Capítulo 40

2.7K 187 33
                                    

Bônus: Diogo Martínez, parte 1

Nunca se misture com a criadagem, não foi para isso que te eduquei, seja um lorde, um príncipe, procure sempre boas amizades. E pode apostar que não as encontrará no meio da ralé.

A voz da minha mãe ecoava sempre que eu queria ser bonzinho, desde que eu me entendo por gente, se é que posso ser considerado "gente", humano... por toda a minha vida eu sempre ouvi os piores  xingamentos existentes, e sabe o que eu sentia? Satisfação, felicidade, inflava meu ego.

Voltando a minha infância, que deveria ser normal, cheia de mimos e desejos atendidos, não foi bem assim. Dona Isobel de Bourbon Martínez, era filha de tradicional família espanhola, que se apaixonou perdidamente pelo poderoso traficante espanhol Héctor Martínez.

No auge dos seus vinte anos, novinha, assim como Sara quando casamos. Assim que descobriu que estava grávida, abdicou tudo para viver no México, jamais uma dama dos Bourbon seria mãe solteira. Já dava para imaginar que a lua de mel não duraria muito tempo.

Hoje, já sendo homem vivido, tenho certeza que minha mãe era frígida, ela sempre inventava chás, eventos beneficentes, reuniões, bailes... Isobel gostava de ostentar e deixar claro para as demais pessoas da seleta sociedade mexicana que ela era superior a todos, por ter sangue nobre.

Tínhamos uma casa na capital, onde morávamos, casa não, mansão, ela não aceitava menos que o melhor. A criadagem a odiava, na mesma proporção que a temiam. A maioria de origem humilde e sem estudo, não sabiam pronunciar o nome da patroa, a maioria chamava de dona Isabel, o que a deixava furiosa, no final das contas era tratada apenas como senhora Martínez.

Meu pai quase não vivia em casa, era um homem importante, naquela época eu não sabia que ele era um grande traficante. Eu amava viajar com ele para Acapulco, mas minha mãe quase não permitia. E foi numa dessas viagens para o litoral que eu o peguei beijando Cassandra, a empregada, eu nunca tinha visto ele beijar minha mãe daquela forma, ele parecia um animal descontrolado. Fiquei nervoso e sai correndo, naquela época eu ainda era inocente.

Pouco tempo depois a empregadinha ficou grávida do bastado. Claro, ela tinha que garantir a bela pensão, raça ordinária essa de subalternos. Foi nessa época que comecei a compreender minha mãe.

O idiota do meu pai se apaixonou pela mestiça e pediu divórcio para minha mãe, óbvio que ela não aceitou, Héctor estava tão enfeitiçado que mudou-se de vez para Acapulco, indo viver com Cassandra. Não sei se minha mãe amava meu pai, tenho sérias dúvidas sobre isso. Acredito apenas que ela não queria ser uma mulher divorciada, seria o fim para uma pessoa tão esnobe como ela.

Isobel não deu a mínima com a saída do meu pai de casa, eu fiquei desolado. Minha mãe nunca permitia que eu o visse. Numa noite eu a vi chegar bêbada em casa e quebrar vários objetos, anos depois eu soube que ela tivera uma crise, pois meu pai anunciou a separação e assumiu a empregada como sua mulher.

Foi humilhante demais para dona Isobel, ela arrastou o processo de divórcio por muito tempo, até que ela percebeu que meu pai não voltaria mais para ela, e arrancou uma fortuna de Héctor. Meu pai não deu a mínima, ele estava feliz demais com a nova família para se preocupar com os xiliques da minha mãe.

Depois do divórcio, ela voltou para Madri, eu quis ficar com meu pai, fria como ela era, não ligou e partiu. Não sei se eu seria menos ruim se tivesse ido embora com ela. O fato é que todo veneno que ela depositou sobre mim, fez efeito quando eu fui morar em Acapulco.

Eu passei a nutrir ódio pelo meu pai e pela nova família dele. As palavras de minha mãe martelavam na minha cabeça, "O homem só gosta do filho enquanto vive com a esposa, depois que ele separa, ele só vai amar os filhos do novo casamento."

Prisioneira do Tráfico (Livro 2) CONCLUÍDO ✅ Where stories live. Discover now