Capítulo 4

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Sem Revisão*

Danielle Marshall

Havia duas opções para mim. Primeira, correr até a porta de saída no fim do corredor e não olhar para trás. Segunda, gritar por ajuda.

Pois não escolhi nenhuma. Em dois passos o diabo de olhos azuis está na minha frente. Ele sorri e passa o braço ao redor do meu, como se fossemos o pai e a noiva a caminho do altar.

— O que faz aqui, paixão?

— Eu trabalho aqui, ou trabalhava. Não sei!
Tentei me soltar dele, mas o braço dele era como aço. Nitidamente eu estou em sérios problemas, ao passarmos pela porta onde o corpo ainda jazia no chão meu estômago revirou. O homem gargalhou e indicou para que eu continuasse a andar.

— Um pequeno problema aconteceu ali, paixão. Mas já foi resolvido.

Corra Danielle, minha mente ordenou. Meus pés fizeram o contrário, continuaram seguindo até a porta que daria para o salão. Um homem que tratava a morte com um problema insignificante deve ser alguém ruim. Olhei de soslaio para ele, emanava uma graça louca, o sorriso debochado no rosto bonito me deu calafrios.

— Qual o seu nome, paixão? — perguntou ao parar do nada.

— Danielle.

— Bom, Danielle, tivemos uma mudança de donos. Tudo aqui é ilegal, e nada do que acontece aqui pode sair daqui. Entendeu?

— Eu não quero ficar aqui! Tem um corpo a alguns metros daqui e você parece nem estar ligando para isso.

— Aquilo ali é algo banal, meu amor. — ele pôs a mão na maçaneta e girou lentamente. — E você não pode mais sair, viu coisas demais.

E empurrou a porta. Love is a bitch reverberou pelo ambiente, as cadeiras foram substituídas por poltronas de couro preto e vermelho, o palco que antes acontecia apresentações de jazz ou country agora era tomado por mulheres nuas dançando sensualmente.

Homens e mulheres transavam por todos os lados, drogas eram consumidas a vontade.

— Meu Deus!

Meus olhos não tinham um local fixo para ficar, Observei toda a perversão que acontecia como se fosse algo totalmente normal. Eu já tinha ouvido falar sobre boates assim, até vi algumas em séries e filmes, mas ver pessoalmente é totalmente diferente.

Senti uma mão na minha lombar, movimento esse feito pelo diabo de olhos azuis. Ele estudava meu semblante, o sorriso nunca abandonando o belo rosto.

Ele incitou para que andasse. Eu tinha que ficar calma, surtar não iria adiantar nada.

Fomos para um canto da boate, ali o barulho da música era menor. Ele parou a poucos centímetros de mim, o perfume dele era uma mistura inebriante, olhei para ele. O terno cai bem no corpo másculo. O que me chamou atenção foi o volume na calça dele. Percebendo para onde eu olhava ele sorriu.

— Digamos que eu prefiro mulheres submissas, e você paixão, não parece ser submissa.

Ele enrolou um cacho do meu cabelo no dedo. Bati mão dele e afastei para trás.

— Lukas, estão te esperando.

Um homem grande apareceu do nada. O olhar dele desviou do tal Lukas e passeou pelo meu corpo. Me abracei e desviei o olhar, não fico confortável com pessoas me analisando.

— Estarei lá em breve. Pode ir. — disse ríspido. O homem acenou e saiu. — Paixão?

Um sorriso discreto se formou nos meus lábios. Mesmo sabendo meu nome ele insistia em usar esse apelido ridículo.

— Evite cruzar o caminho de qualquer homem aqui, eles não tem tanto controle  como eu.

Piscou e se foi. Ainda precisei de alguns minutos para me recuperar de tudo que vi nos últimos minutos.

