cinquenta

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INGLATERRA, BRIGHTON

ADAM FORCHHAMMER

UMA SEMANA ATRÁS.

A uns meses atrás recebi um arquivo anônimo em minha casa, na Alemanha. Esse arquivo tinha informações que me deixou um tanto intrigado.

Um endereço. E uma foto.

De início, eu achei que era algum tipo de brincadeira para me desestabilizar. Passei a foto por todo tipo de aplicativo para descobrir se tinha alguma montagem. Me surpreendi. Não havia.

O resultado me fez questionar tudo.

Foi aí que toda merda começou.

As mentiras.

E as investigações.

Eu passei a investigar tudo, deixando um pouco de lado minhas obrigações como subchefe da Valentina e amigo.

Eu tinha que está pra lá ajudá-la quando sua mãe foi sequestrada. Mas não estive.

Eu só espero que ela consiga me entender e me perdoar quando descobrir tudo que venho escondendo dela.

Daqui de meu carro, observo todos os passos que ele faz.

Mais uma vez ele sai de seu apartamento no lado leste da cidade por volta das seis da manhã indo para seu emprego em uma empresa fraca que paga bem menos que ele merece.
E por volta das cinco da tarde volta para casa e daí não sai mais.

Sua esposa faz o mesmo processo.

Durante semanas que venho os observando, mas não consigo achar uma falha nela. E tudo que eu preciso para poder falar com ele é da porra de uma falha. Um passo errado fará eu chegar realmente em quem eu quero.

Ela é perfeita demais. Cada passo seu parece ser cronometrado. Sai de casa, indo direto para seu estúdio. A tarde vai almoçar em um restaurante perto e no final, finaliza voltando pra casa. Chega ser uma vida tediosa. A mesma rotina todos os dias.

Me pergunto como ele consegue viver assim. Dessa forma. Ele nunca foi um cara de seguir rotinas. Nunca.

Já é noite e preciso voltar para Itália, afinal, faz dias que não entro em contato com Valentina. Preciso falar com ela sobre algumas coisas que vim descobrindo.

Tento ligar para ela mas só chama. Merda!

Observo quando ele sai mais uma vez da empresa, mas dessa vez, mudando seu caminho. Ele entra em um bar no centro perto da empresa.

Essa é a minha oportunidade de me aproximar. E poder entender tudo que está acontecendo.

Se tem algo que venho fazendo a semanas é ter paciência pra entender tudo. Eu podia ter sido direto e ter ido logo até ele. Mas não. Eu preferi observar tudo. E sozinho. Não pude e ainda não posso colocar mais ninguém no meio disso tudo.

Fui ao hospital, pesquisei sobre o que aconteceu com ele, e não me surpreendi ao saber do coma. Dois anos apagados e pelos dados que o médico me passou, ele não se lembra de nada. Sua vida foi apagada. Simplesmente uma página em branco.

Sigo em direção ao bar para ver o que ele foi fazer por lá. Ao adentrar o local, o avisto no final do bar tomando alguma bebida, aposto no whisky. Acredito eu que isso ele não tenha esquecido. Era sua bebida predileta.

Indo em sua direção não sei exatamente o que sentir ao ver ele tão mais próximo agora. Chega a ser inacreditável o ver assim.

- Um whisky por favor! - Peço ao barman assim que me sento praticamente do seu lado.

Ele mal olha para o lado, continua pensativo tomando sua bebida. Resolvo puxar assunto, foi pra isso que vim aqui.

- Noite difícil? - pergunto. Ele parece sair de seu transe e se vira na minha direção.

Sua aparência continua a mesma. Mas seus olhos demonstram algo que não sei identificar.

- Sim... Problemas pessoais. - ele diz, ainda me olhando estranho. - Você é daqui?

- Entendo... Não, estou a trabalho. Por que?

Ele continua me olhando como se estivesse tentando me reconhecer, talvez com o tempo sua memória volte. E é disso que eu preciso. Ele deve saber quem é o filho da puta que nos destruiu.

- Te achei um pouco familiar... E olhe que faz muito tempo que não consigo achar alguém familiar pra mim. Mas deve ser bobagem. - ele fala enquanto toma sua bebida.

O barman me entrega a minha e isso faz com que eu também a tome.

O que ele disse faz um pouco de sentido. Familiar. Ele não deve se sentir bem com ela. Tudo que eu venho observando entre os dois é uma relação que aparenta ser forçada. É nítido.

- Por que você diz isso? Não consegue achar ninguém familiar por que? - pergunto, sabendo que talvez ele não responda. Aparenta está se arrumando para ir embora.

- Esquece... São só problemas. Preciso ir. - ele diz, colando uma nota em cima do balcão.

- Meu nome é Adam Forchhammer, caso algum dia precise de ajuda, pode entrar em contato comigo. - falo, entregando para ele um cartão meu. Ele aparentar ficar surpreso ao ouvir meu nome.

- Forchhammer? - pergunta, se virando em minha direção novamente.

- Sim, você me conhece de algum lugar?

- Já vi esse nome em algum lugar uma vez... Nada de mais. Obrigado, até logo!

- Você não disse seu nome... - falo, claramente na intenção de fazê-lo se apresentar. Ele olha novamente pra mim desconfiado.

- Claro... Antony Moretti. - ele diz estendendo sua mão para mim que olho dentro de seus olhos.

Observo que nem ele parece acreditar que esse é o seu nome.

Porque não é.

Porque ele é Petrus Forchhammer, meu irmão.

FRAGILE | ✓Where stories live. Discover now