Capítulo 67

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Farah

Era o corvo.

O dono daquele império sangrento, atuando com movimentos de quem sabia que tinha todo o poder dali. Ele não precisava de uma arma, podia facilmente matar com as próprias mãos.

Não soube direito o que sentir diante a cena. O modo como arrastou aquela mulher que o serviu por anos escada abaixo me deixou assustada. Só que o espanto durou pouco quando fomos até o jardim de inverno e precisei prender a respiração devido ao forte odor de carniça.

Juliana se fizera de amiga apenas para apunhalá-lo pelas costas.

Ela não era uma santa, tampouco, alguém digno de piedade.

Damon a empurrou. Ela caiu de joelhos em sangue seco e pedaços do animal que ela mesmo destrinchou.

— Me deem uma pá! — ele exigiu para qualquer um dos empregados. A maioria estava ali para assistir à punição de uma traidora.

Quando a pá foi entregue, ele a jogou próxima à loira.

— Irá enterrá-lo e fará isso direito.

Com fúria, ela pegou a pá, se levantou e agrediu Dona Galanis na cabeça, libertando gritos, ecos e grunhidos da senhora.

Marvin e eu corremos para ajudar a empregada; por sorte a pancada não fora desferida com muita força.

— ENTERRE-O! — ordenou Damon pela segunda vez, após puni-la com chutes por atacar um dos seus.

— Eu amei você. Eu o idolatrei.

Minha garganta se fechou ao escutá-la.

— E me traiu. Se uniu a homens que querem me destruir. — Damon retrucou.

— Eu faria tudo de novo, ainda que me mate, porque você nos deu as costas quando mais precisamos de você e fez isso por causa dela.

De repente eu me tornei o centro das atenções. Cada olhar naquele jardim se voltou para mim.

Virei a cabeça rapidamente para ela.

— Não me culpe por sua falta de caráter. — Simplesmente adotei uma postura ríspida. Não permitiria que ela me culpasse por seu erro. Era o que todos faziam comigo.

— Vadia!

Damon deu um chute em sua perna e a fez uivar de dor.

Ela merecia cada machucado.

Eu não gostava de ver ninguém sofrer, mas ela eu estava gostando, primeiro porque matara um cão, segundo porque agredira Galanis que não tinha culpa de nada, terceiro... Ela despertava o pior que existia em Damon, o manipulava da mesma forma que Manish fizera comigo por anos.

Eu demorei, mas aprendi que uma maçã podre tinha o poder de apodrecer as outras e por isso ela devia ser arrancada.

— Comece a cavar ou eu juro que a matarei bem lentamente! — Ele avisou pela última vez e eu só soube ser a última porque os punhos se fecharam e se abriram.

Ela finalmente agiu.

Envolveu o cabo da pá com os dedos sujos de terra e humilhantemente começou o trabalho.

— Foi só uma armação? — Shobhan cochichou ao meu lado.

— É o que parece. Marvin e Damon enganaram a todos para pegarem o traidor.

— Deu certo.

Anuí e desviei sabiamente os olhos quando Damon cuspiu com repulsa nos cabelos loiros dela para humilhá-la ainda mais.

O Corvo das Ilhas Gregas (DEGUSTAÇÃO)Where stories live. Discover now