Partido

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Olhei para o relógio em cima do criado mudo, já se passavam das duas da madrugada.

A cama que antes era o melhor lugar do mundo parecia horrivelmente desconfortável, e eu não conseguia mover um músculo sequer. Tudo estava estranhamente calado mas minha mente parecia estar a mil por hora.

Meu relacionamento com Oliver sempre foi cheio de altos e baixos, isso era um fato. Nós dois começamos errado, e isso nos perseguia a cada momento que achei que pudesse ser diferente. Todo momento de felicidade conseguia ser sugado de nós dois e mandando para um universo paralelo, nós dois éramos tóxicos e ainda arrastamos duas crianças inocentes para isso. Eu era mimada, uma criança mimada sem pais de verdade para impor limites sérios, e ele era extremamente egoísta. Dois defeitos que jamais deveriam existir em pais, duas coisas que formavam caráter duvidoso em uma criança. Pensar nisso dilacerava meu coração, pensar que meu filho teria que conviver com o drama de ter um irmão fora do casamento fazia minha cabeça girar.

Antes que eu pudesse pensar comecei a descer as escadas do apartamento em busca de alguma coisa para comer. Desde todo o drama do primeiro filho ser revelado que eu não tinha sequer pensado em comer alguma coisa. 

Charlotte tinha se hospedado em um hotel a poucas quadras do nosso bairro, mas ela parecia estar lado a lado da minha casa. Era uma maldição e estava na minha cabeça a cada segundo.


- Você não consegue dormir? - Oliver perguntou assim que liguei a luz da cozinha, me assustando.

Seus olhos estavam vermelhos como se estivesse acabado de acordar, e dessa vez ele usava uma camisa. Assenti indo em direção ao armário, colocando a mão e puxando um pacote de salgadinhos que com certeza eram cheios de corante.

- Nós dois temos que conversar.

Ele disparou assim que me virei. Assenti calmamente abrindo meu pacote de Doritos com toda a paciência do mundo. Essa conversa ia render, e nós dois sabiamos disso.

- Conversar sobre o fato de você ter um filho fora do nosso casamento? - Perguntei com sarcasmo. - Ou sobre o quanto foi desrespeitoso você convidar aquela mulher pra dormir na nossa casa?

Tentei parecer menos irritada do que estava, mas a julgar pelo olhar de Oliver não tinha conseguido. Só de pensar em Charlotte e seus olhinhos azuis e franceses na minha casa me dava raiva. Sei que a casa não era minha, já que eu simplesmente nunca paguei nenhuma despesa, mas Oliver me disse várias vezes que era o lugar que nós dois chamaríamos de lar.

- Aquela mulher é a mãe do meu filho. -  Oliver retrucou.

- Eu também sou! - Exclamei deixando cair o materia de plástico das minhas mãos. - Não se importou e nem sequer pediu minha opinião antes de decidir fazer o que era melhor para todos nós, você simplesmente fez! Isso é a droga de um relacionamento, você não pode nem vai ter atitudes por nós dois.

Explodi indo em direção a ele. Diferente de mim Oliver se encontrava totalmente calmo e impassível. Como se não considerasse nenhuma palavra que eu estava falando. Por um momento cheguei a pensar que isso aconteceria, que Oliver ficaria cego com a tão sonhada paternidade e agiria como um idiota comigo. Desconsiderei isso um segundo depois quando me lembrei como me tratava, como supostamente me comprou e como ficou quando descobriu que eu estava grávida.

- Você não pode ser egoísta agora. Não nesse momento, não preciso dessa Zoe, não preciso lidar com isso e ouvir seus chiliques. - Ele fez uma pausa apontando para mim. - Preciso de toda a sua maturidade para entender a situação, sinto muito por isso ter acontecido, eu não queria ter um filho de nenhuma mulher no mundo que não fosse você, mas tenho, tenho um filho de quatro anos que não faz ideia de nada e que não tem culpa nenhuma da irresponsabilidade da família dele.

