Capítulo 64

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Corvo
Hades pedira por um encontro comigo naquela quarta-feira de manhã. Ele dissera ter informações importantes.

Eu me dirigia despreocupadamente até a sala de reunião quando ouvi uma gargalhada estridente vindo de lá de dentro. Daí em diante eu só marchei. Marchei batendo as botas no chão com força.

Isso será divertido...

Empurrei a porta e vi a traiçoeira sentada sobre a mesa de vidro com as pernas cruzadas de modo a permitir que Hades tivesse um vislumbre generoso das suas coxas.

Coxas aquelas que mordi, marquei, e morderia de novo.

— O que faz aqui!? — A questionei, sem dar espaço para gracinhas.

— Descobri que ele fala inglês — respondeu-me sem saltar da mesa.

— Sim, ele fala. — Sentei-me na minha cadeira, de olho em suas pernas.

— Devo deixá-los conversar agora.

— Não. Fique. Você é uma bela paisagem aqui. — A deixei sem saber como reagir. — Hades, diga, por que me ligou?

Ele tossiu para se desengasgar.

— Há um outro grupo que começou a fazer o que a gente faz. Tem causado um inferno pela cidade. Se chama Âncora. Eles têm recrutado uns caras e em um desses recrutamentos, eu fui convidado através de uma carta. Disseram que pagariam o dobro do que o senhor me paga, mas eu recusei — enfatizou. — Acho que querem destruir você e roubar tudo o que tem. Precisa ficar de olhos abertos.

— Eles mataram o cachorro? — Farah se intrometeu.

— Sim.

— Estiveram na festa que dei.

— Não teve uma lista de convidados? — Farah questionou a mim, perplexa.

— Não me subestime. Eu cumprimentei os convidados diretamente, conheço cada voz e cada olhar. Não houve um invasor e por isso afirmo que há um infiltrado entre nós. Um dos membros traiu Érebos e está com a Âncora. É a única forma de terem conseguido entrar aqui e matar o meu cão.

— Hades não faria isso, faria? — A indiana surpreendeu-nos, empalidecendo o homem.

— Eu não teria o porquê de fazer. Precisávamos de alguém destemido na liderança e Damon nos dá isso.

Agradeci o elogio em um aceno de cabeça.

— Terminamos aqui, Hades. O chamarei novamente quando achar necessário.

Ele empurrou a cadeira, se levantou e foi embora sem se despedir. Era um sujeito chucro.

— O que vai fazer? — Farah perguntou-me ao descer da mesa. Cansada de ser uma fonte de admiração.

Passei os dedos pelos lábios, reflexivo.

— Combater fogo com fogo.

— Não é perigoso? Você não sabia nada sobre a Âncora até meio segundo atrás.

Dei um sorriso de canto que deixava claro que o risco não me assustava.

— Você devia verificar a veracidade das coisas que Hades disse antes de tomar alguma providência.

— Você gosta disso, não gosta?

— De quê?

— De ser o gatilho que faz todos obedecerem. Gosta de mandar, de nos ter como apenas um brinquedo em suas mãos.

— E-eu não...

— Ele não está mentindo — a cortei. — Eu o conheço a tempo suficiente para saber que esses tipos de joguinhos não são da alçada dele. Inclusive, se tem intenção de trepar com ele, eu já ouvi coisas sobre seu bastão.

Ao invés de corar, ela começou a sorrir.

— Eu dou conta.

Arrancou uma risada minha com sua anedota obscena.

— E de dois?

Dessa vez suas maçãs ruborizaram levemente, mas os olhos brilharam com malícia enquanto seu corpo atravessava a porta.

Não a impedi de partir.

Eu tinha um problema para resolver e não permitiria que meu cérebro dispersasse.

Alguém dentro de Érebos estava tentando me derrubar e tomar tudo o que era meu.

Eu precisava de um plano...

Aliás, talvez eu já tivesse um.


Aliás, talvez eu já tivesse um

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O Corvo das Ilhas Gregas (DEGUSTAÇÃO)Where stories live. Discover now