Capítulo 29

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Farah

Passei os dedos pelo meu pescoço para averiguar o quão ruim estava, mas não o senti ferido ou dolorido como suspeitei que estaria. Eu até ousaria dizer que a intenção de Damon tinha sido causar reação em Manish e não, me ferir de fato. Contudo, descobrir isso não mudava que eu o enfrentaria com unhas e dentes na próxima vez que o visse.

— Como sabia onde me encontrar? — questionei a Manish quando já estávamos de volta no esconderijo, seu casebre.

Enrugou a cara.

— Sorte. —  Não me olhou ao responder. Na verdade, foi eu quem não permaneci o encarando, queria era de fato entender aquela quantidade exorbitante de armas no balcão. O número aumentara drasticamente de um dia pro outro.

— Por que tanta arma? — Não insisti no assunto anterior, pois não fora capaz de ignorar aqueles fuzis AK na minha frente.

— Despertaremos a fúria da cidade, djan. É compreensível que eu me prepare o melhor que puder.

— Como conseguiu tudo isso!? — Passei a mão pela parte de madeira do fuzil.

— É uma arma barata e fácil de conseguir.

— Pensei que estivéssemos economizando para fugir. — O lembrei do que ele mesmo costumava me dizer.

— E estamos. Mas termos como nos defender caso tudo fuja de controle, é prioridade. — Os olhos cor-de-chocolate se semicerraram levemente. Manish era inegavelmente bonito, de cores e cheiros deslumbrantes, e tinha braços fortes onde eu desejava hibernar em proteção. — Não fique tão tensa — massageou meus ombros, me passando um calor intenso. — Isso acabará rápido e então poderemos ser livres. Sabe quantas vidas mudaremos? As indianas não precisarão se casar com homens velhos enquanto ainda tem idade para brincar com bonecas. Mudaremos o futuro, djan, não apenas o nosso, mas o de gerações.

— Eu só não quero machucar ninguém.

— Não machucaremos. Eu prometo a você. Pense que se não agirmos as coisas nunca serão diferentes. Seu pai nunca permitirá que um intocado se case com sua filha. Ele prefere matá-la a entregá-la a mim. Laksmi, Farah.

Ele usou o nome da deusa que trazia prosperidade e beleza para a terra para me convencer e barrou meus maiores receios com exatidão.

Nos cinco minutos seguintes, eu já havia cedido.

Laksmi — concordei e ele beijou o topo da minha cabeça com afeto.

— Por que você foi comprar os eletrônicos ao invés de pedir para Raj?

— Eu não o encontrei e queria dar uma volta. Estou trancada nessa casa desde que cheguei.

— Se o seu pai ou suas irmãs a encontrarem, a levarão de mim. — Prendi a respiração e não o respondi. — Me diz uma coisa, djan. Qual a quantidade máxima de explosivos que você consegue fazer com esse material que temos aqui?

— Por que precisa de tanto? Uma quantidade razoável de C4 é suficiente para gerar uma onda de choque altamente destrutiva. Isso é para destruir estruturas de grande dimensão e não é o que queremos. Um único explosivo já é o suficiente para o vagão...

— Isso não responde a minha pergunta.

— Me responda primeiro para que precisa de uma quantidade maior, e eu respondo se...

Ele bufou.

— Esqueça o que perguntei.

Atchá (tudo bem).

Claro que eu não esqueceria.

                                            ***

Tirei o saree azul que eu ganhara de Manish. Ele tinha belos detalhes em dourado, o que o tornava o meu preferido dentro todos os que ele me dera. O peguei no chão para dobrá-lo e foi nesse momento que senti algo duro na costura da barra. Apalpei e quando tive cem por cento de certeza de que havia um objeto em meu vestido, comecei a descosturá-lo com uma tesoura que peguei no criado-mudo.

Are, Baba. — Encarei o pequeno objeto preto sem entender o que aquilo fazia ali. Ele fora colocado de uma forma que era impossível senti-lo enquanto caminhava. Era leve e pequeno. Eu não teria o percebido caso não tivesse decidido dobrar meu vestido com tanto cuidado.

No auge do desespero, comecei a tirar todos os vestidos que Manish me dera do armário e os joguei sobre a cama. O suor me escorria pela nuca.

Com as mãos trêmulas, tateei os saree de cima à baixo. Descosturei peça por peça e quando finalizei, tinha cerca de cinco objetos nas minhas mãos frias.

— O que é que está acontecendo — balbuciei. Meu coração ficou vazio. Uma saliva estagnou na goela.

Virei o objeto de um lado pro outro antes de começar a desmontá-lo.

Encontrar um chip deixou tudo mais claro, mas não esclareceu a situação.

Por que Mahadeva (Deus Supremo) Manish colocara rastreadores em meus vestidos?

Me concentrei e me mantive firme, devia existir uma explicação para aqueles rastreadores estarem em todos os saree que ele me dera.

Os guardei na gaveta e deitei na cama, encarando o teto descamado e mofado. Um cenário tão feio me remeteu à pensamentos sujos.

Há quanto tempo Manish me rastreava?

Mais do que isso...pior do que isso.

Por que ele me rastreava?



Sento sem dó, viu Manish? 🤤

Sento sem dó, viu Manish? 🤤

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O Corvo das Ilhas Gregas (DEGUSTAÇÃO)Where stories live. Discover now