Capítulo 28

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Corvo
Tirei o celular descartável da embalagem e corri com os dedos pelos números. Chamou três vezes antes de Juliana finalmente atender.

— Alô?

— Sou eu.

Um suspiro de alívio antes da bronca:

— Corvo, graças a Deus. Onde é que você se meteu? Por que é que tô vendo o código da Índia no meu visor?

— Estou na Índia.

— Você tá o quê? Que maluquice é essa? Tá fazendo o que aí?

— É uma história longa. Tudo certo aí? — perguntei, andando de um lado pro outro no meu quarto de hotel, em um estado de ansiedade aguda.

— Bem. Isa e eu conseguimos tirar a polícia da nossa cola. Olha, os caras de Érebos estão bem putos pelo seu sumiço.

Cocei a barba.

— Eu descobri quem me delatou. Foi o pai da indiana. Ele pagou um advogado para Théo e André e depois fez um acordo com a polícia. Ele ficou com toda a cocaína e a polícia com provas que me incriminam. Esse era o sonho deles o tempo todo, não?

Quase pude ouvi-la ranger os dentes.

— Que desgraçados! Como vamos sair dessa? Se a polícia tem coisa contra você, será difícil contornar. Os antigos líderes costumavam comprar o silêncio deles. Fará isso?

— Eu pensarei em algo. Preciso que faça duas coisas por mim.

— Só mandar.

Me sentei na cama.

— Descubra o paradeiro da primeira-dama e se ela estiver com um dos meus, é porque ainda tenho homens de confiança ao meu lado.

— Considere feito. E a segunda?

— Isso será um pouco mais difícil — atentei. — Preciso que investigue um nome para mim.

— Qual?

— Manish.

— Não tem um sobrenome?

— É por isso que eu disse que seria difícil.

Ela suspirou e a imaginei tirando o esmalte das unhas como sempre fazia quando estava pensativa.

— Quem é esse? — perguntou não muito depois.

— É um indiano. O namorado da Farah ou algo assim.

— Por que quer investigá-lo? — soou desconfiada.

— Algo nele não me agrada.

— E quem é que o agrada, corvo? — questionou, maquiando a provocação. — Tem certeza de que não está só com ciúmes da indiana? — A indagação foi feita em uma atitude pouco madura em uma fantasia fixada há semanas na sua cabeça.

— Não delira. — Fui agressivo antes que ela deixasse essa perturbação corriqueira se estender. — Só faça o que estou pedindo.

— Por que não pergunta diretamente para a indiana?

— Farah está apaixonada e burra demais para enxergar.

— A entendo — balbuciou. — Bem, há alguma informação pertinente para me ajudar na busca?

— Ele tem uma cicatriz no lado esquerdo da cara. Uma espécie de queimadura.

— Beleza. Devo ter tudo em dois...três dias, no máximo. Qual será seu próximo número de contato?

— Estou te enviando agora — falei, me referindo ao nosso canal de contato secreto na deep web.

— Recebido.

A ouvi se espreguiçar.

— Se estivesse aqui, você não estaria com sono — falei, malicioso ao extremo. — A faria despertar em chamas.

— Faria isso com a língua?

— Algo assim.

— Acho que devíamos chamar Isa para essa conversa — ela sugeriu, ousada.

— E eu acho essa uma excelente ideia.

***

Encerrei a conversa prazerosa com Isa e Juh e me preparei para ligar pros gêmeos antes de dormir.

Matt atendeu no segundo toque.

— Graças a Deus. — Resumi minhas emoções naquelas poucas palavras.

— Graças a Deus digo eu, seu corno — esbravejou Matt. — Ficou de nos ligar dia seguinte!

— Vamos deixar as cavalices pra depois. Como foi lá? Estão onde?

Houve um minuto de incerteza. Então Marvin tomou o celular do irmão e disse:

— Tô botando no viva-voz. Deu sim, mano. Você não tá nem ligado. Os caras pegaram as caixas de sardinha como você havia previsto, né, e foram embora.

— Como assim foram embora?

— É. A polícia apareceu e tivemos que sair a milhão — respondeu Matt, feito uma cigarra agitada.

— Apareceu? Alguém foi preso?

— Ainda não sabemos — falou Marvin.

— Vocês precisam deixar a Grécia. Esses tipos de caras não gostam de serem enganados.

— Relaxa, mano. — A teimosia foi de Marvin. — Mas, e aí. Achou a indiana?

— A desgraçada traiçoeira você quis dizer? Achei. — Expressei minha indignação e fechei os dedos em punhos.

— Isso por alguma razão não me parece bom — brincou Marvin. — O que ela fez?

Eu ainda não diria sobre minha suspeita de Farah ter sabotado a arma e nos colocado em um risco ainda maior sem ter certeza, também não revelaria sobre o Yen. Eles achariam que eu estava escondendo informações deles por outra razão além de sua segurança.

Me contentei com:

— Deu uma joelhada no meu saco. — Ouvi as gargalhadas intoxicadas de maldade.

— Me parece que a indiana não está muito animada em reencontrá-lo, cara — zombou Matt e devia ter um riso vivo e alegre mascarado na face.

— Conhecem a porta do inferno ou querem que eu apresente? Bando de desgraçados!








— Conhecem a porta do inferno ou querem que eu apresente? Bando de desgraçados!

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O Corvo das Ilhas Gregas (DEGUSTAÇÃO)Where stories live. Discover now