setenta e dois

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ITÁLIA, PALERMO

PETRUS FORCHHAMMER

ATUALMENTE.


O sabor de seus lábios ainda está aqui. E é delicioso. Eu senti algo que nunca senti com Alina. A sensação de lar. A sensação de que aquele era o lugar que eu sempre deveria estar.

Ela existe e é a coisa mais linda que já vi. E eu não sei o que sentir sobre isso.

Eu não me lembro de nada.

Não lembro de quem eu sou.

Não lembro de nossa história.

Mas eu posso tentar criar uma nova história.

Pra mim, pra nós.

Eu sempre senti que devia algo a Alina por tudo que ela fez por mim, mas a cada história nova que me contam. Me faz ter mais raiva dela. Ela brincou com meus sentimentos. Fingiu ser algo que não era. E eu me arrependo de ter brigado com Valentina por ter mandado matá-la. Ela mereceu. E só isso importa.

Eu me sinto um inválido por não ter ido com ela. Eu deveria ter ido.

— Ei... Eu já disse pra você que ela sabe se virar cara! — Meu irmão fala se aproximando novamente.

É tão estranho isso. Até umas semanas atrás, eu era apenas um cara vivendo uma vida monótona que não aceitava o que era. Agora, tenho um irmão e uma mulher linda apaixonada por mim.

— Eu sei... Mas eu estou preocupado com ela. Faz horas que ela foi e não mandou mais nenhum contato. — Me levanto do sofá indo em direção a janela da sala.

— Sabe... Ela ficará feliz ao saber que você mesmo sem memória se importa com ela. — ele diz, ficando ao meu lado na janela. — Você não tem ideia de como ela mudou desde que você "morreu."

— Eu não consigo imaginar ela de outra forma, sem que seja essa mulher forte que eu vejo hoje. — Me viro em sua direção. — Eu só queria lembrar de tudo... Me sinto horrível ao vê-la triste por eu não lembrar de nada sobre nós.

— O médico da família vai te examinar, logo saberemos se sua memória pode voltar... Vamos só esperar tudo isso acabar. — ele fala colocando a mão em meu ombro. — Vou pegar um café, você quer? — Me pergunta.

— Espero que eu consiga reverter tudo isso... — Suspiro, eu realmente preciso me lembrar de tudo. — Vou querer o café.

Ele sai me deixando sozinho e isso me faz pensar mais. Tem alguma coisa errada. Valentina não deu notícias ainda. Só pode ter sido por dois motivos: ou porque tudo realmente deu certo, ou porque tudo deu errado.

Observo os seguranças andando de um lado para outro com armas em punho. E aí me dou conta, que nem me lembro como se segura uma. Como eu poderei me defender de algo assim?

— Aqui está o café. — Adam chama minha atenção para ele novamente.

— Obrigado! — falo assim que pego a xícara. — Você poderia me ajudar a manusear uma arma novamente? Preciso saber me defender.

— Claro... Realmente já está na hora de você relembrar de algumas coisas. — diz se aproximando de mim. — Você quer agora? — Me olha estranho ao perguntar.

— Por que não? Estamos fazendo nada mesmo. — digo sorrindo.

— Não sei não cara...

— Vamos logo! — falo ao colocar a xícara em cima da mesinha da sala.

— Ok... Vamos! — ele vai em direção ao escritório de Valentina, mas ao invés de entrar neste, segue direto.

— Onde estamos indo?

— Pra uma sala especial aqui dentro. Lá é melhor para praticar essas coisas. — ele me responde, parando logo em seguida em frente a uma porta escura. — Pode entrar madame... — ele diz sorrindo.

— Engraçadinho você... — falo ao entrar.

A sala é acústica. Provavelmente ninguém irá escutar nada.

Ele tira de seu coldre duas armas calibre 38 Taurus. E eu fico me perguntando como diabos eu sei que é essa arma? Será que é uma lembrança?

— Agora falando sério... Essas não são suas preferidas. Pra você a melhor sempre foi a glock, mas vamos começar com essa. — ele diz ao recarregar as duas. — Atire naqueles alvos ali na frente. Vamos ver o quão ruim você está. — diz se afastando.

Olho para o alvo a uns 3 metros de distância. Ok, eu consigo.

Pego a arma em punho e aponto para o alvo.

Pow.pow.pow.

— CARALHO! — Ele grita no meu ouvido. — Eu não posso acreditar nisso. — fala indo em direção aos alvos. — Você acertou todos os alvos... Como isso é possível?  — ele sorrir pra mim. — É cara... Acho que sua memória não está tão ruim assim.

— Eu nem se quer sabia como fazer isso... Eu só fiz. — falo olhando os alvos. Realmente eu acertei todos. Porra.

— Nada está perdido irmão... — ele diz apertando em meu ombro e voltando para próximo a porta. O sigo. — Descarrega a outra.

— Com maior prazer... — A sensação ao apertar o gatilho é prazerosa pra caralho. Nunca pensei que fosse gostar disso.

Coloco as armas em cima da mesa e vou até onde ele está.

— Eu gostei disso... Acho que a ideia de ser chefe de uma organização criminosa não é tão ruim assim.

— Que bom que pensa assim... Porque quando tudo acabar, eu devolverei seu posto. Esse não é o meu mundo. — ele diz se levantando, mas antes dele se quer falar mais alguma coisa escutamos um barulho de tiro lá fora. Ele me encara. — Devem está invadindo a casa... Porra! — ele diz, colocando as mãos no coldre mas logo depois olha para as armas em cima da mesa. — CARALHO! — grita colocando as mãos em sua cabeça. — Eu sem munição! Como vou nos defender sem a porra de uma arma aqui? — ele diz andando de um lado para o outro.

Eu só consigo pensar em uma coisa: a culpa é minha! Se eu não tivesse tido a bendita ideia de vir treinar nada disso estaria acontecendo.

— Eu vou sair... Você fica aqui! — ele diz, mas o paro.

— A culpa é minha! Eu vou e você fica. Eles querem a mim. — digo indo até a porta mas ele entra na minha frente

— Não tem nada de culpa aqui Petrus... Só faz o que eu estou mandando. Irei buscar armas e munição.

— Se for pra sair... Sairemos juntos. Não irei deixar você lá fora sozinho. — digo e ele me olha hesitante.

— Ok... Sempre juntos certo? — ele me pergunta colocando a mão em meu ombro. Essa frase me faz me lembrar de algo... Mas isso não importa agora.

— Sempre! — O retribuo um pouco hesitante.

Seguimos em direção a porta, sem saber exatamente o que nos espera.
A única coisa certa é que sempre estaremos juntos. Porque o sangue luta pelo seu sangue.

FRAGILE | ✓Where stories live. Discover now