seis

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ITÁLIA, SICÍLIA

VALENTINA MONTANARI 

NOVE ANOS ATRÁS.

Ao levantar a minha visão, vejo que realmente é ele. Sinto suas mãos em minha cintura, caso ele não tivesse me segurado teria caído no chão. 

Tudo que consigo pensar agora era que queria abraçá-lo, e é o que faço porque quando tudo na minha vida parece estar entrando nos trilhos vem algo e me mostra que não sou como as outras garotas. 

Ele retribui meu abraço e isso me dar uma sensação de segurança que nunca senti, como se ele pudesse tirar todo o peso das minhas costas.

— O que aconteceu Piccola? Por que você estava saindo desse jeito? — ele me pergunta, claramente preocupado, mas não consigo tirar a cabeça de seu peito, fico concentrada em seu cheiro e na calma que ele me transmite. 

— Tantas coisas... Uma delas é a minha vida de merda, que quando eu acho que tudo vai dar certo, vem algo e mostra que minha vida nunca vai ficar certa. Preciso sair. Tomar um ar. — digo tentando me soltar dele, mas ele me prende em seus braços, puxando meu rosto pra altura do seu rosto, fazendo um carinho na minha pele.

— Para onde você vai tão nervosa assim? Não é bom sair dessa forma, vamos conversar em um café que tem aqui perto, aí você me explica o que aconteceu. — ele fala de um jeito tão doce, que me faz fraquejar. 

Petrus Forchhammer é com certeza uma incógnita para mim. 

×××

Quando chegamos no café, que conheço bem, sinto o clima mudar. Simplesmente por causa da presença dele. E eu não gosto dessa atenção que recebemos, ou melhor, que algumas garotas dão a Petrus, ele não é nada meu mas odeio o fato de outras garotas olharem para ele daquele jeito, como se fosse comer ele ali mesmo, e como se ele não estivesse sozinho. 

— Olá, o que você vai querer? 

A garçonete que nunca gostei mas agora triplicou o meu ranço, pergunta diretamente a ele, porra, eu estou aqui e ela só fala com ele, como se ele estivesse sozinho. Mas para a minha alegria, ele nem sequer a olha, ao contrário, olha para mim. Ponto para ele.

— O que você vai querer Piccola? Escolha sua… — me pergunta, ignorando totalmente ela. Me sinto tão vitoriosa por isso.

— Hmm, vou querer um capuccino com chocolate.

— Eu vou querer um café preto, sem açúcar. — ele fala claramente pedindo para ela ir embora. Enquanto ela se vira para ir, ele parece se lembrar de algo.

— Ah, mais uma coisa, quando você ver alguém chegando acompanhado, se pergunta aos que estiverem presente, não a somente uma pessoa. Isso é falta de educação. — ele fala, isso e vira sem esperar uma resposta. 

Já disse que estou me sentindo melhor? Gostei muito disso que ele fez. 

Ele fica olhando para mim enquanto desvio a vista para a janela, onde posso ver o mesmo grupo de garotas que o comeu com os olhos conversando e rindo. 

Queria poder está desse jeito, sem problemas e uma decisão para tomar. 

Sinto quando Petrus pega minha mão e faz um carinho nela, o que puxa minha atenção de volta para ele.

— Você vai começar a falar? Ou vou ter que te torturar com cosquinhas hum? — fala com um ar divertido.

Ta aí uma cena que queria ver, ele com todo seu porte de chefão fazendo cócegas em mim em público. 

— Acho que o que vem acontecendo é algo que já imaginei que iria, você sabe, desde que meu irmão se foi as coisas mudaram muito. Hoje meu pai me chamou para conversar sobre seu herdeiro, os capos estão o pressionando a arrumar logo um, ou seja...

— Seu pai te arrumou um noivo? É isso? — ele pergunta, me interrompendo.

— Que? Não! Bom, ele "sugeriu" isso também, mas ele me deu o poder de escolher. Eu poderia me tornar capo, mas acho que isso iria ser algo bem difícil.

Ele me olha um tanto espantado, e com certeza seria desse jeito que o conselheiro de meu pai reagiria. 

Colocar eu, uma garota, como chefe é loucura, sinceramente não sei o que passa na cabeça de meu pai para achar que isso pode dar certo.

— Nossa, essa me surpreendeu, nunca ele deixou a entender que isso fosse a sua solução, em uma das reuniões que tivemos, ele afirmou já ter seu herdeiro, mas nunca disse quem seria, ou como isso iria acontecer. Se você se tornasse capo, seria uma coisa que queria ver, você mandando em todos esses filhos da puta, porra. Apesar, que esse é um mundo que depois que você é introduzido dentro dele, não tem mais volta. Como me preocupo com você, isso seria algo que eu não concordaria, mas se for a última opção quero que saiba que vou estar aqui para te ajudar, no que precisar. Sempre.

Tem momentos da vida que você não sabe se sorrir ou fica nervosa, eu nesse momento, fico feliz em ver que ele não foi um machista dizendo que não ia dar certo, e ao mesmo tempo demonstra que se preocupa comigo. 

As vezes eu acho que esse cara tem algum tipo de poder sobre mim, porque eu só quero agradá-lo, só de ver ele dizer que ia gostar, já me faz pensar em aceitar. Mas não irei fazer isso. Não agora, preciso pensar com muita clareza nisso.

— Admito que não esperava essa resposta de você, mesmo eu te conhecendo desde pequeno, hoje não conheço mais, não sei como pensa ou como age, obrigada por me apoiar e tentar me acalmar, isso importa muito pra mim, de verdade. — digo pegando em sua mão novamente, mesmo sentindo um tremor ao tocar nela, como forma de carinho. Mas na verdade é só uma forma de tocar nele mesmo. 

Logo em seguida, a garçonete mal educada volta com nossos cafés e passamos a conversar sobre banalidades, como o que eu faço durante o resto dia depois da faculdade e etc.

— Então quer dizer que a mocinha continua dançando hum? 

Estávamos falando sobre eu dançar quando escutamos um barulho de celular,  e não é o meu porque esqueci-o em casa, deve ser o dele, mas ele parece ignorar, só que o barulho é tão irritante...

— Não vai atender? Pode ser importante… — falo, e ele um tanto emburrado pega e atende.

— Forchhammer falando... — ele fala, com uma voz sombria e que nunca o vi falando desse jeito, a pessoa diz algo que faz seu rosto se endurecer e ele pede licença parar ir atender. 

Do lado de fora posso ver ele por a mão no bolso de sua calça social, perfeitamente alinhada enquanto escuta a outra pessoa falar, com uma cara nada boa.

Paro para refletir um pouco e me dou conta que ele não ia atender o celular e que quando trombei nele, ele estava indo fazer algo na minha casa. 

Será que ele cancelou algo importante para ficar comigo? Não sei como agir depois disso.

Ele volta com uma cara nada boa me chamando para ir embora, disse que aconteceram alguns problemas que ele precisa resolver com urgência. Por isso, não demoramos muito.

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