Ele falou sem alterar nem diminuir a voz. A firmeza nas suas palavras demonstravam tanta convicção que quis revirar o olho a cada frase. Eu seria madrasta de uma criança que nunca ouvi falar na vida, e ainda seria mãe. Nunca quis sequer ser tia de alguém, e Oliver só conseguia se preocupar com ele.

- Se você queria tanto me comprar pra brincar de mamãe e papai e ter uma família com uma casinha de cerca branca, por quê diabos não foi atrás da Charlie? Ela parece querer isso tanto quanto você. - Dei ombros enquanto falava. - A porra do seu problema é que você consegue ser a pessoa mais egoísta do mundo, só se importa com seus sentimentos e com suas dores. Não aceitou quando eu disse não e me obrigou a casar com você por ego, por puro egoísmo, ou você é tão desprezível que não consegue alguém que queira casar com você de graça?

Seus olhos se estreitaram para mim e ele soltou uma risada incrédula nasalada. Oliver não parecia nem um pouco surpreso ou magoado com minhas palavras, ele só parecia extremamente cansado de todo o bate boca.

- Não acredito que você está jogando o nosso casamento na minha cara. Não consigo acreditar que casei com a porra de uma criança. - Alterou a voz de repente me fazendo encolher.

Franzi o cenho ao ouvir suas palavras. Tinha todo o direito de jogar na sua cara quantas vezes fosse preciso. Oliver me forçou a uma vida que eu jamais aceitaria em sã consciência, passou por cima do que eu queria ao me tornar a esposa dele, e a piorar isso quando fiquei grávida.


- Você sabe muito bem que se fosse por mim, nós dois não estaríamos aqui. Eu não estaria grávida, nem estaria nessa situação que nem mesmo você sabe como resolver. - Retruquei.


- É isso que você quer? Usar o meu filho de justificativa pra sair correndo para longe de mim? - Disparou as perguntas me olhando de forma acusadora. - Nunca te impedi de ir embora. As portas estão completamente abertas para qualquer decisão que você tomar.

Dessa vez, fui eu a soltar uma risada incrédula olhando com raiva para ele.

- Está insinuando que quer que eu vá embora?

Meus olhos se encheram de lágrimas mas recusei a deixa-las cair, erguendo o queixo ao olhar para ele.

- Estou te dizendo que é livre pra fazer o que quiser. Não vou me desculpar por não entender essa situação, não importa quanto você bata o pé. Eu sou pai, não tenho mais tempo para parar meu mundo e ir correndo atrás de qualquer mero sinal de problemas que você dá. - Ele andou até estar do meu lado, virado em direção a porta. - Talvez você estivesse certa esse tempo todo, idealizei uma Zoe que não existe mais.

Suas palavras arrancaram meu coração. Literalmente o senti parar de bater quando virei a cabeça para olhar para Oliver. Seus olhos verdes estavam focados no meu rosto e ele parecia dolorosamente sincero. Sustentei o olhar por alguns segundos antes de olhar para baixo, envergonhada.

- O ZSZ no meu braço significa "Zoe sempre Zoe". Não tem mais nada a ver com você, pode ficar tranquila. - Ele voltou a falar, desviando os olhos para a tatuagem preta em seu braço. - Quando isso foi feito, as coisas eram diferentes.

Pisquei meus olhos sem ser capaz de conter as lágrimas. Não parecia uma briga normal, parecia um término. Oliver soltou um suspiro frustrado antes de me abraçar pelos ombros me fazendo chorar ainda mais em seu peito.

Eu era uma ilusão de família, assim que Oliver tivesse um pouco de contato com o filho, isso acabaria. Oliver não amava a mim, ele amava o que eu lembrava. Amava a sensação de estar com alguém que o conhecia desde sempre.


Eu era uma versão piorada da criança que fui, e apenas isso.



PQ AGIU ASSIM? MENTIU PRA MIM ME PROMETEU O CEU FALANDO QUE ME AMAAAAAAAAA


e ai galera vcs querem me matar ja percebi

Gente, 9 caps para o término de CE ui ui 

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