Passei pela massa de pessoas suadas que dançam na pista em direção ao bar. Alguém esbarrou em mim e quase fui ao chão, me mantive firme. O suor já brotava em meu rosto. Olhei para cima. Havia vários homens reunidos na parte superior. Lukas está lá, a mão dentro da saia de uma ruiva estonteante. Sorri para a cena, ele conversa com outros homens e a mão trabalha na ruiva.

Vi um homem que parecia alheio a tudo, não dava para ver muito do rosto. Ele segura um copo na mão e leva aos lábios.

Como se sentisse sendo observado ele olhou diretamente para mim. Recuei um passo ao notar a carranca que ele demonstrou, se Lukas era o diabo aquele homem ali era algo pior.

Segui para o bar, uma pontada de familiaridade assombrou meu corpo ao ver alguns amigos. O bar está a todo vapor, bandejas indo cheias e voltando vazias. Dei a volta no balcão e guardei a bolsa no espaço disponível.

— Danielle! Aii meu senhor.

Quase cai quando Marissa me abraçou forte. Inspirei o cheirinho de morango dela,  algo que sempre faço quando nós nos abraçamos.

— Você percebeu a loucura que esse lugar virou? Até agora estou besta com tudo isso. — Ela se afastou. Rapidamente começou a fazer mais drinks.

— Eu percebi.

Tirei um elástico do bolso e amarrei meu cabelo para o alto, apesar da ventilação eu ainda estava suando. E com tanto cabelo encaracolado ficou pior ainda. Alguns cachos caíram e suspirei frustrada.

Cumprimentei algumas meninas e os dois irmãos que trabalham comigo há um bom tempo.

— E a Melanie? — perguntei ao não notá-la.

Marissa deixou o limão cair. Seus olhos encheram de lágrimas.

— Aquela idiota morreu! Apesar de odiar ela, eu não queria que ela morresse.

— Como assim?!

— O chefe quebrou o pescoço dela na frente de todos. — Jack diz. — Foi horrível.

— Meu Deus! E vocês ainda continuam aqui?

— Todos precisamos do dinheiro, Dani. — Marissa diz. — E o salário aumentou.

Balancei a cabeça. Que loucura! Marissa disse que era para eu circular pelo salão com a bandeja, quem quisesse só pegava.

Cinco bandejas depois e eu já estava irritada. Vários homens pegaram na minha bunda, mãos passando pelo meu corpo. Aquilo era algo agoniante.

Minha paciência está se esgotando.

No fim do meu expediente minha cabeça parecia uma escola de samba. Uma tal de Ivone me fez assinar um contrato de sigilo.

No estacionamento coloquei a bolsa na cestinha. Eu só queria chegar em casa, tomar um analgésico e ver com meus preciosos estavam.

— Ei paixão!

Revirei os olhos e olhei sobre o ombro. Lukas vinha com duas mulheres agarradas a ele. Completamente bêbado ele parou perto de um carro. Alguns homens de terno seguiam ele.

— Tenha uma boa noite, paixão. Eu vou ter.

Gargalhou e entrou no carro com as mulheres. O carro de luxo saiu do estacionamento seguido por outros três SUV's.

— Louco.

Montei na bicicleta e fui para minha casa. Sabe aquela sensação de estar sendo seguida? Senti isso duas ruas antes de casa. Fiz uma prece espantando essa sensação.

Ao chegar em casa dispensei a enfermeira antes de tomar um banho. Depois de vestir meu confortável pijama com estampas do Garfield eu fui para o quarto de Livy, minha irmã de três anos. Deixei um beijo na bochecha e afaguei os pequenos  cachos negros.

— Bons sonhos, princesa.

Apaguei a luz do quarto e segui para o quarto do meu pai, que nos últimos meses foi transformado em um quarto hospitalar.

Beijei o rosto magro dele. Uma lágrima deslizou pelo meu rosto.

— Bons sonhos, papai.

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Ansel - Trilogia Sombras da Noite #1 ✔️Kde žijí příběhy. Začni objevovat