Contrato Escarlate

Eu e você

Sem dúvidas nenhuma essa era a pior semana da minha vida. O que era engraçado, já que a alguns dias atrás tudo parecia estar perfeitamente bem. Eu tinha dois filhos saudáveis, uma casa boa, uma esposa que eu amava e uma vida completamente feliz. E de repente, uma simples coisa arrastava tudo para baixo.

Arqueio as costas na poltrona de couro que tinha no quarto, soltando uma respiração longa enquanto observava Zoe dormir. Ela ainda não tinha acordado e sem dúvidas, isso era preocupante. Ninguém sabia de nada até ela acordar. Só que ela estava viva e estável por enquanto. Fui obrigado a engolir toda a minha estupidez e ligar para Blake e Daisy, apesar deles serem os piores pais do mundo, tinham que saber que a filha tinha sofrido um acidente. E se eu estava mesmo querendo começar a ser um exemplo para os filhos que tinha, precisava agir com sensatez ao invés de ignorar todos. Elizabeth e Louis tinham vindo no mesmo dia que eu liguei, deixando toda a supervisão da ZHT de pernas para o ar. Todos estavam em solo canadense, até mesmo meu pai e Tsunade.

- Você devia comer alguma coisa se não quiser estar se alimentando por uma sonda quando sua esposa acordar. - Valerie, a doutora pé no saco falou assim que entrou na sala.

- E você devia tomar banho invés de dormir na sala de repouso. - Retruco recebendo um olhar duro dela.

Valerie tinha se tornado a própria sombra de Zoe, assumindo o caso no momento em que chegamos no hospital. Ela ainda era residente, mas de uma forma estranha eu confiava nela. Ela tinha sigo a única que além de mim, também não tinha desistido de salvar Zoe naquele dia. Mesmo que o chefe babaca tivesse falado que Zoe estava morta, ela lutou pela vida de uma desconhecida com toda força que tinha e alguém que tinha tanta esperança por qualquer um, merecia reconhecimento.

- Eu salvo vidas. Nada que você falar pode me afetar. - Ela falou olhando algumas coisas que eu sequer entendia o que era. - Sério Oliver, sai daqui e vai comer alguma coisa antes que você acabe desmaiando. E lave esse rosto, está com uma cara péssima.

Arqueio uma sobrancelha em sua direção enquanto ela me ignora. Valerie era uma dessas mulheres que não se sentiam intimidadas por nada, e muito menos por mim. O marido apaixonado que sequer dava dois passos para longe da esposa.

- Já disse que não vou a lugar nenhum, você é surda? - Pergunto ríspido.

Não me importava se ela era médica ou não. Ela era completamente irritante na maioria das vezes e eu não iria medir as palavras só por que estava em um hospital, eu tinha todo o direito do mundo de explodir de raiva e de deixar de comer se eu quisesse, e ninguém iria me dizer o contrário.

- Você é mesmo um riquinho babaca. - Ela tira o estetoscópio do pescoço suspirando forçadamente. - Tudo bem, fique horrível se quiser, não tenho nada a ver com isso.

- Ainda bem que você sabe. - Retruco. - Não é dona do mundo por que é médica.

- E você não é dono do mundo só por que é empresário. - Ela diz no mesmo tom que eu, saindo da sala no momento que acabou de checar Zoe.

Estico os ombros no momento em que me vejo sozinho novamente, olhando para a minha esposa que parece minúscula nessa cama. Adam e Aaron já estavam começando a sentir falta dela, e a pior parte com certeza era mentir sobre isso para eles. Na pior das hipóteses o que diabos eu diria para eles? Como se conta a crianças que eles nunca mais verão a mãe deles?  Como se cria dois filhos sozinho? Apoio meu rosto nas mãos fechando os olhos por um estante. Apesar de todo o caos que tudo isso era, eu tinha sorte. Zoe estava morta, ela morreu bem na minha frente por dez minutos, por dez minutos eu perdi todo o meu mundo e agora mesmo que ela não tenha acordado, apenas de poder segurar a mão dela eu me sentia o cara mais sortudo do mundo. Zoe era a pessoa mais forte que conheci com toda a certeza do mundo, uma sobrevivente, a minha sobrevivente.

