Capítulo 9

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Farah

Deixei o banho com uma toalha enrolada na cabeça. Se eu soubesse que Damon estaria me esperando jogado na poltrona do meu quarto, enrolado num velho cobertor de lã, eu teria mais pano em meu corpo além da minha roupa de dormir.

— O que está fazendo aqui? — questionei-o. Fazia dois dias que eu voltara da casa de Konstantinos, e exatos dois dias que eu não via Damon, mesmo dividindo um teto com ele.

— Precisamos conversar — disse, apenas.

— Eu não invado seu quarto quando quero conversar — rebati. Me deixava desconfortável ter uma presença masculina em um local tão íntimo depois do que me acontecera com Konstantinos.

— Tenho uma missão importante para hoje, preciso que cuide de Érebos para mim.

— Como!? — Me senti um galho torto, sem jeito.

— Não é nada demais. Só preciso que garanta que meus homens não descumprirão minhas regras.

— Que regras? — Eu estava a caminho de um surto intenso.

— Eu os proibi de traficar mulheres e crianças. Ou qualquer missão que possa colocar ess... — Ele mesmo se interrompeu.

Traficar mulheres... Um soluço sacodiu a minha cabeça. Vaguei por uma geada interna. Damon ia contra tudo que eu sempre defendi.

— Você é a única em quem confio para isso. — Ele finalmente se levantou e caminhou em passos errantes na minha direção.

— Qual a sua missão? — Mudei de assunto antes de aceitar ou negar.

Senti sua indecisão em ser sincero. Provavelmente se lembrava do que aconteceu da última vez que o fez.

— Preciso me livrar de um homem.

Matar.

— Por que não manda outro em seu lugar?

— Porque tenho que reconquistar a confiança dos meus homens. Preciso mostrar a eles que ainda sou um deles.

Nos olhamos sem demora. Para onde quer que meus olhos se fixassem em seu rosto, me adormecia. Pele pálida e marcada por linhas de prepotência, olhos com gelo da indiferença e matizados com cores sombrias, cílios curvados, cheios, lábios nem muito finos nem tão carnudos, sobrancelhas de um desenho elegante... Damon era inverno, brisa e canção. Ele me inspirava melancolia, mas debaixo daquela imagem bela e misteriosa, existia um coração medonho que frustrantemente desafiava meus sentimentos.

— E se eles não me respeitarem? — perguntei, baixinho. — Se os seus homens não me respeitarem...

— Quando eu olho para você, eu vejo sua maldade soprando. Existe uma obscuridade que eu já despertei. Use-a contra eles.

Damon deu mais um passo e ergueu as mãos para tocar em meus braços. Eu me afastei subitamente.

— Konstantinos a machucou?

— Estou bem. — Fui evasiva.

— Ele a agarrou?

Senti minha garganta se fechar como uma porta. Eu chorei por dentro. Eu podia ouvir as gotas pingando dentro de mim, como chuva caindo no telhado.

— Quer aprender a se defender? — perguntou.

Ergui as pálpebras. Ele conseguira minha atenção.

— Tente me bater.

O fitei como se ele fosse um maluco.

— Não farei isso.

O Corvo das Ilhas Gregas (DEGUSTAÇÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora