Capítulo 27

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Sem Revisão *

Danielle


"Aquele homem não era real. Ele trazia dor e sofrimento por onde passa. Existe uma trilha de corpos entre eu e ele. Pessoas agonizando, outras clamando pela morte. Em meu peito existia uma dor dilacerante, minhas lágrimas caiam como uma chuva sem fim. Então o notei com mais nitidez, a névoa densa se dissipando aos poucos. Aquele homem... ele parecia ser familiar. Dei alguns passos hesitantes em sua direção, a dor cada vez mais forte. Tremores ruins consumiram meu corpo quando vi ele. Era Ansel, segurando a cabeça do meu pai em sua mão.

— Somos eu e você agora.

O grito de horror foi inevitável. Eu sabia o que viria..."

Giro meu corpo na cama, minha respiração rápida e ofegante. Um raio risca o céu escuro, a chuva batendo furiosa contra a janela. Toco em meu corpo, a camisola ensopada de suor. Jogo as cobertas para longe, tateio a cômoda até conseguir acender o abajur. Sem luz.

O que aconteceu? Minha cabeça dói pelas lembranças, Ansel, a agressão... Aquele filho da puta, que Margot me perdoe.

Solto uma série de palavrões enquanto tento andar as cegas pelo quarto, o cheiro de perfume masculino indica que voltei para a casa dele. Outro raio ilumina o quarto e consigo chegar até a porta.

O corredor está escuro, eu caminho contra a parede, meu coração batendo forte. Porque está tudo escuro? Onde estão todos? Se isso for uma punição de Ansel, ele conseguiu me deixar com medo. Tenho pavor de ficar no escuro, ainda mais sozinha.

Um vulto escuro passa ao meu lado, algo arde no meu braço, toco ali e sinto algo molhado, o cheiro ferroso invadindo minhas narinas. Me olhos não se adaptam, eu corro pelo corredor sentindo tudo doer. Sinto ele vindo, me abaixo e bato minhas mãos no ar, atinjo algo e o puxo para baixo. É um homem; suas mãos grandes e ásperas envoltas no meu pescoço. Não sinto mais meus pés no chão, o ar sumindo dos meus pulmões, arranho ele e na última tentativa eu chuto. O grunhido rouco é a deixa que preciso, soco minhas mãos contra as deles e consigo me soltar.

Não tenho tempo para respirar, corri sem rumo. A luz voltou, fiz a burrice de olhar para trás. O soco passou raspando pelo meu rosto, perdi o equilíbrio caindo sobre a mesinha de centro na sala. O estouro do vidro atingiu meu corpo assim  como a dor.

O homem negro de cabelos raspados tira uma arma do bolso, ele é grande, três dragões contornam seu pescoço até o rosto. O sorriso sinistro era pior.

— Quem é você? O que quer de mim?!

— Eu só cumpro ordens, e a ordem é matar você e a garotinha. Mas pelo jeito hoje será só você.

Ele engatilha a arma e mira na minha direção. Tomo uma respiração funda.

Talvez seja melhor assim, uma dor mais rápida. Um fim para toda essa história.

O homem chegou mais perto.

Algo atingiu seu rosto e depois ele caiu no chão em um baque surdo.

Ansel me tirou do chão, tudo ardia. Um pedaço de vidro está alojado na minha coxa esquerda. Minha mão treme quando seguro na ponta.

— Deixa isso, segura no meu pescoço.

Envolvo meus braços ao redor do pescoço dele. Sou erguida e ele me leva para o quarto. A pia fria de mármore deixa um arrepio subir pelo meu corpo quando  Ansel me senta ali, ele pega uma toalha de rosto. O pedaço de vidro é arrancando rapidamente da minha coxa, mordo meu lábio pela ardência. Ele coloca a toalha sobre o corte e sai. Toda essa tranquilidade dele me deixa nervosa. Ao voltar, Ansel está com o celular no ouvido apoiado no ombro, nas mãos trás uma garrafa de uísque.

— O local sete foi comprometido. Leve Becca para a casa de Alisson e me avise depois. Chegaremos lá em meia hora. Reúna todos.

Ele desliga e guarda o celular no bolso.

— O que aconteceu?

— Temos um traidor na minha equipe. Saí daqui para ir buscar Becca, mas no meio do caminho recebi um alerta de que alguém entrou com a senha de Dora...

— Ela deu a senha para alguém?

Meu Deus! Dora jamais faria algo assim.

— Não, liguei para ela durante o caminho. — Ansel tira a toalha e derrama parte do uísque no corte. Eu grito pela dor repentina e agarro na camisa dele. — Dora está no hospital, foi agredida por alguns homens e levaram seus pertences.

Ele amarra a toalha ao redor da minha coxa. Começa a tirar pequenos cacos nos meus braços e cabelo.

— O que faremos agora?

— Vamos sair daqui antes que mais deles voltem.  

Ansel me levou para o quarto, ainda comigo grudada nele, ele pegou uma arma no closet e um casaco. Saímos dali e fomos direto para o elevador.

O homem está no chão, uma lâmina contra a lateral de sua cabeça.

No estacionamento Ansel me colocou dentro do carro e pôs o cinto em mim. Jogou o casaco sobre meu corpo e entrou.

O caminho foi feito no maior silêncio.

Eu só pensava em uma coisa, Ansel tem transtorno de bipolaridade. Só pode ser isso.

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Ansel - Trilogia Sombras da Noite #1 ✔️Where stories live. Discover now