Capítulo 54

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Corvo
— A mulher que estava com você, qual o nome? — Ele repetiu pelo que devia ser a quinta vez.

— Não sei do que está falando — segui mentindo.

— Nós pegamos você e pegaremos ela também. Não adianta tentar protegê-la!

Contabilizava mais de quatro horas que eu estava na delegacia depois de ter sido pego pela polícia na rua. O maldito policial que eu permiti escapar com vida me localizou e aconteceu o previsto. Fui levado como um criminoso qualquer.

Parei de me balançar na cadeira, me inclinei, e apoiei as mãos algemadas sobre a mesa branca e fria na sala de interrogatório. Justificaram as algemas por minha atitude violenta com o outro lá.

— Eu não sei do que estão falando. O policial que te contou sobre isso devia estar sob efeito de alucinógenos — caçoei.

— Sr. Sartori — fui chamado pelo nome que constava no documento falso. Como a minha biometria não estava cadastrada no banco de dados internacional eles ainda não tinham descoberto que a identidade não era verdadeira. Claro que se caçassem com mais afinco encontrariam de tudo —, por que não admite seu envolvimento no tiroteio da estação? É uma questão de tempo até que consigamos provas.

— Eu não poderia estar em dois lugares ao mesmo tempo. Ou me culpa pelos assassinatos no Taj Mahal ou pelo tiroteio. Decida-se.

Eu estava fazendo o investigador perder a cabeça com o meu descaso.

— Então admite que matou os dois indianos?

Ora, então eles também não conseguiram uma ligação entre mim e os dois mortos? Era tudo um blefe?

Bocejei.

Quanto tempo levaria até que meu advogado chegasse na cidade?

— Não sei nada sobre isso. Tudo o que descobri foi através de você. — Pendi o pescoço para frente e fitei o indiano com firmeza. — Sabe o que eu acho? Acho que vocês não gostam de estrangeiros e estão procurando qualquer bosta para me incriminar.

O comentário ofensivo o intrigou. Notei que aquele vinco marcando o centro da sua testa se aprofundou.
Ele recolheu as fotografias dos corpos que tinha apresentado para mim na tentativa de me fazer confessar; eu não caí no jogo.

— Encontraremos algo que nos leve até você e quando isso acontecer, Sartori, tirarei esse sorriso presunçoso do seu rosto.

Bateram à porta antes que eu pudesse me passar por louco ou enlouquecê-lo ainda mais.
Um policial a abriu e, ainda segurando na maçaneta, disse:

— O advogado dele está aqui.

O advogado caucasiano entrou com uma postura que fazia parecer que a autoridade era ele e os policiais meros subordinados.

— Tire as algemas.

— Ele está sob investigação — rebateu o investigador.

— Isso não o torna uma ameaça.

— Seu cliente agrediu a um policial.

— Supostamente agrediu.

— Está nos chamando de mentirosos?

— Sartori, como você se declara diante essa acusação? — perguntou-me o advogado.

— Inocente.

— Como pode ver, o meu cliente se intitula inocente.

— A palavra do policial tem fé pública, além disso, meu policial está coberto por hematomas.

O Corvo das Ilhas Gregas (DEGUSTAÇÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora