trinta e três

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ITÁLIA, PALERMO

VALENTINA MONTANARI

ATUALMENTE.


Quando cheguei em casa Giovanni não estava, provavelmente está em algum clube por ai, pouco me importa onde ele anda. Só quero minha cama e poder ficar em paz, porque dormir eu não consigo.

Desde que tudo veio acontecendo não consigo dormir por mais de duas horas, isso se resulta em olheiras profundas que eu sempre cubro com maquiagem.

Subo para meu quarto que fica do lado oposto ao de Giovanni, não temos muitos empregados, e o que temos são de total confiança para não sair espalhando por ai e se espalhem eu tô pouco me fudendo.

Todos sabem que esse casamento é de fachada, só apareço com Giovani raras vezes em algum evento. Sempre evito está em lugares públicos. Isso o incomoda um pouco, desde o início de nosso casamento, ele sempre se mostrou muito amistoso em relação a mim.

Até tivemos algumas conversas pequenas, e foram um tanto agradáveis. Mas nunca me passou pela cabeça que ele fosse agir da maneira que agiu hoje.

Resolvo esquecer tudo isso e vou tomar um banho, é tudo que preciso. Tiro minhas roupas que estão sujas de sangue podre.

Afundo na banheira e minha vontade é de não voltar a superfície. Tirar todo o peso, a saudade, a angústia e tudo que me leva para baixo. Mas não o faço, eu preciso terminar o que comecei, preciso vingar a morte dele. Mas depois, aí sim, poderei finalmente por um fim em tudo.

Volto para superfície pensando na grande merda que é minha vida. E em como tudo muda tão facilmente. Como as coisas podem ruir sem você se dá conta.

Saio da banheira e vou me enxugar enquanto observo meu semblante pelo espelho. E eu não sei como, mas de alguma forma, quando eu me olho no espelho não me reconheço.

Eu procuro a garota de 4 anos atrás que era feliz, e só sonhava em se formar, ser uma estilista de sucesso, se casar com o homem da sua vida e ser feliz. Uma garota cheia de sonhos. Sonhos interrompidos.

Ao me olhar no espelho eu vejo a mesma imagem de sempre. Cabelos ruivos e longos. Mesmo corpo. Mesmo rosto. Mas não a mesma essência. Tudo que eu vejo hoje, é uma mulher solitária, infeliz e fria.

Essa imagem não me agrada nem um pouco, mas eu estou aprendendo a conviver com ela a alguns anos. Todos os dias.

Mas hoje é diferente. Hoje eu torturei um homem. E não estou mal com isso. Eu não estou mal por ter tirado ele de sua família. Não estou mal por tê-lo visto gritar pela vida. Eu simplesmente não sinto. Nada.

Eu vim entendendo uma coisa, cada pessoa tem um demônio por dentro, a diferença é que alguns não os alimentam, mas eu decidi alimentar o meu todos os dias, e o pior, não me importo de fazê-lo.

Eu não sei como, ou em que momento eu fiquei assim.

Antes, eu mal suportava a ideia de ver alguém sendo machucado. Não aceitava esse mundo e hoje me vejo completamente dentro dele e o pior, não tenho mais como sair.

Vou ao me closet e coloco uma camisola preta.

Em meu guarda roupa não existe outra cor. Não mais.

Eu queria demonstrar através das minhas roupas, a minha dor. Depois de pronta, vou para minha cama tentar dormir.

×××

Como sempre, fiquei me revirando de um lado para o outro na cama. Não sei exatamente a hora que peguei no sono.

Mas sempre sei a hora que acordo, assim que os raios solares aparecem tocando em minha pele, sinal de que já é hora de se levantar para mais um dia. Mais um infernal dia.

Vou ao banheiro e faço toda minha higiene matinal, voltando ao meu closet escolho uma calça de couro preta, blusa regata, e finalizo com um sobretudo e botinhas, tudo no mesmo tom.

Quando estou pronta desço para o café da manhã, enfrentar Giovanni com seus sorrisos e sua eterna alegria.

Eu sinceramente não entendo como ele consegue ficar o tempo inteiro sorrindo, as vezes eu acho que é tudo de fachada, pego ele algumas vezes mudando de humor facilmente. Mas é inofensivo.

Ao chegar na sala onde tomamos café todos os dias me surpreendo ao ver Adam e ele juntos. Isso é estranho.

Adam nunca o suportou e agora está aí todo sorridente pra ele.

Quando eles percebem minha presença me cumprimentam. Giovanni vem em minha direção mais uma vez, tentando ser gentil, como todos os dias e vem tentar puxar minha cadeira.

Olho pra ele o impedindo de tentar fazer isso. As vezes ele se torna insuportável.

Nosso café da manhã foi eu no meu habitual silêncio e os homens conversando, depois que acabamos, me levanto chamando Adam para meu escritório.

— Pra você ter vindo a minha casa a essa hora da manhã é porque você conseguiu novas informações. — ele me olha confirmando, tirando seu celular do bolso e digitando algumas coisas.

— Olha seu computador agora. Enviei um documento com tudo relacionado a Enrico Maltino, o cara é um filho da puta que vem tentando entrar dentro da máfia a anos, mas sempre foi recusado e advinha? A última vez que ele pediu permissão foi ao meu irmão. — ele fala enquanto eu leio todo o dossiê. Mais um rato.

Eu sinceramente não entendo como pessoas tão fracas podem ter conseguido matar Petrus.

Tem que ter alguém forte e de dentro ajudando. O problema é quem?

— Temos mais uma presa amigo. — falo olhando para Adam com um olhar sádico.

Ultimamente esse é o meu divertimento. Ele me observa e sei exatamente o que ele está pensando.

Eu e Adam ficamos muito mais próximos depois que tudo aconteceu.

— Sabe... As vezes eu fico me perguntando se aquela garota ainda está aí dentro. Porque sinceramente eu procuro e não acho. Tem momentos que eu me arrependo de ter te ajudado e de ainda está ajudando.Acho que meu irmão não estaria feliz com tudo isso. Ele com certeza ia querer me estrangular. — ele fala se sentando na cadeira de frente para a minha, agora me encarando.

— Essa garota se foi Adam. Pensei que você já tivesse entendido isso. E outra coisa, se você não tivesse me ajudando, eu estaria fazendo do mesmo jeito. Com ou sem sua ajuda. Eu só vou descansar quando acabar com a raça do filho da puta do traidor. — falo ácida para ele. — Agora em relação ao seu irmão... — Minha voz falha. — Com certeza ele não estaria feliz comigo onde estou agora. Mas nada disso importa mais.

Digo saindo do meu transe me levantando da minha cadeira.

— Vamos, temos trabalho a fazer e não é pouco. — digo a ele que me segue sem hesitar.

FRAGILE | ✓Where stories live. Discover now