Capítulo 48

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Farah

Eu chorei.

E chorei mais um pouco.

Eu chorava naquela terça-feira tudo que não chorara toda a vida. Só que, agora, eram lágrimas de alívio que pingavam dos meus olhos.

Eu estava certa. Por sorte o reconheci.

Aquele detonador remoto que Raj pressionava era o que eu havia construído com o circuito interno disfuncional impedindo que ele passasse corrente para o C4 e explodisse. Eu bem que imaginara que eles encontrariam o detonador e usariam a bomba que eu criei.

Na confusão do momento, Raj pressionou e soltou o botão por mais três vezes, atônito.

— Não funcionará. Está desativado — avisei.

Damon agiu rápido e avançou sobre ele antes de dar oportunidade ao outro de sacar sua arma. A briga foi pro chão e socos foram deferidos por ambas as partes. O indiano apanhava, no entanto, a luta também não estava nada fácil pro corvo.

Os dois se levantaram e Raj foi feito um selvagem para cima de Damon, fazendo suas escapulas colidirem contra a parede e finalizou com uma cabeçada no nariz. O sangramento foi quase instantâneo.

Damon estava apanhando porque o outro era maior e mais forte que ele, ou, quem sabe só estivesse com mais ódio na ocasião.

Olhei para todos os lados daquele corredor. Eu precisava ajudar Damon e ignorar tudo que minha religião dizia sobre agressões. Eu não me adjetivaria de covarde.
As vezes precisamos fazer algo ruim pra fazer o certo.

Meu instinto de proteção entrou em desespero e fiz o que nunca imaginei. Eu me pendurei em Raj e o mordi no pescoço, o desestabilizando. Ele se sacudiu na tentativa de me derrubar, mas meu anseio individual de sobrevivência era mais insistente que o meu oponente.

Os berros, chiados, vinham de nossas bocas com sangue.

Eu me soltei quando pude perceber que minha ajuda fora o bastante para Damon conseguir reagir e voltar a liderar a briga. Com o punho fechado, foi com a velocidade da cólera na têmpora de Raj e o levou desacordado pro chão.

Depois, no estilo de uma pantera negra, se posicionou sobre o indiano desmaiado, o ergueu pelo colarinho e foi com um murro no rosto dele, revelando sua insanidade em massa.

Contei quatro pancadas.

E ele queria mais, o rilhar doentio dos seus dentes dizia isso.

Demonstrara cada vez mais afastado do seu eu interior ou talvez estivesse mais perto de quem era de verdade.

— Damon, temos que ir — o alertei, embora sua versão descontrolada o impedisse de me ouvir. —  Damon!? — Tive de pressionar sua espádua com intensidade para me dar atenção. — Ainda temos uma bomba perdida!

Ele finalmente libertou Raj. Cuspiu sangue no chão, limpou o nariz machucado com o dorso da mão, e se levantou.

— Ele ainda tá vivo — reparou.

— Tudo bem, podemos prendê-lo em alguma sala e quando encontrarmos a terceira bomba, eu tentarei disparar o alarme daqui. Dessa forma quando a polícia chegar encontrará Manish e ele.

— Eu não entro em uma briga para ferir o inimigo, entro para matá-lo — o brilho dos olhos foi bestial. — Acha que deixou sua digital em alguma bomba?

Balancei a cabeça.

— Eu sempre me precavi.

— Ótimo. — Seguiu o caminho inverso ao que recomendei. Pegou a arma de Raj no chão e disparou contra a cabeça do indiano sem piscar. Não tive estômago para ver o resultado final. — Se ele ficasse vivo levaria a polícia até você.

O Corvo das Ilhas Gregas (DEGUSTAÇÃO)Where stories live. Discover now