Contrato Escarlate

Respire

Desespero.

Em questão de segundos eu estava correndo para o carro, sem conseguir pensar em mais nada que não fosse ir até a porra do rio ver com meus próprios olhos que minha esposa não tinha morrido. Era um engano. Eu já tinha passado por isso várias vezes. Primeiro incêndio? Viva. Segundo incêndio? Viva. Ela não iria morrer afogada agora. Não agora que tudo tinha acabado de começar. Não agora que Aaron tinha nascido e que Adam e eu estávamos juntos. Ela não ia me deixar sozinho para criar dois filhos.

Em algum ponto, eu tinha vestido uma blusa e calçado sapatos. Não lembro como isso aconteceu, mas me dei conta disso alguns minutos depois que estava dentro do carro. Talvez Madson tivesse me dado, ela estava do meu lado chorando escandalosamente. Enquanto eu tentava dirigir o mais rápido que eu conseguia. Senti vontade de gritar para ela calar a boca, chorar daquele jeito me dava nos nervos e eu não queria estar nervoso quando visse Zoe. Não queria ter que explicar que gritei com a minha irmã e não queria brigar com ela assim que me certificasse que ela estava viva. Só queria ver ela, e ligar para Noire dizendo que ela estava errada, que minha esposa não tinha caído em rio nenhum.

Que o amor da minha vida estava vivo e bem, e que provavelmente parou para ajudar alguma pessoa, ou para comer alguma coisa.

- Não acredito que ela morreu. - Sussurrou Madson, fazendo meu sangue ferver de raiva. - Nós nos vimos a menos de uma hora e...

- Ela não morreu. - Interrompi ríspido. - Zoe sabe nadar, ela não é nenhuma imbecil. Tenho certeza que só viram o carro dela perto do rio e todo o falatório começou.

- O carro dela caiu no rio, Ollie. - Sua voz vacilou. - Noora viu, ela tinha acabado de sair do Starbucks.

- Noora não sabe de nada. Ela é atendente de lanchonete, não deve ter QI o suficiente nem para decorar rostos, imagine carros?

As palavras saíram frias da minha boca fazendo Madson se encolher. Eu sabia que não devia falar de ninguém assim, mas não conseguia ouvir mais nenhuma frase da boca dela. Não conseguia mais escutar seu choro. Madson não tinha motivos para chorar. Zoe estava viva e bem, e eu já tinha certeza disso agora. Não importa o que as pessoas tenham dito e não importa quão alto Madson estava chorando. Ela estava viva, tenho certeza.

Alguns minutos depois, a visão do rio Worten encheu minha visão me fazendo apertar o volante até meus dedos ficarem brancos de ansiedade. Estava tudo um caos absoluto. Tinha três duas ambulâncias no meu campo de visão e uma caminhonete vermelha amassada bem perto da água. O trânsito tinha parado, na altura que eu estava não dava mais para dirigir e então eu saí do carro sem pensar duas vezes. Corri em direção a todo o caos o mais rápido que eu consegui, vendo algumas pessoas olharem para mim. Não entendi o que porra estavam olhando. Será que até eles tinham acreditado que Zoe tinha morrido? A essa altura, ela estava na ZHT dando uma entrevista, e não em um rio quase congelado.

- Não pode passar daqui senhor. - Um bombeiro alto me segurou pelos ombros quando eu cheguei mais próximo da picape que estava começando a ser isolada. - Não tem nenhum ferido aqui. Os donos da picape já foram levados para o hospital, os da Mercedes só tiveram ferimentos leves.

Meu coração errou uma batida, e todo o ar pareceu sumir por um minuto. Zoe não dirigia uma Mercedes. O carro dela era uma BMW traz x7 cinza desde que viemos para cá. Isso era bom, saber que Noire e sua amiguinha balconista estavam erradas me fez quase sorrir de alívio.

Assenti freneticamente para o bombeiro, me afastando dele e da parte isolada enquanto tentava respirar novamente. Um suspiro aliviado saiu dos meus lábios e eu quis pular de alegria, mas me conti a um sorriso pequeno, enquanto dava passos calmos em direção ao meu carro. Zoe iria rir da minha cara até o dia que eu morresse quando eu contasse que todos me disseram que ela tinha morrido hoje. Consegui até mesmo escuta-lá dizendo algo como "Sou tão ocupada que não consegui estar presente nem para a minha morte" enquanto suspirava entre passos.