Capítulo 3

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Sem Revisão*

Danielle Marshall

O sol das quatro horas esquentou meu rosto. Suspirei fundo e fiz uma prece rápida, na entrada da pequena garagem de  minha casa eu montei na bicicleta e segui pela rua calma da vizinhança. O cansaço do plantão de doze horas ainda pesava no meu corpo, e por mais estranho que seja andar de bicicleta amenizava todo stress.

Cumprimentei o sr Johnson, que regava as roseiras na lateral da casa amarela. Como de costume ele acenou e sorriu largamente. Eu amo a alegria que ele emana.

Segui pela faixa de ciclistas até o meu segundo lugar favorito. Minha floricultura, o local onde todos os meus problemas evaporam. No início foi difícil, o aluguel era uma pouco caro, e como estava no início dos lucros eu cogitei fechar, só que com o tempo tudo melhorou. Hoje, eu e minha equipe fazemos todos os tipos de trabalho, casamentos, aniversários, velórios. Agora penso em expandir meu trabalho para as cidades vizinhas.

Meus amigos do hospital perguntam como consigo aguentar o cheiro de tantas flores, simples, sou apaixonada por flores. Paixão que herdei da minha falecida avó paterna.

— Dia alegre.

— Alegre dia. — respondi Ellie e a abracei, era nossa rotina. Dei a volta no balcão e guardei minha bolsa.

— Como foi seu dia hoje?

— O sr Lincoln veio hoje. — vi as bochechas enrugadas ganharem uma coloração vermelha.

— Sua danadinha! Aceitou o convite para o café?

— Eu estava esperando você chegar, ele me espera.

— Então vá, não deixe o amor esperando.

Pisquei para ela. Ellie gargalhou e saiu. Sessenta e três anos, a mulher dava um banho de jovialidade em qualquer um. Quando conheci Ellie, ela morava na rua, foi amizade a primeira vista. Por acaso do destino eu procurava uma funcionária para me ajudar temporariamente. Ofereci um quartinho nos fundos da loja para ela, muito melhor do que um cobertor rasgado. O que era para ser alguns meses tornou-se três anos. Ela ainda mora no quartinho, disse que ali era o lugar que ela mais amava, convites para morar comigo não faltaram.

O sininho da porta ecoou pelo local. Olhei para cima e vi Jonathan caminhar envergonhado até mim. Gargalhei diante a expressão irritada que ele me deu.

— Vamos ver, esqueceu o aniversário de namoro?

— Engraçadinha, foi isso mesmo. — olhou ao redor e suspirou. — O que dou dessa vez?

— Um tratamento para seu cérebro esquecido?

Fiz um laço de cetim, enlacei as hastes dos lírios e lentamente armei o laço azul.

— Você está sempre salvando minha vida, Dani.

— É isso que os amigos fazem. — entreguei o buque para ele. — Compre algo especial para ela. Faça tudo para ser perfeita esta noite.

Ele fez o pagamento e ainda fez a promessa de não esquecer mais nenhuma data. Coitado, estaria de volta daqui duas semanas. Seria o aniversário da mãe dele, e com certeza ele esqueceria.

O resto do dia passou rápido. Fiz encomendas de novas sementes de jasmim e papoula. Eu tinha uma estufa no subúrbio da cidade, mérito ganhado em um concurso ano passado. Ter a estufa só melhorou meu desenvolvimento.

Ellie chegou as sete horas. Ajudei ela a fechar a loja, regamos todas as flores que mantínhamos em amostra, substituímos as mais velhas por novos arranjos.

Peguei a bicicleta e fui rumo ao meu outro local de trabalho. Sou garçonete de uma boate famosa aqui em Brisbane, local onde muitos universitários passam o fim da noite.

Quando comecei a trabalhar na Magic's Lover foi por diversão, o salário era convertido para os projetos de caridade que a igreja que frequento faz. Meu turno era das oito às onze, assim que terminava eu seguia para casa e cuidava do meu pai.
Sim, minha vida é uma loucura. Todo meu tempo era ocupado por coisas que eu adoro fazer. O hospital, a floricultura, minha casa, onde as duas pessoas mais importantes da minha vida estavam.

Eu senti que algo estava diferente assim que deixei a bicicleta no estacionamento ao ar livre atrás da boate. Havia inúmeros carros de luxo ocupando as vagas que antes eram ocupadas por carros simples.

Segurei minha bolsa no ombro. Ao passar pelos carros alguns homens vestidos de ternos e sapatos impecáveis passaram por mim, os semblantes irritados avaliaram meu corpo. Não me demorei, andei o mais depressa possível até a entrada do fundo. A música alta explodiu nos meus ouvidos assim que empurrei a porta. Andei pelo corredor até a salinha onde as garçonetes ficam. O que encontrei fez meu estômago revirar, havia um homem morto no chão.

Engoli o grito que quis sair da minha boca. Dei alguns passos para trás. Virei e segui rumo a porta, que naquele instante parecia estar mais longe.

— Não pode sair, paixão. — a voz tenebrosa sobressaiu a música alta. — Creio que você ainda tem muito trabalho por aqui.

Estanquei no lugar. Cada partícula do meu corpo gritou que aquilo só daria errado. Agarrei a alça da bolsa o mais forte possível.

Olhei para trás e vi um homem. Não era um simples homem, era a personificação do diabo. Os olhos azuis brilhavam de um modo estranho, a língua deslizou pelo lábio, um sorriso assustador brincou em seus lábios.

— Vamos logo, paixão. A noite é uma criança.

Engoli em seco. Só fiquei três dias longe. O que aconteceu nesse tempo?



Bjs e até o próximo. Não esqueça a estrelinha e se possível indique a história ;)

Ansel - Trilogia Sombras da Noite #1 ✔️Where stories live. Discover now