAGILE | ✓Where stories live. Discover now