quarenta e oito

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ITÁLIA, PALERMO

VALENTINA MONTANARI

ATUALMENTE.

Os dias foram se passando e as  investigações se intensificaram e as coisas continuam do mesmo jeito. No escuro. Maltino parece ter se enfiado em um buraco e não saiu mais.

Minha relação com Giovani está pior que antes, desde que senti aquela sensação estranha, estou o evitando.

Eu sinceramente não sei mais o que fazer da minha vida. Uma mulher de vinte e sete anos que mal sabe o que é viver. Não me divirto, não faço nada que me agrade. Tudo que faço hoje em dia é trabalhar e matar pessoas. Tudo por causa de uma vingança.

Eu sinto que só irei descansar quando finalmente matar quem quer que seja o traidor.

Hoje resolvi não ir ao sub10, não estou me sentindo bem. Tudo que aconteceu nos últimos dias e principalmente a fala de Pierre não sai da minha cabeça.

"Você é um monstro!"

Eu sei disso. Eu me transformei nisso, e e o pior, eu não consigo me arrepender de cada vez que matei alguém. Se morreu é porque não merecia está na terra. Assim como eu, não mereço.

Matei pessoas inocentes para chegar no meu objetivo.

E mesmo assim continuo sem nada. No escuro.

Alguns anos atrás eu não conseguiria me visualizar do jeito que estou. Eu não me veria dessa forma. Sempre fui contra qualquer tipo de violência ou tráfico.

Hoje, eu faço tudo isso. Eu mato. Torturo. E não sinto nenhum remorso.

Eu sei que eu não ia hesitar se fosse necessário matar Marie. Porque eu não sou boa. Eu sou egoísta. Eu só penso no que me favorece. Estou pouco me fudendo se vou ter que matar mais inocentes. Contando que finalmente eu consiga sair desse inferno. Um inferno dentro da minha própria cabeça.

Por isso me pergunto como ele iria me visualizar hoje?

Com certeza não seria mais o seu anjo. Estou mais pra um demônio. E eu não me importo.

Escuto uma batida na porta.

— Entre. — digo sem saber quem é. Antonella, uma das governantes entra logo em seguida.

— Senhora, sua mãe está na sala... Ela aparenta está bem nervosa. A mando entrar?

Estranho minha mãe sair de Sicília até aqui. Deve ser algo importante mesmo.

— Pode mandar ela entrar! E nunca mais deixe ela esperando. Vá. — digo. Com isso, ela segue pra fora.

Alguns minutos depois minha mãe entra como um furacão em minha sala.

— Eu fico me perguntando onde a minha filha está sabe... Porque eu olho pra você agora e só consigo ver uma casca fria e calculista. — ela diz me atacando.

A olho sem entender o que está acontecendo.

— Mãe, o que houve? Por que a senhora está falando desse jeito? — perguntando me aproximando mais dela.

— O QUE HOUVE? — ela fala praticamente gritando. — Você sequestrou Marie! Como você pode fazer isso com ela? Ela chegou em casa nervosa, em estado de pânico pedindo para ir embora. — diz, realmente nervosa.

— Mamma... Eu fiz o que foi necessário. Só assim Pierre iria me contar tudo. — falo tentando amenizar a situação. — A senhora sabe que ele era um dos traidores? Ele que te sequestrou, e quase me matou! — Ela está andando de um lado para o outro. Não consigo visualizar seu rosto. — Mamma? Eu sei que não deveria ter feito o que fiz com ela. Mas foi preciso. — digo chegando mais perto dela.

Quando me olha, seu olhar me deixa incrédula. Ela está com os olhos chorosos.

— Eu nunca imaginei que você fosse fazer isso com ela. Não importa o que Pierre fez! Você deveria ter dado um jeito sem envolver ela. Ela criou você caralho! — ela diz chorando e ao mesmo tempo exaltada.

— Eu sei... Mas eu tinha que fazer ele falar! Eu preciso sair desse inferno que estou vivendo, só vou conseguir quando finalmente vingar a morte dele. — falo tentando me aproximar dela que recua para trás.

— Você não é a mais a mesma! Esse mundo te mudou. Olha a forma como está falando. — ela diz me olhando como se estivesse com nojo de mim. — Eu não criei você pra isso. Eu sei que a dor que você sentiu e ainda sente foi grande. Mas ele está morto, e não vai voltar! Se você não começar a entender isso, sua vida nunca irá mudar.

Seu olhar e suas palavras me machucam como uma faca entrando em minha carne. Dói, e muito. Ouvir isso dela.

— Eu mudei e não vou voltar a ser mesma. A senhora vai ter que se acostumar com essa nova versão minha. — digo olhando dentro de seus olhos magoados.

— Nunca irei me acostumar com essa nova casca sua. Só me procure quando você começar a entender que tudo que você está fazendo não é o certo. Quando você voltar a ser a minha menina. — Com isso, ela sai batendo a porta.

Isso não pode está acontecendo. A única pessoa que eu me importo e que eu mais amo no mundo tem nojo de mim. Estou tão nervosa que termino jogando tudo que está em cima da minha mesa no chão.

— AHHHHH! INFERNO. — grito, tentando por pra fora toda minha frustação.

Vou direto para a mesinha onde ficam as bebidas e encho o copo de whisky. Eu preciso de álcool no meu organismo. Agora só somos eu e Adam nessa história. Mais ninguém.

Eu vou encontrar o filho da puta que me destruiu. Espero que ele saiba jogar bem. Porque agora, eu vou jogar sujo.

Sento no chão de meu escritório me perguntando como a  vida de alguém pode mudar tão rápido assim? Anos atrás eu era somente uma garota com sonhos comuns. Hoje, uma mulher com o comando de uma das maiores máfias do mundo. Com as mãos sujas de sangue, e a tendência é sujar mais.

Acredito que tudo terminou virando um jogo sem ganhador no final. Eu me sentia perdida e sem ninguém para me apoiar, até porque, não tinha como ficarem do lado de um monstro

E é por esse motivo que não vou ficar aqui sofrendo por algo que não tem solução. Tenho um carregamento de drogas para verificar e depois tenho que passar em uma das boates que estão dando pouco lucro.

Saio de casa sem se quer imaginar as merdas que estão pra acontecer nas próximas horas.

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