- Onde eu estou? - Zoe desperta me fazendo dar um pulo da cadeira.

- No hospital.

Falo me levantando o mais rápido que consegui, indo em direção até a cama. Seus olhos grandes estavam grudados nos meus, quase como se não me reconhecesse. Os lábios estavam secos, mas continuavam lindos, mesmo quando ela franzia daquele jeito esquisito para olhar ao redor do quarto.

- E quem é você?

A maioria das pessoas, na maioria das vezes sente o coração parar diante de uma tragédia. Mas o meu coração tinha acabado de sair da porra do meu peito enquanto eu a olhava. Minhas mãos começaram a tremer de imediato enquanto meus olhos ainda estavam cravados no seu rosto. Que porra de brincadeira era essa que a vida estava fazendo comigo? Zoe tinha quase morrido uma vez, esquecido de absolutamente tudo que me envolvia e se apaixonado pelo cara mais babaca da face da terra. Então eu tinha sido um imbecil e a obrigado a casar comigo, então ela se casa e por algum milagre, me ama de volta. Nós passamos por um inferno antes de construir uma vida, ter um filho, e ela simplesmente morre na minha frente, para depois esquecer de novo quem eu sou?

- Seu marido. - Minha boca treme enquanto eu falo. - Você não pode se esquecer de mim de novo.

As palavras saem como ordem por que realmente são. Zoe não podia fazer isso de novo, nós tínhamos Aaron e Adam, nós tínhamos uma vida inteira juntos que não podia ser esquecida. Nunca, jamais.

- Não, você não é meu marido. - Garantiu ela, se esforçando para sentar. - Meu marido jamais iria usar a porcaria de um terno amassado desse jeito. Quando foi a última vez que você tomou banho?

Zoe fez uma carranca completamente irritada.

- O que você disse? - Arqueei as sobrancelhas.

- Você está horrível, Oliver. Tem dois filhos pra cuidar, e onde estão eles nesse momento? - Ela pergunta cruzando os braços.

- Eu pensei que você tivesse me esquecido. - Falo entre dentes. - Você me deu o maior susto por não gostar da minha aparência?

- Sim.

Ela piscou um olho para mim, me fazendo ficar boquiaberto. Coloquei uma mão no coração, soltando a respiração que eu nem mesmo sabia que prendia a esse ponto. De todos os jeitos, meu coração e a porra da minha mente pertenciam a ela. Zoe era a única mulher que me irritava e me acalmava ao mesmo tempo e definitivamente, ter essa discussão foi a conversa mais feliz de toda a minha vida.

Subo em cima da cama, ignorando todos os avisos de que provavelmente é isso é proibido e a abraço com toda a força que consigo. Seu coração bate sob a palma da minha mão e em um instante, esse é o som mais lindo do mundo.

- Agora você pode dizer onde estão meus filhos? - Ela resmunga, ainda abraçada a mim.

- Estão com Madson e virão daqui a pouco. - Falo antes de mandar uma mensagem para Maddie.

Ela suspira assentindo. Valerie tinha me dito que ela provavelmente acordaria bem, mas depois de dois dias sem sinal de que iria voltar a normal. A preocupação me rondou. Graças a Deus, a irritante médica estava certa.

- Agora você me conta tudo, já que eu não consigo me lembrar de nada mais que eu caindo no rio.

Assenti, começando a falar de como foi o que com certeza, tinha sido os piores dias da minha vida, detalhe por detalhe. Pensando no quanto tudo isso não tinha mais significância já que ela estava aqui, nos meus braços.

Pensou que ia dar merda né? Sim, ainda tem mais!!